Profissional dedicado, surfista fissurado

0

Alexandre Miranda é só alegria em mais uma temporada havaiana: já são 13 na carreira do free-surfer paulistano. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

O paulistano Alexandre Miranda é um exemplo perfeito de surfista fissurado da capital.

 

Aos 35 anos, o prestigiado diretor de filmes publicitários tem uma agenda corrida e, como qualquer executivo de ponta, pouco tempo para o lazer.

 

Mas o desejo de estar sempre perto do mar e das ondas fala mais alto e sempre que possível, entre reuniões importantes, ele escapa para um bate-volta nas ondas do Guarujá, a 50 minutos de São Paulo.

 

Casado e pai de dois filhos, Kalani e Ryan Kainalo, Miranda é figura conhecida em Ubatuba, litoral norte paulista, onde construiu sua casa e passa os finais de semana com a

Com agenda apertada, o diretor de comerciais faz de tudo para surfar, nem que seja de noite: nesta foto, iluminado pelo flash em Fernando de Noronha. Foto: Anselmo Venansi (Cachorrão).
família ? seus pais são donos do badalado quiosque North Shore, na entrada de Itamambuca.

 

Depois de morar um tempo na Europa e no Hawaii, levando uma vida de subemprego e muito surf, ele voltou para o Brasil e deslanchou na carreira de diretor de clipes musicais e filmes publicitários.

 

Produziu mais de 60 clipes de diversas bandas e músicos para a MTV, foi medalha de ouro no Festival de Nova Iorque, finalista do MTV Music Awards e dirigiu comerciais para várias grandes empresas, como Coca-Cola, Gatorade, Fiat, Mitisubishi, entre outras.

 

Sem perder o pique, foi campeão ubatubense Sênior em 2004 e no ano passado foi vice-campeão Master do circuito Maresia SP Contest, exclusivo para surfistas da capital paulista.

 

Ainda em 2005 ele surpreendeu ao passar uma fase no disputado WQS de Fernando de Noronha, em que competiu apenas para ter a chance de surfar o pico com mais três surfistas na água.

 

Miranda também está à frente de um documentário sobre surf e ondas grandes em parceria com Rodrigo Resende, Danilo Couto, Yuri Soledade e outros big riders brasileiros que promete chamar a atenção.

 

Com 13 temporadas havaianas na bagagem e inúmeras outras surf-trips no currículo, na primavera havaiana deste ano ele bateu um papo com o correspondente Waves no Hawaii Bruno Lemos, de quem é amigo pessoal, e falou mais sobre sua vida – que também daria um interessante documentário.

 

Clique aqui para ver galeria de fotos de Alexandre Miranda

 

 

##

 

Família reunida em Haleiwa, Hawaii: a esposa Renata, Alexandre e o filho Kalani. Foto: Arquivo pessoal Alex Miranda.
Para aqueles que não te conhecem, fale um pouco da sua vida.

 

Sou um típico surfista da capital paulista, casado e pai de dois filhos: Kalani e Ryan Kainalo. Sou diretor de comerciais para televisão e meu ritmo de trabalho é bem pesado. Se tivesse nascido rico só pegaria onda. Sempre viajei para surfar e o único continente que não surfei é o australiano. Amo surfar e dirigir filmes.

 

Quando você morou no Hawaii, trabalhamos juntos no famoso “Swap Meet” (espécie de mercado ao ar livre). Como foi essa experiência e a transição de um subemprego na América para diretor da MTV e depois de comerciais no Brasil?

 

Jeffreys Bay, na África do Sul, é um dos inúmeros destinos visitados pelo surfista. Foto: Arquivo pessoal Alex Miranda.

É aquela velha história, o Hawaii sempre foi um sonho. E bem caro! Depois de passar uma temporada em 90 na Europa competindo no EPSA (European Professional Surfing Association) ao lado do meu amigo Rogério Alemão, decidimos que era hora de rumar para o arquipélago havaiano. Fomos até o consulado americano em Portugal de calção e chinelo e cada um saiu de lá com o temido e cobiçado visto americano. Voltei para o Brasil, arrumei um emprego na indústria do cinema publicitário e cheguei no Hawaii em dezembro de 92, naquele estilo ?durango kid?, pois minha primeira temporada trabalhando nos filmes foi de flanelinha de estúdio, muita experiência e pouca grana… O bastante para trabalhar um ano, ajudar meus pais com as contas da casa, comprar meu bilhete, fazer uma 6?8 e chegar no Hawaii com US$ 800… Nada mal? Tudo mal!

 

Minha vida sempre foi de filme, com ou sem dinheiro, sempre em alto estilo. E minha chegada no Hawaii não poderia ser diferente. Já que estava lá e a grana duraria pouco mesmo, resolvi gastar tudo em uma semana: carro alugado, apartamento em Sunset e zoeira total. Acabou o dinheiro e fui parar na feirinha do Aloha Stadium às 5 da manhã tentando arrumar um trabalho. Para a primeira pessoa que perguntei, consegui! Foi inacreditável. Voltei com US$ 60 pra casa e trabalhando três vezes por semana faturava US$ 720 por mês. Estava resolvido, ficaria no Hawaii durante um ano. Trabalharia três dias por semana e o resto era surf. Ali aprendi a viver o céu e o inferno. Voltei no Natal de 94 para o Brasil e recebi um telefonema para dar uma força em um filme.

 

Foi um atrás do outro e fui fisgado pelas filmagens novamente. Mas algo na minha carreira foi muito importante: o foco em um objetivo. Eu tinha certeza que seria diretor de comerciais de TV. Então, um dia fui apresentado ao Turco Loco (deputado estadual Alberto Hiar), que na época era dono da marca Vision Street Wear. Ele queria fazer um vídeo com as bandas que patrocinava e misturar skate e bike. Foi meu primeiro trabalho como diretor e conheci várias bandas, como Sepultura, Pavilhão 9, Raimundos, Ratos de Porão, etc… Então fui convidado para dirigir um clipe do Pavilhão 9 que fez sucesso e foi exibido no Fantástico. A Globo me entrevistou, depois o clipe foi finalista do MTV Awards Brasil e da noite para o dia virei o diretor de clipe do momento. Ganhei vários prêmios na MTV com clipes do Charlie Brown Jr, Sepultura, Pavilhão 9, Câmbio Negro, além de ter filmado com Ivete Sangalo, Inner Circle, Zeca Baleiro, Raimundos, Gabriel Pensador, Sandy e Jr. Até Rodolfo e E.T. eu fiz… Realizei mais de 60 vídeos para a MTV. Vida ?lôka?, mano!

 

Com que freqüência você surfa atualmente?

 

Surfo direto em Itamambuca, Ubatuba, litoral norte paulista. Lá construí minha casa, meu quartel general em cima do morro com vista pro pico. Sou viciado em surf desde os sete anos de idade e até hoje faço qualquer loucura por um bate-volta para o Guarujá entre as reuniões em São Paulo. Mesmo com 35 anos quero estar sempre no rip. Em 2004 fui campeão ubatubense Sênior e no ano passado fui vice-campeão Master do circuito Maresia SP Contest. Adoro competir. Estarei sempre lá.

 

Clique aqui para ver galeria de fotos de Alexandre Miranda

 

 

##

 

Kalani e o pai Alex Miranda no Hawaii. Foto: Arquivo pessoal Alex Miranda.
Quantas surf trips você já fez até hoje?

 

Fui nove vezes para o Peru, tenho 13 temporadas havaianas, dez em Puerto Escondido, duas em Mentawai e Jeffreys Bay e morei oito meses surfando toda a costa atlântica européia, inclusive Mundaka.

 

De alguma forma o surf te ajuda ou te inspira profissionalmente?

 

O surf ensina muito e a competição no surf também. Fazendo um comparativo com a
vida, uma onda nunca é igual à outra. Como na vida, a gente tem que esperar por
dias melhores, basta ter fé.

 

Miranda mostra a importância do básico no surf neste cutback redondo em Rocky Point, North Shore de Oahu. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

A travessia da arrebentação furando as ondas me dá gana de viver e a plasticidade das cores de um belo dia de surf me dá energia e bom gosto na direção de arte. A competição ensina que nem sempre podemos vencer, mas às vezes viramos o jogo no último minuto. O surf é pura poesia e meu trabalho para ter sucesso tem que ter magia. Aprendi muito com o surf. Traduzo tudo isso em duas palavras: perseverança e magia.

 

Entre os projetos que realizou, quais marcaram mais?

 

Bem, no início foram os clipes, os prêmios e as grandes festas da MTV. Depois, na transição para a publicidade, as primeiras campanhas que realizei para a C&A na virada do milênio, medalha de ouro no festival de Nova Iorque em 2001, campanhas para a Coca-Cola Company com veiculação em mais de 54 países, os filmes com o E.T. do portal Terra, Embratel, Gatorade, Fiat, Mitisubishi, Telefônica… Tem sido uma carreira intensa, é difícil acostumar com essa realidade. Os compromissos profissionais são de imensa responsabilidade.

 

Com toda essa experiência em documentários e filmes, você pretende realizar algum projeto nessa área ligado ao surf?

 

Com certeza este momento está chegando. Para quem não sabe, você, Bruno Lemos, detém um dos maiores arquivos de ondas grandes do planeta. Estou engajado com a galera Feeling Crazy, encabeçada pelo Monster (Rodrigo Resende), Danilo Couto (o backside mais insano de Jaws), Yuri Soledade e toda a galera que despenca as morras mundo afora, na produção de um documentário de ondas grandes já em fase adiantada de edição. Com depoimentos de Peter Cole e outras personalidades do big surf. Ao que tudo indica no fim do ano deve estar pronto. Será um documentário para rodar festivais e não ser apenas mais um programa de surf.

 

Você é comentarista assíduo do fórum do Waves. Com que freqüência navega na internet e no site Waves.Terra?

 

O Waves é alucinante, sem babar o ovo de ninguém. Sempre atualizado, acabou a bateria em Bell?s lá na Austrália no domingão e a matéria já entra na seqüência. Sempre consulto o Wavescheck antes do bate-volta pro Guarujá. Durante minhas viagens pelo mundo vejo a galera consultando o site e se informando. O fórum é muito engraçado, tem pessoas que sempre estão lá e metem a boca em tudo. Mas no fundo sempre é válido, a gente sente que neguinho respira surf. O Waves foi uma revolução na mídia do surf e atropelou as revistas.

 

Deixe um recado para os internautas.

 

Minha mensagem é que lutem por seus objetivos e sempre tenham um foco, uma linha de chegada. Sofri muito preconceito no início da minha carreira por ser surfista, muitas vezes enfrentei o descrédito dos clientes. Mas o que fica é o resultado final e a qualidade. Estilo e honestidade fazem o profissional. E para a galera que está começando a surfar, não esqueça que antes de aprender a dar um aéreo você tem que aprender a dar um belo cutback. Abraços.

 

Clique aqui para ver galeria de fotos de Alexandre Miranda