Crime contra a natureza no Nordeste

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#Em meados de dezembro passado, o advogado ambiental Henrique César Magalhães de Sylos recebeu uma denúncia proveniente de um órgão pesqueiro da Paraíba, dizendo que seis baleias adultas e quatro filhotes do tipo cachalote haviam sido metralhadas em alto-mar, na divisa dos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte.

O fato ocorreu dentro do limite de milhas náuticas brasileiros, um pouco depois do horizonte, por navios que possuiam artilharia de médio e grande porte.

Segundo Henrique, registrar o fato não foi fácil. A expedição foi denominada “Expedição Baleia Metralhada (EBM)” e organizada pelo próprio advogado.

“Como as baleias cachalotes poderiam parar em qualquer lugar da costa, trazidas pela ondulação sudeste, organizamos uma expedição imediata para registro e localização dos ‘corpos’, e também para confirmar a causa mortis”, explica ele.

#A EMB foi organizada em rápidos cinco minutos e contou com os seguintes integrantes, que partiram de João Pessoa, na Paraíba:

– Henrique “Chazan”, 32 anos, advogado, surfista e aluno do mestre Flávio Behring;
– Alexandre “Tobi”, 23 anos, montain biker profissional e guia turístico;
– Marcelo “Pé na cova”, 21 anos, analista de sistemas;

“Percorremos 159 quilômetros pela costa litorânea em cima de bicicletas, a distância entre João Pessoa e a praia da Pipa (RN), onde constatamos e registramos, na praia de Sagi, a denúncia”, explica Magalhães.

“Conversamos com militares, biólogos, pescadores, mergulhadores e atiradores de elite, e pudemos confirmar que a baleia foi atingida por projéteis de calibre 12 M-16, ou seja, armas de poder exclusivo das forças militares. Mas sabemos que marinheiros brasileiros jamais atirariam em baleias ou outros animais”, afirma.

Segundo ele, o mais frustrante foi que três grandes empresas editoriais foram procuradas para divulgar o fato, sendo que duas não deram a menor atenção ao fato.

“Essas editoras se dizem ecologicamente corretas e ainda oferecem prêmios e dizem que se preocupam, (ou mascaram que se preocupam com a ecologia deste país e no mundo para vender mais revistas), com questões que envolvem animais em extinção. Para quem não sabe, as baleias cachalotes ainda estão classificadas como animais em extinção”, conta indignado.

#”Consegui as mandíbulas das baleias como prova de que elas foram destroçadas por tiros. Fiquei dez dias sem dinheiro, porque lá não tem caixa eletrônico, emagreci cinco quilos em 10 dias, porque comia o que a natureza oferecia até chegar ajuda da Paraíba. Comíamos apenas jambo, manga, mamão e caju. O café da manhã era sempre patrocinado pelos locais de Pipa, Dinho e Nininho, bem como Felipe Dantas, Marcelo Nunes e outros surfistas”, conta.

Uma das revistas procuradas pelo advogado foi a Veja, da editora Abril, e o material foi enviado aos cuidados do editor da revista Cley Scholz e para o seu correspondente em Belém (PA).

Magalhães conta que o email enviado a Veja foi com cópia para as outras revistas. Em conversa pelo telefone com Cley Scholz, o editor disse para ele “tentar a sorte” com as outras revistas.

“Questionei se ia ficar por isso mesmo e a reposta foi ‘sim, vai ficar por isso mesmo’, e em seguida desligou o telefone”, conta.

A segunda revista procurada foi a Época, da editora Globo. “Expliquei o fato minuciosamente para o editor Fábricio Marques e até hoje espero um retorno”, diz.

Sobre a terceira editora, Magalhães prefere manter segredo, pois foi a única que lhe deu um retorno pedindo mais provas e dizendo para aguardar um novo contato.

#”É um absurdo as grandes empresas editoriais estão mais interessadas na parte comercial do que em realmente investigar um crime ecológico, e ainda por cima contra a soberania nacional. Um crime que envolveu dez baleias que nunca fizeram nada para o ser humano, a não ser embelezar os oceanos com seus cantos e sofreram uma verdadeira chacina”, indigna-se o advogado.

Para obter mais informações sobre o acontecimento, entre em contato com Henrique no e-mail [email protected] .