Tubarões apavoram galera

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#O ano era 1992 e o surf explodia em Pernambuco. O Estado estava realmente em alta nas competições, chegando aos pódios de campeonatos estaduais, regionais e mesmo brasileiros. Uma escolinha de surf com aulas ministradas pelo diretor-técnico da ASPE (Associação de Surf de Pernambuco) se encarregava dos novos talentos com duas turmas diárias, manhã e tarde.
Tudo caminhava para que o surf pernambucano se consolidasse como o melhor do País. Até que aconteceu o inesperado. Um tubarão de quase 2 metros atacou a perna de um bodyboarder, bem em frente ao Acaiaca, pico mais freqüentado pelos surfistas de Recife.
O alarde foi geral, mas o surf não parou. E aí veio o segundo ataque. O estudante de medicina Albano Gomes Dias Filho, de 25 anos, foi mordido na batata da perna direita por uma fera de mais de 2 metros. Albano contou que surfava sozinho no Acaiaca e chegou a ver um grande peixe por perto.
“Senti também um cheiro de melancia e fiquei o tempo todo deitado na prancha”, afirmou. Ao cair numa onda, o estudante sentiu um tranco na perna e se agarrou à prancha para não ser arrastado para o fundo.
Foi quando sentiu que sua perna seria dilacerada. Por milagre o bichano aliviou a mordida e Albano conseguiu remar em direção à praia. O tubarão ainda tentou abocanhá-lo novamente, incentivado pela enorme quantidade de sangue espalhado na água.
Albano foi logo socorrido e levado ao hospital. O caso teve grande repercussão e atraiu a atenção das autoridades locais.
Os ataques continuaram até que o governo proibiu a prática do surf nas praias de Recife, colocou placas de sinalização em toda a orla ? nenhuma delas sinalizando a presença de tubarões ? e orientou a polícia e o corpo de bombeiros a apreenderem pranchas dos infratores.
O engenheiro de pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Fábio Hazin, aponta como principal causa dos ataques no litoral pernambucano a construção do porto de Suape, que desviou a rota dos navios e aumentou o tráfego marinho.
Segundo Hazin, os tubarões acompanham os navios até se aproximarem de Suape, de onde seguem através de um canal em direção às praias do Paiva, Piedade e Boa Viagem.
Entre as duas últimas, existe um recife a cerca de um quilômetro da costa, com grande população de arraias ? um dos alimentos preferidos pelas feras. Os tubarões acabam permanecendo no local e atacam os surfistas, que geralmente passam muito tempo dentro d?água.
Passaram-se seis anos, os ataques diminuíram, outros foram abafados e o problema persiste, comprometendo o surf na região. Afinal, qual pai daria para o seu filho uma prancha para deslizar nas ondas da praia de Boa Viagem?
Recentemente, no mês de julho, o surfista Rodrigo Menezes, de 16 anos, foi atacado por mais um tubarão no pico do Espanha, em Boa Viagem. O caso foi parar na televisão, em horário nobre, e o garoto, que não teve ferimentos tão graves, está em fase de recuperação para voltar às ativas.
É o surf circulando nas veias.