Todos nós, surfistas, já passamos pela experiência desagradável de “levar um belo caldo”. A sensação de “falta de ar” nos remete a idéia de que naquele momento de angústia nosso oxigênio (O2) está acabando. Entretanto, a sensação de falta de ar que sentimos durante um caldo ou simplesmente durante uma suspensão voluntária de nossa respiração, não é proveniente do decréscimo do oxigênio em nosso organismo, ao invés disso, esta sensação é primariamente produzida pelo acúmulo do gás carbônico (CO2) em nosso sangue.
Ora, isso quer dizer que a medida em que nos debatemos embaixo da água e utilizamos nosso O2, produzimos CO2, e é esse mesmo CO2, que estimulará uma área em nosso cérebro, (conhecida pelo nome de Bulbo), a emitir os primeiros sintomas da falta de ar: ficamos com “vontade” de respirar, e se não o fizermos logo, nossos músculos respiratórios começarão a contrair-se involuntáriamente até que abriremos a boca e repiraremos de forma reflexa, o que pode causar um afogamento.
Como o CO2 em excesso é tóxico, o nosso organismo sente necessidade de eleminá-lo antes mesmo de renovar o O2 em nossos pulmões. Logo, a famosa sensação de “falta de ar” não é produzida pela diminuição do O2 no organismo, mas pela produção e não eliminação do CO2 paralelamente produzido.
E em que essas informações podem ajudar aos surfistas interessados em dropar a maior da série ? É interessante saber que a sensação de falta de ar aparece muito antes do nosso estoque de O2 realmente chegar ao fim. Via de regra, aos primeiros sintomas de falta de ar, ainda temos em nosso sangue uma quantidade de oxigênio suficiente para ao menos 1 minuto de submersão.
O conhecimento teórico desses fatores do controle respiratório, associados a alguns exercícios práticos que em breve estaremos descrevendo, pode melhorar muito a capacidade de submersão do surfista, o que aumentará sua auto confiança para se arriscar com mais segurança em uns “drops mais insanos”. Por hora ficam os seguintes conselhos:
A) Tenha consciência de que os primeiros sintomas de falta de ar são facilmente controlados caso você não entre em pânico. É tudo uma questão de treino.
B) A ordem durante o caldo é: Solte o corpo ! Não contraia seus músculos ! Deixe a turbulência passar e economize seu O2, pois procedendo desta forma, você não produzirá muito CO2, e dessa forma prorrogará seu tempo de apnéia.
C) A informação acima não deve ser sempre seguida ao pé da letra. Em algumas situações como por exemplo uma “vaca” em Puerto Escondido, é fundamental que você enrijeça seus músculos para se proteger do primeiro impacto da onda, pois nessas situações, se você soltar o seu corpo quando o lip está vindo ao seu encontro, pode não morrer afogado, mas será partido ao meio com facilidade. Logo, aqui a regra é; enrijeça ao primeiro impacto e depois deixe-se levar…