#O californiano Joel Tudor, de 25 anos, campeão mundial em 98 e considerado um dos melhores longboarders do mundo, anunciou que este será seu último ano no recém-criado circuito profissional da categoria, o World Longboard Tour.
Joel certamente foi umas das pessoas que mais contribuíram no desenvolvimento do esporte após seu ressurgimento, no início dos anos 90. Nesta época, aos 14 anos, ele foi vice-campeão mundial profissional após perder a final da primeira edição do Oxbow World Longboard Championship, em Biarritz, França, para o norte-americano Joey Hawkins.
Desde o início de sua carreira, quando era um garoto magro e franzino, ele já possuía um estilo inconfundível, suave e totalmente baseado nas raízes do longboard, mas ainda não tinha experiência em competições.
Certa vez, num campeonato na Califórnia, Joel andou muito no bico, em hang-tens intermináveis, e acabou ficando com a terceira colocação. Um amigo perguntou aos juizes o porquê, e a resposta foi que Joel havia ficado apenas no bico da prancha, enquanto o vencedor havia feito curvas fortes. Joel ficou triste, mas afirmou: “Não me importa quantas baterias irei perder, eu nunca irei mudar minha maneira de surfar”.
Pouco tempo depois Joel assinou contrato com a marca francesa Oxbow. Aí vieram o dinheiro, a liberdade, a fama e um estilo de vida irresponsável para um garoto, que quase arruinou sua carreira. Sua família então decidiu que ele deveria mudar-se para a Austrália e ficar sob a guarda do lendário Nat Young.
Nessa época, Joel já era considerado o melhor longboarder de todos os tempos e, ao retornar da Austrália, seu surf estava ainda mais polido. Joel começou então uma busca pela essência do longboard. Abandonou as pranchas triquilhas e começou a surfar em pranchas cada vez mais antigas, até chegar a uma monoquilha bastante antiga, na qual ficou surfando por seis meses. Depois deste período, a prancha já estava dominada e Joel vencia baterias com ela. Impressionado com a facilidade com a qual as pranchas antigas deslizavam, Joel entrou na sala de shape com seu mentor, Donald Takayama, para aperfeiçoar o design das pranchas antigas.
Muitas pessoas, na maioria longboarders progressivos, criticavam Joel dizendo que ele estava sendo arrogante e que era fácil surfar como ele. Mas, na verdade, estes longboarders levantavam as mãos para o alto quando ainda estavam a mais de um palmo do bico.
Em 98, nas Ilhas Canárias, Joel finalmente conseguiu o seu tão batalhado título mundial ao vencer na bateria final seu amigo Beau Young, filho de Nat Young. A partir daí ele entraria para a história do longboard e deixaria marcas que nunca mais seriam apagadas.
Joel, o que você acha do novo circuito mundial de longboard?
Parece ser bom, pois levou tanto tempo para que virasse realidade. Mas, infelizmente ESTE SERÁ MEU ÚLTIMO ANO COMPETINDO, pois estou fazendo isso há dez anos, desde que tinha 15 anos de idade, e agora perdi o entusiasmo pelas competições. Acredito que atualmente não preciso mais provar mais nada a ninguém, tive uma excelente carreira como profissional, consegui o meu título mundial e NÃO AGÜENTO MAIS MINHA VIDA NUMA MALA DE VIAGEM. Eu não quero dizer que isto é definitivo, mas existem tantas coisas que quero fazer atualmente… Tenho um irmão mais novo em casa que mal conheço, pois quase nunca estou lá. Dei minha alma e o meu tempo tentando dar ao longboard uma identidade e agora vejo o longboard retrocedendo. A maioria das pessoas que participam do circuito mundial não sabe realmente o que é ser um longboarder, ELES SÃO SHORTBOARDERS SURFANDO EM PRANCHAS DE NOVE PÉS.
Você acha que está faltando alma no surf de longboard?
Não é alma que está faltando. O que nós temos são shortboarders tentando fazer a sua vida no longboard, como numa segunda chance. Estes competidores precisam realmente estudar o que é longboard, precisam dar ao esporte a sua identidade. A ASP está fazendo um bom trabalho, eles nos fornecem uma boa infraestrutura, todo mundo está fazendo o melhor que pode, mas O CRITÉRIO DE JULGAMENTO É MUITO FALHO, É IDIOTA. Os seus patrocinadores concordam com a sua decisão?
Eles entendem. Para eles é dez vezes melhor que eu participe do Pipe Master, pois traz muito mais divulgação na imprensa. Para mim, continuar participando do circuito mundial de longboard é como lutar numa batalha que já está perdida. Eu me sinto mal de dizer isto, mas é a pura verdade. Eu não vejo a hora de chegar janeiro, quando eu estiver no North Shore sentado, assistindo o Pipe Master, e pensar: “Deus! Obrigado! Está terminado. Eu tive dez anos excelentes”.
Muitas pessoas criticaram o Tom Curren quando ele saiu do circuito mundial, dizendo que ele era estranho e excêntrico. Você acha que pode acontecer o mesmo com você?
Não, pois minha situação é bem diferente. TOM CURREN É UM RETARDADO SOCIAL, ele não tem habilidade social para começar uma conversa. Ele realmente precisa de seu espaço, eu não. Eu preciso apenas de um tempo para ter as coisas que preciso.
Você perdeu o prazer de surfar?
Absolutamente. Eu quero surfar o dia inteiro, minha vida é o surf. Apenas o meu estímulo para a competição acabou.
Você acha que o longboard deveria ter uma associação diferenciada?
Não. Nós somos a raiz do surf e devemos ter um bom espaço ao lado do circuito mundial profissional de pranchinha masculino e feminino. Nós não devemos ficar apenas com o resto que sobra. Eu tive muita sorte de participar dos campeonatos no início dos anos 90, com Nat Young. Naquela época as pessoas realmente se importavam com o longboard, havia mais pessoas nos eventos e mais dinheiro. É MUITO TRISTE VER COMO O LONGBOARD REGREDIU NESTE DEZ ANOS. Eu espero que os competidores percebam que eles estão afundando o próprio barco, pois eu vejo que isso está acontecendo. No longboard, nós temos um metro a mais de prancha que nos possibilita andar sobre ela e é isso que nos diferencia do surf de pranchinha. Se nós ficarmos surfando apenas na rabeta, iremos mostrar apenas que O LONGBOARD É PIOR QUE A PRANCHINHA, pois não realizaremos manobras mais radicais que eles. Nós precisamos usar a alma, o estilo e mostrar realmente o que é o longboard. Realizar eventos de longboard em picos de ondas grandes é um grande erro. Quem pensa que longboard é para ondas grandes está muito enganado. Longboard é para surfar em point breaks perfeitos que possibilitem mostrar toda arte de deslizar sobre os longboards e mostrar o quão diferente ele é da pranchinha. Eu surfo de longboard quando o mar está com cerca de um metro e meio. Em condições maiores, surfar de longboard pode ser como LUTAR COM UM DINOSSAURO OU SEGURAR UM CROCODILO. Existem equipamentos mais adequados para estas condições e sou esperto o suficiente para saber escolher o equipamento correto. A ASP também precisa entender isto. Outra coisa que me deixa louco é usar leash (cordinha). LONGBOARDERS NÃO DEVERIAM USAR LEASH, isso faria os eventos mais dramáticos, mais excitantes. Um atleta poderia perder sua bateria caso perdesse sua prancha. Existem tantos pequenos detalhes que eu acho que deveriam ser mudados… Noventa e cinco por cento dos atletas do circuito não entenderiam esta afirmação e é por isso que para mim acabou. Eu não tenho mais nenhuma contribuição a dar e agora é a minha vez.