Turco Loco encara a terceira onda eleitoral

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Turco Loco, Thomas Rittscher e Claudio Martins de Andrade durante a Surf & Beach 2002. Foto: Ricardo Macario.
Conheço o Turco Loco há vários anos, desde o meio dos 80, quando eu era empresário do Ratos de Porão e o encontrava no circuito sub de São Paulo. Naquele tempo ele era dono da rede de lojas Surf Combat e marcou época com sua publicidade underground, veiculada semi-clandestinamente pela TV Gazeta, no meio da madrugada.

 

Ele arrematava estoques encalhados e peças com pequenos defeitos das principais marcas de surfwear e revendia a preço de banana em liquidações-relâmpago no centro da cidade. Durante as gravações dos anúncios, criou no grito o personagem Turco Loco, à imagem do feirante que foi quando moleque.

 

Para quem fazia publicidade tosca feito o punk rock do Ratos, foi natural ele virar patrocinador da banda. Aí, já tinha a marca Vision na parada. Ele também apostou no Sepultura e se deu bem. Nunca uma banda de rock brasileira fez tanto sucesso internacional.

 

Ex-feirante, hoje ele despacha em gabinete da Assembléia Estadual de São Paulo. Foto: Ricardo Macario.
Enquanto a Vision crescia no segmento skate, não só em venda de produtos mas também como marca apoiadora e patrocinadora de campeonatos, Turco também deu atenção à galera hip-hop, como o rap maneiro do Câmbio Negro, de Brasília, do rapper X, o primeiro.

 

Por conta de sua articulação nos movimentos underground, lançou-se para a política, foi eleito suplente de vereador em 92,  assumiu o cargo em 95, foi eleito deputado estadual em 98 e agora busca a reeleição. Pai de três filhos, 37 anos, nesta entrevista ele diz que sempre teve que correr atrás. “Se eu achasse que era impossível fazer o que fiz, não teria feito”, garante o candidato.

 

 

Como a política seduz um empresário bem colocado no segmento skate-surf-music?

 

O que mais me seduziu foi ter a condição de trabalhar para o jovem e as propostas alternativas em que acredito. Quando comecei na vida pública, era comum ver rapper sendo preso. Hoje em dia, você não vê um rapper preso porque ele canta e passa aquilo que gosta – o que acredita ser verdade – nas suas músicas. Você observava skatistas tendo o skate apreendido. Atualmente isso também é uma coisa que não se vê mais.

 

Há cidades onde é proibido andar de skate e tocar rap, mas isso está mudando.
Hoje, você vê um campeão mundial de skate revelado em São Paulo. Acontece que a partir de 95 começamos a investir nos campeonatos de skate, incentivando a molecada. É lógico que temos talentos, demos sorte de ter o Bob [Burnquist]. As festas alternativas, antes taxadas de “festas de malucos”, hoje acontecem sem brigas nem incidentes. O cenário do rock também cresceu pra caramba porque damos apoio.
Só neste atual mandato realizamos mais de 300 eventos. Durante toda minha gestão política foram mais de 1.500.

 

De que consiste esse apoio?

 

Pode ser de logística ou de solicitações à Justiça, pedindo isonomia, quer dizer, o mesmo direito de tratamento perante todos os segmentos culturais. Isso porque, às vezes, em uma praça é proibido ter show de rock, enquanto show de forró pode.

 

Isso implica em utilização de verba pública?

 

Às vezes sim, outras não. Dependendo do evento, você tem uma liberação de verba pública, feita através de convênio entre a Secretaria de Cultura e Esportes, que passa pelo Ministério Público, para aprovação das contas, e ela vai direto para as associações.
O apoio logístico acontece, por exemplo, para fazer um campeonato mundial no Ginásio do Ibirapuera.

 

Quando iriam liberar o skate no Ginásio do Ibirapuera, que já recebe campeonatos importantes de basquete, entre outros? Nunca! Hoje em dia ali são realizados campeonatos de karatê, jiu-jitsu, eventos de grafiteiros, break, hip-hop.
As escolas públicas estavam totalmente depenadas quando criamos a Secretaria da Juventude. Agora, nos finais de semana, as escolas da periferia têm eventos de capoeira, teatro, dança, futebol, skate. Isso tudo é uma conquista.

Onde tem esporte e cultura o índice de violência é menor. E onde não tem, o índice é maior. Isso eu sei. Quando chego num evento, pergunto: “o que você estaria fazendo se não estivesse aqui?”. “Estaria assistindo televisão”, respondem. O que uma criança aprende assistindo TV aberta na periferia?

 

Em 92 você era candidato a vereador e demonstrava descrédito pela classe política. E agora, como avalia seus colegas?

 

Continua a mesma coisa. Há outros candidatos com propostas modernas e contemporâneas. Não sou o único. Tem muita gente boa. Mas tem que ter mais. Tem a máfia do mal. Então, vamos fazer a do bem. Por que não pode ter a do bem?

 

De que maneira os políticos tradicionais encaram o setor dos esportes de ação?

 

Não entendem. Eu continuo falando inglês e eles falando japonês. Eles tentam decupar. Aconteceu um fato gozado, do líder da minha bancada, uma pessoa que adoro, um político sério e honesto, deputado Sidnei Dourado. Ele falou que só entendeu um pouco da minha proposta quando comentou com sua filha que estava nervoso por minha causa e ela contou a ele toda minha história. A garota mora em São José do Rio Pardo e conhecia minha vida. Quer dizer, ele não sabe o que acontece em lugares como Diadema porque só trabalha a questão regional.
Não tenho que ser o deputado do skate. Eu sou deputado de São Paulo. Então, é meu problema o que ocorre na Febem. É meu problema também o que acontece na Detenção.

 

Por falar em segurança, a Febem foi o calcanhar de aquiles dos oito anos de PSDB no governo de São Paulo. Quais os planos do seu partido para combater a intolerável onda de violência atual?

 

Da Febem hoje em dia quase não se ouve mais falar.

 

Recentemente houve problemas em Franco da Rocha.

 

Mudamos a cara da Febem. Agora são unidades menores, descentralizadas. Os   menores são divididos de acordo com a infração e a idade. Procuramos colocar quadras de futebol, adotar atividades esportivas e culturais, dar acompanhamento psicológico.

 

Há planos de levar esportes à Febem?

 

A grade de atividades da Febem já está perfeita. Os menores têm aulas de capoeira, skate, hip-hop, instrumentos musicais, percussão. Estamos proporcionando capacitação e qualificação para esses garotos e, às vezes, eles até vêm à Assembléia Legislativa. Queremos melhorar a cara da Febem. Constantemente tenho visitado a unidade do Tatuapé.

Estamos desativando a unidade Imigrantes, onde fizemos um grande parque esportivo, mantendo uma unidade educacional para os garotos cujos delitos são pequenos. Esse é um trabalho também da Secretaria de Juventude. Tudo isso foi uma conquista que leva um tempo para consolidar. Até então, nunca havia sido feito nada.

 

Jovens participam da Secretaria?

 

Toda a coordenadoria é formada por pessoas na faixa de 30 anos. A secretária da Juventude, Luciana Tomer, tem cerca de 32 anos. Passamos a Febem para essa Secretaria.
 
Como divide seu tempo entre o empresário e o político?

 

Estou quase saindo da minha empresa. Estamos criando um modelo de administração e vou entrar como conselheiro. Saio do cargo executivo para trabalhar como conselheiro. Isso já vem acontecendo, porque eu não tinha mais tempo para tomar as decisões e executá-las. Mas, as pessoas gostam de escutar o que falo, de saber o que eu penso. Procuro dedicar umas quatro horas por dia à empresa, sendo que chego lá pela manhã e depois venho para a Assembléia no início da tarde, onde fico até as 10 da noite. Isso até quinta-feira, quando o plenário encerra às quatro e meia e tento chegar em casa lá pelas sete, oito, para ficar com as crianças. Aos domingos, não abro mão de ficar com meus filhos.

 

Como andam os negócios?

 

Minha empresa é a K2. A marca Vision foi devolvida aos americanos. Eu represento a Cavalera, a AVB, e a V.Rom, uma marca nova que estamos introduzindo no mercado.


Durante a abertura da feira Surf & Beach 2000, o então vice-governador Geraldo Alckmim utilizou o termo “haole” no discurso.  O que os surfistas podem esperar de um novo governo Alckmin e de você em particular?

 

Nossa verba na área de esportes é ridícula, corresponde a 0,13% do orçamento estadual, cerca de R$ 150 milhões por ano. É nada. Quando você vê o governador usar termos do segmento, como eu não sou só o deputado do surf, do skate e do rock, explico para ele sobre a importância do setor, que tem um orçamento de R$ 40 bilhões anuais. Ele, com seus 47 anos, tem sensibilidade para entender a importância do segmento até pela votação que tive – cerca de 70 mil votos.

 

Qual o balanço deste seu mandato como deputado estadual?

 

Bem, como vereador, tive dois mandatos cortados pela metade. Neste mandato, estamos inaugurando mais de 100 pistas de skate no Estado. Como vereador, foram cinco pistas. Nesta gestão, inauguramos uma pista e uma quadra esportiva por semana, em todas as regiões, além de centenas de outros eventos como shows de rap e rock, e apoio em campeonatos de surf e vários outros esportes.

 

Até onde vai sua ambição política?

 

Até onde as pessoas acharem que tem que ir. Não sou eu quem decide.

 

Você gostaria de ir para Brasília?

 

Se eu quisesse já teria ido. Eu tive votação para ser deputado federal. O partido quis que eu fosse para defender essa bandeira no Congresso.

 

E que tal essa responsabilidade?

 

Eu nasci praticamente na favela de Heliópolis, a uma quadra dali. Vendia saco de farinha de porta em porta. Fui feirante, trabalhei no Brás. Não fiquei rico. Com 17 anos eu já era empresário. E, aos 20, já tinha dois filhos. Toda minha história está ligada ao sucesso. Vision, Cavalera… Moro num apartamento de 100 metros quadrados, tenho uma casa legal na praia, um Vectra 96. Uso roupas de brechó, além de roupas que fabrico e algumas marcas legais. Fico no meio da moçada o tempo todo. O que me faz feliz é o sol, o mar e a lua.

 

Você é contra ou a favor da pena de morte?

 

Pena de morte, nunca.

 

E a questão do aborto, qual sua opinião?
 
Você não pode tirar o direito das pessoas terem os filhos. Você tem que conscientizar as pessoas em relação ao planejamento familiar. Agora, uma pessoa que faz aborto está matando uma vida. Qual a diferença de um nenê de 1 ano para um de 1 mês?

 

Se o Serra não passar para o segundo turno, em quem você vai votar?

 

Lula.

 

Quem você admira no cenário da política?

 

Eu não tinha admiração por ninguém até conhecer o Mário Covas e o Geraldo Alckmin. São os dois que admiro. O Mário falava coisas muito sábias, como: “Fale bem por trás, fale mal na frente”. Ou ainda, “seja verdadeiro porque a mentira será descoberta pelos outros, mesmo que você não queira”. Covas também falava que só existem conquistas com trabalho.

Essas pequenas palavras têm um significado muito grande para mim. Ele comentava comigo que eu só falava de surf e skate e eu dizia que tinha sido eleito por esse povo, que se ele não quisesse fazer, tudo bem. Mas eu não ia pedir para construir ponte. Foi quando ele disse que eu tinha ganho a confiança dele, pois o tinha peitado por uma coisa em que eu acreditava.
E admiro o Alckmin pela capacidade administrativa e pelo jeito humilde. Ele conhece o Estado de ponta a ponta e sabe tudo o que está acontecendo, o que é bom ou não. Ele tem base, uma sensibilidade muito grande. Fui com ele à Galeria do Rock e fomos muito bem recebidos. Para quem não sabe, lá existe uma oficina cultural bancada pelo Estado.

 

Você acredita na reeleição?

 

Vou fazer política independente de ser deputado ou não. Vou contestar o que não acredito, elogiar o que acho certo. Tenho uma ferramenta na mão que é o que eu penso.

 

Se não for eleito vai continuar engajado em questões políticas?

 

Politicamente, não. Posso montar uma ONG, por exemplo.

 

Caras influentes como o Fred d’Orey acham sua postura demagógica. O que você diria para ele?

 

Que venha discutir política comigo.

 

Como fazer a juventude se aproximar da política?

 

Isso depende mais de você do que de mim. Você tem a mídia.

 

A mídia está aí para divulgar e criticar as ações dos políticos.

 

A mídia só divulga notícia ruim dos políticos. Notícia boa não é divulgada.

 

Bem, a imprensa especializada em surfe e skate teve importante papel para sua eleição, não é?

 

Isso eu não discuto. Mas a grande imprensa não dá o devido valor. Agora, eu quero ver quem tem coragem de ficar no gabinete para atender a moçada.

 

Depois desses anos na política em que medida você evoluiu como cidadão?

 

Eu descobri meus direitos. Quando fui abordado na estrada e os policiais jogaram maconha no meu carro – eu nunca fumei um baseado e você sabe disso –  eles perguntaram se eu queria ser preso. Eu afirmei que queria. Eles falaram que eu era louco e que fariam “um acerto”. Aí, eu disse que ou eu iria preso ou eu os levaria pra cadeia. Quem já não foi parado logo no início de Parati?

 

Você pediu para ser preso? Como foi?

 

Aí, o cara falou: “Vamos”. E eu disse ok. Falei que conhecia meus direitos. Aí, ele me mandou embora e nem quis dar a mão para mim.

 

Você já era deputado?

 

Eu tinha sido eleito deputado e estava a caminho de um evento da Surfrider Foundation.  Por que um policial tem que dar um tapa na cara de algum indivíduo? Só porque ele é preto ou é da periferia?

 

Como o Estado deve lidar com a questão das drogas?

 

Fui o único deputado a defender a Soninha quando ela foi despedida da TV Cultura por afirmar que fumava maconha. Sou contra as drogas, mas a favor do usuário.

 

Por que?

 

Porque acho que o uso de droga não pode ser considerado crime. Mas, em contrapartida, você não pode legalizar as drogas. Tem que discriminalizar a maconha, diferenciá-la das outras drogas. Está na hora. Vamos falar de segurança? Então, feche os bares clandestinos que tem por aí. Cairiam em 50% os crimes em SP.

 

O que aconteceu entre você e o Igor em relação à marca Cavalera?

 

Tínhamos um acordo, que no entendimento dele foi cumprido. E, no meu entendimento, ele não cumpriu nosso acordo. Com a saída do Max do Sepultura, ele ficou um pouco chateado e acabou não se dedicando à marca. E, quando ela tomou o caminho da moda, ele quis mudar o conceito de um trabalho que estava dando certo e eu disse que não queria. Gosto muito dele e o Sepultura é a banda que mais gosto. Só que temos que separar amizade e estilo musical dos negócios. Se há casamentos que acabam sendo desfeitos, por que não existiria sociedade desfeita? Quando começamos, era eu e ele, mas o pacote veio junto.

 

Pacote, como assim?

 

O pacote é a família.

 

E?

 

E a gente não se fala mais em função do negócio. Eu adoro o Igor, ele é o melhor baterista do mundo. O Sepultura é a melhor banda do mundo. Falo isso onde for.

 

Esta pendência com ele pode gerar prejuízo político?

 

Ele é quem sabe. A única maneira que ele tem para me atacar é falar que não deu certo minha sociedade com ele. Eu só não quis ser mais sócio dele. É um direito que me cabe. Agora, pergunta para ele quantas vezes ele foi à fábrica no período em que estávamos juntos? Eu também quero ficar assistindo televisão, levar o filho para casa e ganhar dinheiro. Só que eu não consigo. Só consigo ganhar dinheiro trabalhando. A gente conseguiu dar uma cara de moda para a Cavalera, estávamos no principal evento de moda do Brasil (São Paulo Fashion Week) por uma conquista minha. O dia que ele quiser sentar comigo e conversar, sento a hora que ele quiser. Só não quero que ele venha com o discurso da esposa dele.

 

Você pratica algum esporte?

 

Eu estou pegando onda. Meu maior sonho era pegar onda. Acompanho campeonatos de surfe desde 82. É uma coisa louca como uma onda perfeita me fascina, fico hipnotizado. Nunca tive tempo e também tinha medo de água. Depois, comecei a mergulhar e tirei carteirinha. Adoro snowboard, que pratico com meus filhos. Acho  até que ando bem, pelo pouco tempo que pratico e pela freqüência. Aí, resolvi pegar onda. Coloquei na cabeça e contratei um personal-trainer, personal-surfer neste caso, que dá aulas apenas para mim.
Comecei com o Mark Lund, do bar Legends. Depois, com o Romeu Andreatta, da revista Alma Surf. E agora estou com o Luis Henrique, o “Boneco”, pai daquele garoto Adriel que surfa em Maresias.
Treino remada na areia e os caras tiram sarro da minha cara. Paguei vários micos e, depois de tomar vários caldos, comecei a pegar umas ondas. Estou enlouquecido por pegar onda. Foi a melhor sensação da minha vida, um momento mágico.

 

Alguns usuários do Waves criticaram uma propaganda sua. Como recebe as críticas de pessoas de seu reduto eleitoral?

 

Eu acho que é um direito de cidadania que elas têm. Tenho várias mídias parceiras de minha candidatura, como a 89 FM, revistas Trip, Fluir, TPM e Tribo, Waves, que cederam espaço gratuitamente. Se você vê candidatos nos segmentos dos evangélicos, da área rural, por que o surf não pode ter o candidato dele? Independentemente de ser do esporte, há o segmento por trás que desenvolve esse esporte. O que seria da surfwear, dos surfistas, sem patrocínio? O que seria dos patrocinadores sem evento? O que seria do evento sem a mídia? Se eu estiver errando em alguma coisa, vou procurar corrigir.
Todo poder emana do povo. O poder que tenho aqui não é meu, é do povo. Eu estou exercendo esse poder, mas não o tenho. Eu queria que essas pessoas que reclamaram procurassem saber mais sobre meu mandato, pedissem explicações. Eu quero que as pessoas acompanhem, não quero ficar gastando dinheiro mandando fazer jornal para explicar o que estou fazendo. Eu tenho e-mail, site, fax, telefone. Eu não deixo de responder um e-mail.

 

 

Para saber mais sobre a campanha e os projetos do candidato, acesse o endereço

 

http://www.turcoloco.com.br/

 

O endereço eletrônico de Turco Loco é [email protected]