Monster e Capilé fazem Tow-in na América do Sul

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Equipe Ocean Riders South America (esq p/ dir): Capilé, Luisfer, Kike, Chris Stokler, Dê da Barra e Rodrigo Resende. Foto: Divulgação.

Esta entrevista foi feita em Florianópolis, durante um café da manhã na varanda de minha casa, com Rodrigo Resende e João Capilé.

 

O Monster ficou hospedado aqui uns 2 ou 3 meses deste ano, e Capilé sempre vinha tomar um café do forte, que minha cafeteira italiana faz.

 

Um dia, liguei o gravador e fiz essa matéria especial para o Waves. É um bate-papo e dividi em duas partes, a primeira trata de ondas grandes.

 

A segunda parte trata de acrobacias e aéreos que são feitos em ondas menores, que vocês vão ler depois, na próxima semana.

 

Parte 1 – Tow-in em ondas grandes

 

Capilé, quem são os membros da equipe Ocean Riders e qual a função deles?

 

Capilé – Os membros da Ocean Riders South America aqui no Brasil são Dudu Schultz e eu. Monster também participa da equipe. Estamos sempre treinando juntos. Dê da Barra é o responsável pelo resgate e pelos primeiros socorros. No Brasil somos apenas nós, juntamente com Chris Stokler, que mora no Rio de Janeiro e é a nossa big rider feminina. Acredito que na América do Sul é a única equipe que tem uma menina, e ela realmente está disposta a surfar quando o mar sobe. No Peru, tem o Luisfer, seu irmão Kiki de La Torre e Flávio Caporale.

 

A função do Caporale é de assessor de imprensa da equipe?

 

Flávio é um excelente surfista, com uma disposição absurda. Ele gosta de mares grandes. Por trabalhar no Chile e no Peru e ser uma pessoa bem relacionada, a gente tinha colocado ele como assessor de imprensa. Só que na época ele tava muito ocupado e não teve condição de fazer um bom trabalho. O tempo todo existia a cobrança da Lan Chile, que é uma companhia grande e ele é o diretor de marketing. Na verdade, quem está fazendo um bom trabalho de assessoria de imprensa na equipe é a Chris Stokler.

 

Desde quando a equipe treina?

 

A equipe na realidade está reunida desde abril, porque soubemos que ia rolar um swell no Chile. Aí, saí com o Rodrigo Resende de carro. Cruzamos o interior do Brasil, o norte da Argentina, a cordilheira e chegamos no Chile. Descansamos um dia. Se não me engano, no dia seguinte o mar já estava alucinante. Nisso, eu já tinha ligado pro Luisfer, Kike e Flávio. Eles foram de avião nos encontrar no norte do Chile. Depois eles voltaram para o Peru. Rodrigo, eu e Dê, que acabara de chegar, surfamos no outro swell alucinante que foi maior ainda em El Buey, no norte do Chile, na cidade de Arica. É uma bancada outside.

 

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Capilé e Monster durante session de Tow-in no Chile. Foto: Divulgação.
Que tamanho de mar vocês surfaram?

 

Mais de 15 pés em algumas séries do dia.

 

E vocês levaram o jet-ski daqui?

 

Levamos o jet-ski na caçamba da caminhonete.

 

Qual foi a dificuldade de levar um jet-ski para lá e fazer Tow-in num lugar que vocês não conheciam?

 

Na verdade não tem muito lero-lero, é o lance de botar na caçamba, encher o tanque e pegar as ondas, né, brother? Porque não adianta nada eu ter um jet-ski e ficar passeando de playboy na represa, ou tirando onda na Lagoa, de tarde com sol bonito. Não é esse o objetivo. Tem gente que tem jet-ski e que em 99% das vezes usa para isso. E a gente usa é para pegar as ondas grandes.

 

E a gente pegou, atravessamos a cordilheira em função daquele swell e daquela época específica, que ia quebrar aquelas ondas lá. E aí foi alucinante, porque Deus abençoou. No dia seguinte em que a gente botou o pé lá, o mar subiu. Aí foi pra 12 pés. O mar nem baixou direito, tinha uns 6 a 8 pés, aí subiu de novo.

 

Então vocês conseguiram executar o Tow-in em ondas gigantes?

 

Não sei se foram gigantes, mas pra América do Sul foram as maiores ondas surfadas esse ano. Ninguém pegou onda maior na América do Sul esse ano, pode ter certeza. 

Vocês foram os primeiros surfistas a fazer Tow-in na região de Arica?
Eu não sei. Tow-in é um lance que tem que ser bem feito pra poder chamar a atenção. Porque um Tow-in feito por quem não tem condição de fazer…

 

De repente, pode até ter entrado alguém de jet-ski num mar pequeno, sozinho e tal. Mas em El Buey nós fomos os primeiros. Apesar de que esse tipo de propaganda não é muito importante. O que importa é a qualidade do que nós fizemos. Eu acredito que nós pegamos todas as ondas do mar. Se não foram todas, foram quase todas, eu, Rodrigo ou o Dê, a gente tava nelas.

 

Depois dessa fase de ondas gigantes quanto tempo vocês ficaram lá?

 

Funcionou mais ou menos assim: uns iam de carro levando o jet-ski, enquanto outros iam de avião. Por exemplo, o Rodrigo foi de carro comigo e voltou de avião pra resolver as coisas dele no Rio. Nisso, chegou o Dê da Barra, que foi do Chile ao Peru comigo. Chegamos no Peru e eu já avisei pro Rodrigo que ia entrar um swell. O Rodrigo pegou o avião e chegou um dia antes do swell. Pegamos o swell. Rodrigo voltou e aí fiquei lá jogado. Depois eu vim trazendo o equipamento de volta e nos reunimos de novo no Brasil. Só entre o Chile e o Peru foram três meses e meio de viagem.

 

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Resende faz o bottom em El Buey. Foto: Pedro Felizardo.
Rodrigo, fale do mar de Pico Alto. Você disse que o mar era bom, até que uns gringos iam fazer um campeonato lá e não rolou. Que equipe estrangeira ia fazer um evento especial em Pico Alto?

 

Rodrigo – Era o campeonato da Quiksilver de remada. Eles foram de manhã, mas o mar não tava tão bom. Aí, eles não chamaram o campeonato. À tarde, o mar começou a acertar. Nós caímos com o jet-ski. Tava dando 21 pés na bóia e lá tinha uns 15 pés.

 

E foi bem divertido? Que tipo de onda vocês pegaram?

 

Direita e esquerda, longa, parede. Agora, é difícil de pegar um tubo ali. E mais fácil pegar tubo em El Buey do que em Pico Alto. Mas é uma onda boa pra manobrar… Eu ia lá na esquerda, cavava, voltava, já pegava a onda de frente, dava rasgada e ia fazendo a onda até o final. Alucinante! Foi uma das melhores seções de Tow-in que eu fiz na minha vida.

 

Quantas ondas vocês conseguem pegar num dia clássico como esse?

 

Se estivesse remando, acho que pegaria umas cinco ou seis ondas. No tempo que nós surfamos, peguei umas trinta ondas.


Vocês se revezaram nesse dia? O tempo que cada um fica surfando é o mesmo?

 

É, acho que sim. Cada um pilota um pouco.  Depende de cada um. Às vezes, o cara tá cansado, aí vai o outro e assim por diante. Não tem nada programado. Vai quem quiser. Na hora a gente vê quem tá com vontade. Nós éramos quatro: Capilé, Dê da Barra, Chris e eu. A Chris cansou rápido e já saiu. O Dê também. Acabou ficando só o Capilé e eu treinando ali.

 

Capilé, havia outras pessoas no mar?

 

Capilé – Só tinha a gente. Sabe aquele mar dos sonhos, que tu fica esperando, com água verde? Quando a gente entrou tinha um ventinho maral, mas no final de tarde começou a parar. A única coisa que eu senti falta era de mais gasolina. Eu queria poder ficar mais tempo. Pô, não tô brincando contigo! É um momento de alegria que a gente lembra. Eu vinha na velocidade, aí lançava o Rodrigo. O Rodrigo dava a volta na onda, passava do pico da onda, dava uma cavada, chegava no lip, mandava rasgadão, de prancha 6´, brother!

 

Sabe aquelas valas que antigamente a gente mandava dez batidas na beira da água e achava que tava o bicho. Porra, esse dia estava assim, só que com 15 pés, gelatina, a água muito verde, o sol batendo, um astral muito bom. Eu pilotando bem, o Rodrigo também. Eu surfando bem, Rodrigo surfando bem. O Dê surfando bem, a Chris surfando bem, que ela é maior incentivo, é o maior astral, está sempre rindo.

 

E os outros integrantes da equipe?

 

Acho que eles estavam fazendo outras coisas. Eles trabalham vendendo carros.

 

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João Capilé desce uma morra no Chile. Foto: Spirito Multimidia.
Vocês já se reuniram num mar grande pra praticar Tow-in?    

 

No swell anterior, em El Buey, todo mundo surfou. No dia anterior em Pico Alto, também tava todo mundo surfando.

 

E quais são os critérios exigidos para ser da equipe?

 

Primeiro a pessoa tem que passar pela avaliação geral do grupo. Pra começar, psicológica (risos). Tem que saber se ele faz parte do movimento cavernista. Se uma pessoa da equipe acha que o cara não deve estar na equipe, ele não vai entrar. Primeiro, pergunto ao Rodrigo, Luisfer, Chris, se a galera for unânime com relação a essa pessoa, se o cara for gente boa e amigo de todo mundo, principalmente, ter surf no pé e gostar de pegar umas ondas grandes, o cara vai estar.

 

Agora, o cara, às vezes pode ser o melhor surfista do mundo, chegou com marrinha, meu irmão, a primeira coisa que ele vai praticar e o sandboxe. É o novo esporte que nós estamos inventando. Toca o cara no alto da duna e boxe nele, pra sair rolando duna abaixo. Até hoje a gente não teve nenhum voluntário.

 

A equipe está fechada?

 

A equipe está fechada até que os membros se reúnam e tenham uma pessoa pra indicar. Acredito que não vá ter muita gente aparecendo, porque é uma equipe de amigos. Acima de qualquer coisa, nós somos amigos.

 

Tem patrocínio? Como é que funciona a equipe?

 

Não tem patrocínio, todo mundo faz por amor. A gente gosta de pegar as ondas juntos. Acho que isso é uma das coisas mais importantes. A gente não envolve dinheiro na história. Se um dia um patrocinador quiser apoiar nossa equipe, ele pode entrar com equipamentos, só que tem uma cláusula que vai ficar bem clara: nós temos autonomia pra tomar todo tipo de decisão.

 

Se nós queremos ou não, se a estratégia de marketing é de um jeito ou de outro, isso tudo cabe aos diretores regionais, junto ao conselho da equipe. Pode até ter um patrocinador, mas quem toma as decisões gerais somos nós, os membros da equipe. Rodrigo está com um jet-ski no Rio e eu tenho um aqui, o Luisfer tem um lá. Todos os jet-skis servem a equipe. Nós somos uma cooperativa de amigos que gosta de pegar onda grande.

 

O que significa a sigla VLOS?

 

Parece até violações, né? Não é não, teoria de playboy, de otário. Nós somos Viralatas do Outside (risos).

 

É isso que está estampado na camiseta do time?


Tá estampado, né, brother? É uma marca pro povão, pros motoboys, os caras da favela, todo mundo vai usar VLOS. Viralatas do Outside, não se esquecem desse nome, porque a galera ainda vai usar muito essa marca.

 

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Monster em Avalanches, Hawaii. Foto: Divulgação.

A equipe tem uniforme?

 

Nós temos. Cada um toma iniciativa, vai lá, compra umas vinte camisetas, compra a tela. Inclusive a Ação Efeito licenciou a marca Ocean Riders South America. Vai começar a produzir e a gente vai começar a jogar isso no mercado, é uma marca mais social. Ocean Riders South America é pra galera, para o pessoal de um nível melhor. Agora, o VLOS é só pros vira-latas, então, é de quem se identifica com isso. É a galera do bicho pegando, os motoboys, pro cara que não têm dinheiro pra ir no veterinário. O cara é da rua.

 

Depois dessa fase do Chile, você voltou para o Brasil com seu jet-ski e conseguiu fazer Tow-in com ondas relativamente boas aqui em Santa Catarina. As ondas grandes aqui no Brasil são realmente boas comparadas às do Chile e Peru?

 

No Atlântico tem ondas leves, né, brother? Não tem aquele swell do Pacífico. Teve dias aqui no Farol de Santa Marta que chegamos a pegar 10 pés constantes, com as séries de 12, sei lá, várias ondas. Dava três, quatros rasgadas na onda antes dela quebrar. Na minha opinião, foi o melhor dia de Tow-in que eu fiz no Brasil até hoje, cara.

 

E quem tava da equipe?

 

Se eu não me engano, tava eu, Rodrigo, Luisfer, Chris e o Flávio Vidigal, que filmou a gente de fora d’água.

 

Vocês voltaram pra surfar lá no dia seguinte ou na outra semana?

 

Esse foi o primeiro. No segundo swell, voltamos lá e tava o Dê da Barra, Romeu Bruno.

 

Eu quero saber de você, Rodrigo, o que acha do mar do Brasil para praticar Tow-in? Afinal, vocês pegaram um swell generoso de 10, 12 pés.

 

Rodrigo – Acho que aqui no Sul tem um grande potencial. A praia do Cardoso, no Farol, a Ilha dos Lobos (RS) também tem um grande potencial. Tem outros aí, que a gente não gostaria de falar. Saquarema, no Rio, também é muito bom, Fernando de Noronha, que eu ainda não conheço, também parece ser muito bom.

 

Quais os critérios que a praia tem que reunir pra ser boa para Tow-in?

 

Tem que ter fácil acesso pro jet-ski chegar, onda grande de preferência, pode ser fechando, mas tem que ser onda grande e não ter muito surfista na água. De preferência, nenhum.

 

E o vento, interfere muito?

 

De preferência terral, né? O jet-ski é só pra jogar na onda, depois é surf.

 

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Rodrigo Resende no Chile. Foto: André Z.
E quando o pico tem muita correnteza, também não é problema pra quem está com jet-ski?

 

Nenhum. Com jet-ski é tranqüilo.

 

Praias bem abertas não são um problema. Talvez por isso o Cardoso tenha reunido essas condições?

 

Tava perfeito. Tava lisinho, esquerdas longas e havia algumas direitas também. Poucos surfistas. No segundo swell que nós fomos, tinha uns surfistas remando. Mas nós passamos longe. Ninguém incomodou ninguém. Eles também não incomodaram. Foi tranqüilo.

 

Eu vi que você desenvolve equipamentos de Tow-in. Outro dia notei que fez uma corda pra reboque. Como é que é isso?

 

É que aqui no Brasil tá começando agora. Tem uns quatro anos que começou. Lá fora, já têm uns dez anos. Nós estamos desenvolvendo o material. E um dos maiores problemas que tem no Tow-in é você passar por cima da corda, a corda entrar na turbina, travar o jet-ski e você ficar parado no outside. Aí, eu, Capilé, Tiago, da Pró Naútica, colocamos uma mangueira por fora da corda, assim não entra na turbina e não trava. Comecei a colocar umas bóias na corda. Tem muita coisa que tá sendo desenvolvida… colete salva-vidas, tem muita coisa.

 

O colete teria aquele tubo oxigênio?


Pra surfar uma onda de 100 pés, o oxigênio seria uma boa coisa.

 

Você que já surfou uma onda de 65, 70 pés, acha que seria possível surfar essa onda de 100 pés?

 

Eu acho que sim. Principalmente de Tow-in. Estão falando que vão surfar de foilboard. Mas eu testei foilboard aqui na ilha umas três vezes e achei a prancha meio instável. Não me senti muito seguro nela, acho que me sinto melhor com a prancha comum de Tow-in. Acho que essa onda seria surfável com essa prancha de Tow-in.

 

Que tamanho teria essa prancha de Tow-in específica pra surfar uma onda desse naipe?

 

Em torno de 7 pés, talvez um pouco mais, uma 7´4″ ou 7´5″.

 

E ela tem chumbo?

 

Ela já é pesada e o número de laminações também vai influenciar. Normalmente, lá fora, eles fazem de seis a sete laminações. No Rio, estão usando de três a quatro. Já é um peso considerável. Pra ser mais suave, tem que ter menos laminação.

 

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Monster e seu equipamento. Foto: Divulgação.
Você procura fazer Tow-in quando o mar não dá uma condição pra fazer surf de remada, ou isso já não se aplica mais e você tem feito Tow-in pra treinar?

 

Eu sempre fui meio contra Tow-in, mas ultimamente eu tenho praticado bastante, depois que fui convidado e ganhei o campeonato. Vou participar pela segunda vez, então, tenho praticado bastante. Tô afim de entrar em forma no segundo campeonato.

 

Quando vai ser?

 

O período de espera é de 15 de dezembro até 15 de fevereiro.

 

Então você já está prestes a ir para o Hawaii?

 

Exatamente.

 

E o Capilé vai junto?

 

Capilé – Eu tô correndo atrás de patrocinador para ir pra lá. Eu tô vendendo jet-ski e algumas coisas pra poder estar lá. Não adianta treinar e adquirir um nível de pilotagem boa, como é o nível que a gente tá hoje, e ficar pegando ondinha de 15 pés. Isso até pra muita gente pode representar muito, mas a tendência do Tow-in é você se aperfeiçoar. Pô, te dá uma liberdade, uma intimidade com onda grande que se torna muito fácil.

 

Em Pico Alto, na remada, peguei onda durante dez anos. Usava uma 9´6″, uma 9´8″. Hoje em dia, uso uma 6´. Em todas as ondas você vem de trás do pico. Você consegue dar um rasgadão com uma seis zero no bowl de uma onda de 15 pés. Você trabalha muito nas bordas. O Tow-in tem o mesmo princípio que o snowboard, ou você tá trabalhando numa borda ou você tá trabalhando na outra. Ou seja, ou você tá cavando ou você tá rasgando.

 

Isso que vai te dar domínio na parede. Se deixar a prancha fazer o ritmo dela, você cai. Você está num lugar muito radical com uma prancha pequena e é no momento mais crítico da onda. Só que às vezes pode pagar um preço por isso. Com certeza você paga. Aí, é que entra a parte do resgate. Se eu estiver pilotando, tenho que resgatar o Monster. Se ele tiver pilotando, ele tem que me resgatar o mais depressa possível.  

    

Vocês já tiveram alguma situação crítica nos resgates?

 

Lembro que eu cometi um erro sério com o Rodrigo. Pra gente, na situação não era um erro grande. Acredito que tava uns 15 pés, só que a onda tava bem cavada. Nesse momento, eu lancei o Rodrigo na onda, o lip deu uma balançada e o jet-ski ficou pendurado. Eu quebrei o lip da onda do Rodrigo e ele botou pra dentro, foi esmagado, quebrou a prancha no meio. Nessa hora, eu fui passar pra pegar o Rodrigo e a espuma era muito densa, o jet-ski não andava. Aí, eu tive que dar um pouco mais de motor.

 

Eu errei o resgate do Rodrigo e ele tomou uma onda de trás que foi uma onda séria. Sacô? Séria, que eu digo, é pra 99% das pessoas. Pra gente não é séria. Nós temos condições físicas pra agüentar isso. Só que ali, se eu resgato bem numa condição média, eu tô bem pra resgatar numa ocasião mais séria. Como eu errei nesse resgate, me dediquei muito depois disso. Porque eu sei que ele pode estar precisando de um resgate numa onda de 40, 50, 60 pés.

 

E aonde foi, Capilé?

 

Foi em El Buey, no Chile. Inclusive eu queria ressaltar que nesse dia eu botei o Rodrigo numa esquerda só que a onda fechou muito rápido pra esquerda. Ele virou pra direita. Na minha vida, eu nunca vi um tubo no Backdoor em nenhum filme de surf, nem de Sunny Garcia, nem Shane Dorian, um tubo tão grosseiro como eu vi o Rodrigo pegar. Eu lancei ele na esquerda, ele ficou atrasado virou pra direita na última com uma 6’6″.

 

(Continua na próxima semana!)

 

 

 

Agradecimentos à revista Surf X-Pression pela cessão das fotos.