O longboarder Marcello Árias é coordenador do curso da Unipran. Foto: Divulgação. |
O surf brasileiro começou em Santos ainda na década de 30, com as primeiras ondas surfadas na praia do Gonzaga. De lá para cá, o esporte evoluiu muito, o Brasil é considerado uma das três maiores potências mundiais, tem mais de 2 milhões de adeptos e apresenta uma grande estrutura, tanto nas competições quanto no mercado.
Agora, 70 anos depois, a cidade volta a ser pioneira, com a UniPran, a Universidade da Prancha, do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte). O núcleo de ensino e pesquisas não poderia começar de melhor forma, com a criação curso de pós-graduação em surf e esportes com prancha, o primeiro no mundo chancelado por uma instituição de ensino superior, reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).
“Este curso veio para suprir uma lacuna. Capacitar e credenciar pessoas formadas para atuar na área de surf e nos outros esportes com prancha”, afirma o coordenador da Unipran, o professor Marcello Árias, referindo-se também às modalidades apelidadas de “filhas e netas” do surf, como o skate, snowboard, wakeboard, criadas por surfistas que queriam diversão nos dias sem onda.
“Apesar de ser praticado em todo o mundo, chegando inclusive muito próximo de tornar-se olímpico, o surf não teve uma evolução acadêmica à altura. A UniPran objetiva justamente estabelecer um perfil acadêmico para os esportes com prancha, sem contundo, descaracterizá-los de suas essências eminentemente lúdicas e recreativas”, acrescenta Árias.
Completando um ano de atividades e formando a primeira turma, o curso teve uma avaliação ótima, tanto dos professores quanto dos alunos. “Os nossos estudantes foram cobaias, porque tudo era novo. Tivemos um feed back sensacional. Avaliamos cada aula e o retorno foi fantástico. E o que é melhor, todos os docentes deste curso são mestres ou doutores em suas áreas, mas o diferencial é que eles são praticantes e amantes dos esportes com prancha, o que torna a comunicabilidade com os alunos muito mais fácil”, ressalta o coordenador da Unipran.
No curso os alunos estudam fisiologia do exercício, oceanografia, nutrição, a relação da música com esportes praticados com prancha, contabilidade e aspectos jurídicos, treinamento de força, periodização de treinos, shape, yoga aplicada, salvamento aquático, biomecânica, psicologia esportiva, marketing, ecologia, entre outros pontos.
“O surf acadêmico e universitário está nascendo agora. Está se abrindo um nicho de possibilidades”, acrescenta Arias, que é formado em Educação Física, com especialização em fisiologia do Exercício na Escola Paulista de Medicina e mestrado em fisiofarmacologia pela Unifesp. Ele divide a coordenação com o professor Flávio Ascânio, skatista e especialista em Fisiologia do Exercício e mestre em Reabilitação pela Unifesp.
“O curso na UniPran é aberto a qualquer pessoa que tenha graduação, embora 50% das disciplinas são voltadas para a área de saúde, como fisiologia, fisiopatologia e treinamento”, comenta Arias. Segundo ele, o objetivo geral é capacitar os profissionais em aspectos históricos, pedagógicos, fisiológicos, tecnológicos, administrativos e metodológicos para o trabalho com atletas e praticantes de esportes com prancha.
Entre as áreas que o profissional estará apto a atuar estão a montagem e gerenciamento de escolas de iniciação e especialização esportivas; elaboração e condução de aulas (técnicas ou recreativas) individuais ou em grupo em academias, clubes, hotéis; a prestação de serviços de assessoria e consultoria para equipes competitivas.
Também a elaboração, direção e execução de programas de condicionamento físico personalizados e para atletas profissionais e amadores; prevenção de lesões agudas e crônicas; compreender e atuar na dinâmica do mercado consumidor de produtos e serviços ligados ao surf e aos esportes praticados com prancha; e aplicação dos princípios fisiológicos inerentes a cada esporte.
Sede própria – A sede da UniPran fica no Centro de Treinamento Monte Serrat, na Vila Mathias, um grande complexo poliesportivo, com uma área de 7.500 metros quadrados, com uma piscina olímpica, quadras e laboratórios de pesquisa da performance humana. Em 2003, o núcleo vai ganhar uma sede própria, ao lado do CT, um enorme galpão, onde as atividades serão ampliadas, inclusive com um Skate Park, um centro de memória das modalidades, uma fábrica de pranchas para aulas e o início de trabalhos na área social, voltado a crianças carentes.
Junto com o inédito curso de pós-graduação, a UniPran já lançou este ano outros projetos voltados às modalidades com prancha, como o Integral Surfing Training, a Escola de Surf. Para 2003, novas idéias serão colocadas em prática, como o Laboratório de fisiologia do exercício, o LabPran, e realização de mais de 100 cursos de extensão e aperfeiçoamento. Serão em média, quatro a cinco cursos por final de semana, nos mais diversos assuntos, como biologia, oceanografia, marketing.
“As expectativas para 2003 são as melhores possíveis. Ainda vamos crescer muito. Estamos só no começo e com vários projetos”, revela o coordenador da UniPran, que tem um carinho especial pelo desenvolvimento de pesquisas, que vem sendo publicadas em veículos internacionais.
Ele e o professor Flávio Ascânio apresentarão alguns temas no Congresso Americano de Medicina Esportiva, em maio, em São Francisco, Califórnia. “Estas pesquisas servem para estabelecer um perfil fisiológico para esta classe e utilizar informações com parâmetros para treinamentos”, explica Arias, que tem pesquisas importantes como a “Capacidade Cardio-respiratória dos surfistas”, “Consumo de oxigênio e limiares ventilatórios em surfistas profissionais brasileiros” e “Índices de potência anaeróbia nos surfistas profissionais brasileiros”.
Integral surfing training – Entre os programas já desenvolvidos, o principal é o Integral Surfing Training (IST), que visa melhorar a performance dos atletas dentro d’ água. “O Integral Surf Training é o mais completo programa personalizado de treinamento e condicionamento físico destinado aos surfistas”, esclarece Arias, informando que o programa, aberto a qualquer interessado, é composto de musculação, power yoga, big remada, além de palestras e orientações na área nutricional e fisiológica.
Surfistas conhecidos como Picuruta Salazar, Andrew Serrano, Marcos Quito, Adriano Teco fazem parte do IST. “Tudo é fundamentado em experiências científicas na Escola Paulista de Medicina. Fizemos testes com surfistas e conseguimos detectar algumas carências e também qualidades nos praticantes da modalidade”, conta o coordenador da UniPran.
Um dos destaques do treinamento é a big remada. Com pranchas presas na borda da piscina, os alunos simulam remadas ao ritmo de músicas, fazendo um trabalho aeróbio e anaeróbio, incluindo também o desenvolvimento do ganho de apnéia. Os participantes do IST também fazem power yoga, visando o desenvolvimento de uma melhor consciência corporal, , flexibilidade, relaxamento, concentração, equilíbrio e alongamento dos músculos. Na musculação, há o fortalecimento dos músculos mais utilizados no surf e exercícios compensatórios, como a musculatura das costas, pouco utilizada na modalidade, procurando evitar lesões nos ombros, por exemplo.
Escola de surfe – Outro projeto desenvolvido é a Escola de Surf da UniPran, voltada para atletas dos 9 aos 90 anos, que querem aprender a surfar ou aprimorar suas técnicas. “Hoje muitas escolas não têm profissionais preparados especificamente para exercer e desenvolver o assunto em sua plenitude. Desenvolvemos um trabalho sério, com atletas bem treinados”, frisa Árias.
O curso, ministrado por surfistas qualificados, como Luke Franco, Luiz Neguinho (campeão brasileiro de 1982), além de professores de Educação Física capacitados e credenciados para esta nova profissão, é dividido em cinco módulos – cada um com três meses de duração. As aulas acontecem no CT Monte Serrat e nas praias da região. Os alunos aprendem fundamentos de surf, de pranchinha e longboard (os pranchões), técnicas de remada, de natação, de mergulho. Também análise de estilos, treinamentos físicos direcionados para o surf, de apnéias para enfrentar os “caldos”, e têm sessões de big remada, do Integral Surfing Training.
Há, ainda, a parte teórica, com palestras sobre a história da modalidade, fisiologia do exercício, noções de nutrição para o surfista, primeiros-socorros e salvamento aquático, além de aspectos de oceanografia, meteorologia, biologia marinha, conhecendo parte da fauna e flora do nosso mar, e ecologia. Praticará mergulho em apnéia, visitará fábricas de pranchas, aprendendo a consertar a sua própria prancha. Assistirá vídeos de surf, aprenderá regras do esporte e noções de competição, praticará yoga.
Vale lembrar que além da UniPran, a Unimonte vem investindo forte no surf, com o patrocínio de atletas e eventos. A equipe de surfistas conta com grandes destaques como o novo campeão paulista de surf universitário Vinicius Batista, o Bico, aluno de Educação Física, e o campeões de 2001, Daniks Fischer, estudante de Jornalismo, e de 99, Alessandro Mariano, que cursa Administração.
O incentivo ao esporte tem, ainda, o patrocínio do 7º Circuito A Tribuna de Surf Colegial, campeonato que tem como objetivo incentivar os estudos entre os atletas da nova geração e reúne alunos de escolas de toda a Baixada Santista. Outro patrocínio de destaque nesta temporada foi o Petrobras Longboard Classic, que reuniu os melhores surfistas do pranchão no Quebra-Mar.
Para obter mais informações sobre a UniPran acesse o site da Unimonte: www.unimonte.br/unipran ou ligue para (13) 3222.8890. O Centro de Treinamentos Monte Serrat, onde está instalada a UniPran, fica na Rua Comendador Martins, nº 119, Vila Mathias, em Santos.