Surf nas ondas de fumaça

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Pranchas no rack = garantia de dura da polícia. O preconceito contra surfistas ainda existe. Foto: Augusto Saldanha.
Preparativos para mais uma viagem em busca das ondas. A família de surfistas prepara a caranga com todo o material necessário. Destino: Saquarema, Rio de Janeiro… Integrantes: minha esposa Luciane, Paola, minha meio filha amiga inteira, e meu cachorro Sereno, um labrador completamente desmiolado. Uma típica família praiana que não causaria nenhum tipo de desconfiança, não fosse a meia dúzia de longboards empilhados na caçamba da S10. Longboards, isca de rodoviário mal intencionado.

 

E as previsões se confirmam. Foram dez horas de viagem até Saquarema, regadas de sete gerais monstros em busca do baseado perdido. Nada é poupado… Pote de geléia, saco de parafina, carteira de documentos, porta luvas, creme de barbear, etc. Incrédulo com o fato de não ter encontrado o que procurava, o policial olha para o meu cachorro e emenda:

 

– E o vira-lata aí? Por que está com os olhos vermelhos?
– Olhos vermelhos? Retruquei. – Ele é o Sereno seu guarda, é assim mesmo… Ele é dorminhoco e fica com os olhos vermelhos.

– Dorminhoco o escambau! Esse cachorro não me engana não… Olha a cara dele. Pra mim ele é um puta de um beloteiro e veio estourando um aí na caçamba. Quando me viu comeu a bagana e fingiu que tava dormindo. Cachorro de surfista é tudo assim, além de maconheiro é cínico. Tá todo mundo em cana!

 

Sereno, o lombradão. Foto: Arquivo pessoal.

Pensando bem, não importaria muito quem estivesse dirigindo a caranga… Podia ser até mesmo a Hebe Camargo e a Ana Maria Braga… Tem prancha? Geral na certa!

Entra ano e sai ano, surf na TV, nos jornais, nas revistas e no inconsciente coletivo da população: “nem todo maconheiro é surfista, mas todo surfista é maconheiro”. Esta é uma frase extremamente preconceituosa, e que vigorou durante anos como uma verdade absoluta. Porém, daria pra escrever uma tese sobre essa afirmação, tamanha é a quantidade de variáveis que envolvem este tema.

 

Maconha, hashish, bangh, ganja, diamba, marijuana, marihuana… Afinal de contas, qual é a dessa plantinha? Extratos da planta haxixe, Cannabis sativa, que costuma crescer em regiões de clima temperado e tropical, contêm a substância ativa Delta-9-Tetrahidrocannabinol (THC). Marijuana ou maconha é o nome dado às folhas secas que comumente são fumadas; o haxixe é a resina extraída [28,30].

 

Durante séculos essas substâncias foram usadas com vários objetivos medicinais. O professor Carlini, da Escola Paulista de Medicina, relata em seu livro “Medicamentos, Drogas e Saúde”, que a maconha era utilizada como anestésico a quase cinco mil anos, na China. A medicina Ayurvédica da Índia também utilizou a maconha como analgésico, hipnótico e espasmolítico [30].

 

Acredita-se que a maconha tenha chegado na América do Norte por volta do século XIX, trazida por imigrantes, e começou a se tornar um problema social no início deste século; foi legalmente banida durante a década de 30. Seu uso aumentou dramaticamente durante a década de 60, impulsionada pela guerra do Vietnã, onde os soldados fugiam da realidade assustadora da guerra atolando seus neurônios nas mais diversas substâncias alucinógenas. A guerra também produziu o movimento hippie e sua contra cultura baseada no “peace and love”, sexo, drogas e rock’n roll, e coisas afins, o que reforçou ainda mais seu consumo e sua introdução em nossa sociedade.

 

Entretanto, antes de nos aprofundarmos no assunto, é importante definir alguns conceitos, e o primeiro deles é o conceito de droga. Droga é toda a substância química que provoca uma alteração fisiológica, ou seja, que altera as funções de nosso corpo [28]. Temos as drogas lícitas (permitidas), como a grande maioria dos remédios de farmácia, o tabaco e o álcool, e as ilícitas (proibidas), como a maconha, a cocaína, entre outras. Atualmente, a divisão entre drogas lícitas e ilícitas não obedece nenhum padrão pré-estipulado, e no decorrer da história várias drogas já ocuparam ora uma categoria, ora outra. A cocaína é um bom exemplo, pois outrora já foi remédio, prescrito por médicos!

 

Algumas dessas drogas agem somente em nosso cérebro, e são chamadas de psicotrópicas. Para uma droga psicotrópica agir, ela tem que liberar na corrente sanguínea uma substância química. Esta substância chega no cérebro e altera a função dos nossos neurônios (células do cérebro), ao se unir a pequenos receptores localizados nas membranas externas dessas células. Logo, as drogas são como chaves, e os receptores como fechaduras. Toda nossa vida emocional, e toda a nossa percepção do que é real, é forjada em nosso cérebro no momento em que liberamos substâncias produzidas nos nossos próprios neurônios: os neurotransmissores. As drogas copiam a ação deles ou impedem que alguns sejam liberados. O resultado é uma visão distorcida da realidade [28,29,30].

 

Alguns cientistas já descobriram que os seres humanos produzem uma substância muito semelhante ao THC, a anandamida [1,2,3,28]. Suas funções ainda não são totalmente compreendidas, mas sabe-se que a anandamida age inibindo determinados neurônios no cérebro, causando efeitos analgésicos, comportamentais e térmicos. O THC produz os mesmos efeitos, mas de forma amplificada4.

 

Folha de maconha, cientificamente conhecida como Cannabis Sativa. A substância contida na planta é usada medicinalmente há mais de dois mil anos. Foto: Site Marihemp.com.
Atualmente, existem alguns dados científicos sugerindo que aproximadamente 15% da população adulta da América e Europa Ocidental já usaram Cannabis em algum momento de suas vidas, com a proporção crescendo para 35% entre estudantes adolescentes [28,30]. Logo, haja maconheiro no mundo! É bem provável que exista advogado maconheiro, engenheiro maconheiro, professor maconheiro, médico maconheiro. Entretanto, existem e são milhares, os surfistas é que nunca provaram isso.  

 

Droga não é e nunca foi um problema setorizado, faz parte da nossa história, da história do homem neste planeta e da necessidade que grande parte das pessoas têm de explorar estados alterados de sua própria consciência… Até mesmo uma criança, em toda a sua ingenuidade, curte um barato diferente quando brinca de girar, girar e girar, até cair no chão de tão tontinha. Alguns aspectos, porém, continuam obscuros até para os usuários mais destemidos, o que tentarei esclarecer nas linhas que se seguem.

 

Efeitos subjetivos no homem:

 

A maconha produz uma sensação de relaxamento e bem estar, não muito diferente daquela produzida pelo etanol. Além disso, gera um estímulo da consciência sensorial, com sons e visões parecendo mais intensos e fantásticos.

 

Efeitos farmacológicos no cérebro do homem:

 

Hoje já se sabe que a maconha prejudica algumas funções cognitivas, como a memória de curto prazo, da atenção, do tempo de reação a um dado estímulo, e alguns aspectos da aprendizagem. Além disso, as funções motoras ficam mais lentas, o que prejudica o controle dos movimentos corporais [17].

 

Sendo a maconha uma droga que sabidamente prejudica as funções cognitivas e motoras, é bem provável que nem o estudante nem o esportista possam extrair dela algum benefício de performance. Alguns pesquisadores [19] têm demonstrado que mesmo em pessoas que faziam uso intenso da maconha, é possível obter melhoras na função cognitiva após seis semanas de abstinência, muito embora aqueles usuários mais antigos demonstrem grandes prejuízos em suas capacidades de aprendizado.

 

Kouri e alguns colaboradores [21] realizaram um trabalho bem legal, onde compararam usuários ocasionais com usuários “pesados”. E detectaram grandes diferenças entre estes dois grupos. O grupo de usuários ocasionais era um grupo que tinha uma menor tendência a usar outras drogas e a sentir-se dependente. Já o outro grupo apresentava uma enorme tendência ao uso de outras drogas, tais como a cocaína, LSD, etc. Hoje já é aceita a hipótese de que alguns seres humanos nascem com tendências genéticas a adquirir vícios. Por outro lado, existe uma grande quantidade de pessoas que pode se dar ao luxo de ser um usuário ocasional, sem correr o risco de perder o controle da situação.

 

O uso da Cannabis pode também provocar uma perda das capacidades de discriminação temporal e espacial. Esses efeitos aparecem mesmo nos indivíduos que não apresentam alucinações. A conseqüência é importante, pois a pessoa não nota que suas capacidades de discriminar o tempo e espaço estão afetadas, dado que estes efeitos só se percebem com medidas objetivas. Isso pode explicar, ao menos em parte, aquelas histórias de tubos extremamente longos, de vários segundos de duração, que aquele velho amigo beloteiro lhe conta todos os dias quando, na realidade, você viu que a onda só deu uma lambidinha de leve e que o tubão pode, na real, ter sido um tubinho meia boca.

 

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Os gráficos a seguir apresentam um estudo que mostra os efeitos de 15 mg de 9-THC e de 125 mg da maconha B, aspirados por voluntários. Gráfico 1. Foto: Reprodução.
As figuras abaixo, retiradas de uma pesquisa realizada na Unifesp-EPM, mostram os efeitos de 15 mg de 9-THC e de 125 mg da maconha B, aspirados por voluntários. Fica claro que, enquanto a aspiração de placebo (aquela substância que o indivíduo pensa ser maconha, mas na verdade não é) não alterou a capacidade das pessoas calcularem o tempo de um minuto, sob a ação da droga houve erros grosseiros de cálculo [30]. O tempo parece demorar mais para passar.

 

Efeitos cardiovasculares

 

A Escola Paulista de Medicina também realizou um estudo onde a freqüência cardíaca de voluntários sadios foi medida após a inalação de maconha e substâncias placebo. Os resultados podem ser vistos no gráfico a seguir, que mostra aumentos significantes na freqüência cardíaca, após o uso da Cannabis [30].

 

Efeitos respiratórios:

 

A maconha não é uma droga perigosa, no sentido de provocar mortes por “overdose”. A maioria das mortes provocadas pelas drogas ilícitas ocorre devido a ação destas no centro nervoso que controla a respiração, um local conhecido como tronco cerebral. A maconha não age neste local, pelo fato do tronco cerebral não apresentar receptores para o THC ou para a anandamida. Desta forma a respiração não é afetada pelo uso da plantinha.

 

Por incrível que possa parecer, a capacidade do pulmão em movimentar volumes de ar também parece não ser afetada com o uso da maconha. Pelo menos, foi esta a conclusão de uma pesquisa publicada no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine [25]. Porém, é provável que a resistência aeróbia seja diminuída nos usuários da erva, uma vez que a quantidade de monóxido de carbono (CO), produzida pela queima do bagulho, diminua a oferta de oxigênio aos tecidos, o que pode gerar fadiga precocemente.

 

Gráfico 2. Foto: Reprodução.
Outros efeitos:

 

Algumas pesquisas detectaram que a maconha pode influenciar o sistema reprodutivo tanto do homem quanto da mulher [28]. Entretanto, a maioria desses efeitos é reversível com a abstinência da droga. O sistema imunológico do ser humano também é afetado negativamente pela maconha. Mas, ainda existem poucas evidências que comprovem que com o uso da maconha o homem possa ficar mais suscetível à doenças [28].

 

Efeitos terapêuticos e efeitos prejudiciais da maconha

 

Nos últimos anos, os princípios ativos da Cannabis têm sido foco de inúmeras pesquisas que objetivam a determinação de possíveis efeitos terapêuticos [28]. Alguns trabalhos indicam a validade de seu uso clínico no tratamento de diversas doenças, como glaucoma, asma, epilepsia, e ainda na redução de vômitos e na estimulação do apetite em pessoas portadoras de diversos males. Entretanto, é importante também ressaltar os possíveis efeitos prejudiciais do uso da erva.

 

A maioria dos consumidores de maconha afirma que ela é muito menos prejudicial do que o fumo e o álcool, o que é uma afirmação precipitada e sem fundamentação científica. Na fumaça da maconha são encontradas inúmeras substâncias potencialmente tóxicas, algumas delas cancerígenas, como a amônia, o tolueno, o benzeno, a dimetilnitrosamina, a acroleina, entre outros [24]. 

 

Na realidade, tudo que se encontra no tabaco é encontrado na maconha, com somente duas exceções: a maconha não tem nicotina e o tabaco não tem THC. O resto, caro amigo, é igualzinho! Logo, esse papo de que a maconha é uma ervinha natural e que não pode prejudicar deve ser reavaliado, uma vez que o tabaco constitui a maior causa de morte evitável no mundo inteiro, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS31.

 

Um interessante trabalho de pesquisa mostrou que surfistas usuários diários de maconha apresentavam alterações pulmonares muito maiores do que a de pessoas que não a utilizam, muito embora tais lesões tenham sido menores do que as do grupo que consome somente tabaco [33]. Os autores analisaram um grupo de surfistas, voluntários da pesquisa, que fazia uso desta droga, mas que não usava outras drogas potencialmente tóxicas, como o tabaco. Desta forma, puderam comparar os prejuízos à saúde pulmonar em três grupos distintos: tabaco, maconha e o grupo controle composto por pessoas que não usam drogas.

 

Os malefícios do tabaco já estão completamente comprovados, e sabe-se, sem sombra de dúvida, que seus usuários tem uma enorme probabilidade de vir a morrer devido à falência do sistema cardiocirculatório ou da ocorrência de um câncer. Mas o fato do fumo produzir estes efeitos não nos permite afirmar que a maconha não os produza! Na literatura científica mundial não existem trabalhos epidemiológicos com usuários de Cannabis! Porém, alguns estudos básicos com animais mostraram que a fumaça da maconha tem capacidade igual ou superior à do tabaco de produzir alterações mitóticas nas células epiteliais dos pulmões. Esse fato não é nem um pouco surpreendente, pois a folha da maconha não é tratada como a folha do tabaco, e um simples baseadinho pode ter muito mais substâncias tóxicas do que uma unidade de cigarro.

 

Com relação à comparação da maconha com o álcool, devemos atentar para alguns detalhes. O álcool é a droga mais consumida em nosso planeta. Cerca de 45% da população adulta masculina que procura tratamento em hospitais consome álcool diariamente em níveis muito elevados. Ao afirmarmos que o álcool é mais prejudicial do que a maconha, teríamos que, no mínimo, ter um consumo de maconha tão intenso e extenso como o do álcool, o que não é o caso. Logo, esta comparação não pode ser feita.

 

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Ondas como Teahupoo, Tahiti, e Pipeline, Hawaii, entre outras, exigem total concentração na hora de encará-las, o que não combina com o uso de drogas. Foto: Tostee/ASP.
O surfista e a maconha

 

Dados estatísticos da Surfer’s Medical Association estimavam, em 87, que 60 a 90% dos surfistas da Califórnia eram usuários de maconha! [31]. Entretanto, isso não pode ser generalizado para outras partes do mundo. No Brasil, o percentual pode ser extremamente diferente. O estigma que os surfistas carregaram por muitos anos (e de certa forma ainda carregam) se deve a freqüente exposição de parte deste grupo à sociedade em geral. Enquanto a maioria dos usuários de qualquer tipo de droga as utilizou, na maioria das vezes, de forma furtiva e dissimulada, parte dos surfistas que fizeram uso desta droga se expôs em demasia, pois a praia é pública, além de ser o ambiente natural desta espécie em questão.

 

Fumar ou não fumar, usar ou não usar… Não é bem o caso. A questão principal é a desinformação geral que impera no meio somada ao receio de invocar assuntos tão polêmicos. Alguns surfistas podem ter fumado durante toda a sua carreira e mesmo assim ter obtido bons resultados. Isso também pode ser aplicado a qualquer profissional bem sucedido, independente da profissão. Porém, cada ser humano é influenciado por questões bio-psico-sociais distintas, e muitos garotos com enorme potencial atlético e competitivo podem ter ficado no meio do caminho devido ao fato de não terem sido bem orientados com relação ao uso desta substância. Muitos seres humanos perderam suas vidas no momento em que perderam o controle da situação, e atualmente, só é possível saber se você tem tendências a se tornar um viciado na medida em que você experimenta drogas. O risco existe… Você tanto pode dominar, quanto ser dominado.

 

Droga, acima de tudo, é um enorme problema social, e preconceito aliado a falta de informação são as piores coisas que existem em nossa sociedade… Todos estamos aqui tateando e tentando fazer o nosso melhor. É provável que existam surfistas beloteiros que sejam um exemplo de dignidade, responsabilidade, honestidade e que se preocupem com o planeta e com o próximo… E é provável também a existência de muito cristão mal criado, budista fofoqueiro, e careta egoísta…

 

Socialmente o consumo da maconha já não é mais visto como algo inaceitável, mas é proibido por lei, além de causar danos à saúde. Foto: Site Marihemp.com.
Existe chefe de família que come compulsivamente, é obeso e tem enormes chances de morrer vítima da obesidade, deixando muitas vezes sua família desamparada. A compulsão também é uma forma de fugir da realidade. No fundo, todos nós temos compulsão por algo nesse mundo… Comida, sexo, TV, drogas, e até surf… E nada que é compulsivo é legal, nem o surf ! A tendência que alguns seres humanos têm em negar fatos e argumentos muitas vezes também assume formas compulsivas. Mas, fato é fato, e não existem argumentos contra fatos. Estes são alguns fatos já comprovados pela ciência:

 

– Maconha faz mal a saúde, pode gerar câncer, pode transformar você em uma pessoa passiva, sem metas e psiquicamente dependente.
– Toda a droga altera a sua percepção do real.
– Atualmente, o uso de maconha é considerado crime, e seus usuários podem responder por este crime.
– Definitivamente a frase: “é uma erva natural e não pode te prejudicar”, não goza da mínima fundamentação científica.
– O tabaco é a droga que mais mata no mundo, e é vendida livremente.
– O álcool é responsável por grande parte dos acidentes de trânsito e por diversos crimes cometidos em nossa sociedade. Mesmo assim, muitos pais dividem as suas cervejas com seus filhos.
– Calmantes e ansiolíticos são drogas facilmente adquiridas em farmácias. Além de produzirem dependência biológica e psíquica, podem matar o usuário se ingeridos em dosagens superiores à terapêutica.

 

A questão é que, se queremos melhorar cada vez mais, se queremos crescer em nosso esporte e também como seres humanos, é extremamente necessário estarmos abertos para discutirmos essas questões sem hipocrisia e de maneira franca e científica. Somente encarando os fatos de frente poderemos optar conscientemente sobre o rumo que daremos às nossas vidas, à nossa realidade íntima e, por que não dizer, à nossa saúde física e mental.

 


“As leis atuais proíbem o uso, portanto consumir é ilegal e passível de punição perante essas leis, pelo menos em nosso país. Contudo, como as leis são feitas por homens, esses homens podem perfeitamente modificar as leis em benefício próprio, e se droga é proibida, por que não proíbem o consumo do tabaco? Há algum interesse nisso? Lembram-se da “Lei Seca”?


Segundo relatos científicos encontrados no texto acima, se o usuário pode desenvolver patologias fatais, particularmente não sou a favor do uso… Agora, se o seu uso, em doses farmacológicas, prescritas por profissionais da área de saúde, como tratamento alternativo pode beneficiar terceiros… Por que não?”.

Tácito Pessoa de Souza Junior
Mestre em Ciencias do Esporte – UNICAMP

Surfista há 33 anos

 

 

“Perante a legislação brasileira, adquirir, guardar ou trazer consigo, para uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, é crime previsto no art. 16 da Lei Complementar número 6.638/76, sendo apenado com detenção de 6 meses a 2 anos e pagamento de 20 a 50 dias-multa.


Entretanto, por força de permissão legal (arts.43 e 44 do Código Penal), comumente o Judiciário aplica uma pena substitutiva, de regra a prestação de serviços à comunidade ou à entidades públicas, sempre que existentes no caso concreto os requisitos objetivos e subjetivos. Isso significa que o réu se beneficiará dessa “pena substitutiva” em sua primeira condenação nos termos do art. 16 da L.C. número 6.368/76, que dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico ilícito e o uso indevido de substâncias entorpecentes, o que nem sempre acontecerá com aquele que reincidir nessa conduta penalmente reprovada.


O rol das substâncias ditas entorpecentes, como a Cannabis sativa, não consta do texto da lei, que é o que chamamos de norma papel em branco, mas está relacionada como tal pelo Serviço Nacional de Fiscalização de Farmácia e Medicina do Ministério da Saúde, sendo considerada “francamente alucinógena” pelos tribunais.

Obs: não importa onde o cara curta seu “baseado” – no seu quarto, numa praia deserta ou no meio do mato, sempre vai ser crime. O resultado vai depender apenas dele ser apanhado ou não.

Maria Regina Macri
Procuradora do Estado

 


“A natureza do homem busca continuamente algo mais elevado. Algo que supere a si mesmo e que seja, no entanto, a sua mais profunda verdade; que reclame todo o seu sacrifício, e que, no entanto, seja este sacrifício a sua própria recompensa”.

TAGORE
Prof.Ms.Marcello Árias
Professor de Educação Física
Fisiologista do Exercício
Mestre em Fisiofarmacologia – UNIFESP/EPM
Coordenador da Universidade da Prancha – UNIPRAN/UNIMONTE
Surfista há 27 anos.

 

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Prof.Ms. Marcello Árias
Coordenador da UNIPRAN – Universidade da Prancha
Professor do Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE/Santos

http://www.unimonte.br/site/unipran/