Picuruta Salazar confirma recorde na Pororoca

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Picuruta Salazar fez história ao surfar uma onda de 35 minutos e percorrer 12 quilômetros na Pororoca. Foto: Rick Werneck.
Imagine surfar uma onda durante nada menos que 35 minutos e percorrer 12,2 quilômetros, sem pausa, em plena selva amazônica. O feito, que mais parece história de pescador, foi realizado pelo santista Picuruta Salazar, um dos maiores surfistas brasileiros, durante o fenômeno da Pororoca, na foz do Rio Araguari com o Oceano Atlântico, no Amapá.

 

Junto com os big riders brasileiros Carlos Burle e Eraldo Gueiros, o australiano Ross Clarke-Jones e o talento da nova geração Rodrigo “Sininho” Tavares, também de Santos, ele participou da expedição ‘Pororoca – Surfando o Amazonas’. Foram sete dias praticando tow-in em ondas extensas de até 3 metros de altura.

 

“Foi um dia melhor do que o outro. Fui mais para ser piloto do jet do Burle, mas acabei surfando mais que todo mundo”, contou Picuruta, que aos 42 anos mostrou estar em plena forma. Os 35 minutos surfados por ele foram registrados por uma equipe de filmagem da Alemanha, em helicóptero e barcos. Antes disso, o recorde filmado era do cearense Adilton Mariano, que ficou por 26 minutos na onda.

 

Picuruta surfou com pranchas feitas pelo irmão Almir. Foto: Rick Werneck.
“Nunca imaginei surfar uma onda tão longa. A emoção maior era saber que estava surfando num fenômeno da natureza, que chama a atenção de todos”, comentou o surfista. “Na hora nem pensei no tempo que já estava em cima da prancha. Só depois me falaram que tinha surfado isso tudo”, disse.

 

“Fui para surfar e ser filmado. A onda foi abrindo e não parava. Surfei até ela acabar, ia para a direita e para a esquerda. Eu estava curtindo, me divertindo. Era puro prazer e só prestava atenção na onda e no que vinha pela frente, pois naquele rio tem piranha, jacaré, e o pior, as arraias, além de muitos troncos, por causa da força da onda. No primeiro dia, um pedaço de árvore quebrou a quilha da minha prancha”, explicou Salazar.

 

Segundo ele, a onda foi desgastante, mas o preparo físico, principalmente para as pernas, valeu a pena. “Fiquei em pé o tempo todo fazendo manobras. Cansei muito, mas estou bem preparado. Faço bike indoor todos os dias na Academia Unimonte, como parte da minha preparação, e acho que isso fez a diferença. O Sininho, por exemplo, surfou uma onda de 10 minutos e parou”, acrescentou Picuruta, que ajudou na organização do evento, coordenado pelo experiente Gary Linden, ex-presidente da ASP.

 

O Gato a caminho das ondas na Pororoca do rio Araguari, no Amapá. Foto: Rick Werneck.
Eles foram três vezes para a Amazônia, para preparar toda a logística do evento. “A Red Bull preparou uma estrutura sensacional. Tínhamos um barco, que parecia um mini-navio, com 27metros, dois jet skis, quatro barcos de alumínio, mais três botes de resgate e ainda um helicóptero, usado nas filmagens. Também contamos com toda a retaguarda, como o doutor Clemar, que tem grande experiência no socorro em provas de aventura e rallys. Foram 25 pessoas na equipe”, lembrou Picuruta.

 

Segundo ele, a segurança foi fundamental, porque o rio é muito largo, chegando a ter três quilômetros de distância entre as margens e as ondas vinham com muita força, “varrendo” tudo pela frente. “Foi a primeira vez que a Amazônia recebeu uma estrutura dessas para um evento. Foi memorável. As imagens feitas em 16 milímetros para um curta-metragem vão ser divulgadas em todo o Mundo”, disse.

 

“No início, entre os escolhidos para participar estavam o Kelly Slater (hexacampeão mundial) e o Shane Dorian. Mas no último momento eles furaram, alegando que não tinham conseguido visto. Perderam uma grande experiência de vida”, destacou Picuruta, que surfou com pranchas feitas pelo irmão, Almir Salazar.

 

Sininho, Picuruta, Burle, Ross, Eraldo e Linden. A barca contou com nomes de peso do surfe mundial. Foto: Rick Werneck.
Pororoca é o fenômeno produzido pelo encontro das correntes da maré com as fluviais durante as luas novas e cheias.  Isso acontece quando as águas da maré crescente tentam invadir o estuário, no momento em que a massa fluvial se opõe. E é na lua cheia de março e abril que a onda da Pororoca na Foz do Araguari vem mais forte. O termo pororoca vem do Tupi Porórka, que significa estrondar.

 

Agora, Picuruta, que tem o patrocínio da Da Hui, Red Bull, Reef, Surftrip e New Advance, se prepara para dois momentos importantes na carreira. Agora em abril, ele disputa o Mundial Masters de Surf, da International Surfing Association (ISA), na Nova Zelândia. Depois, volta com força total para o Circuito Mundial de Longboard, que terá a etapa de abertura no Brasil, na praia de Maresias, em São Sebastião.

 

“A prioridade continua sendo o título mundial de long”, ressaltou o surfista, que é o mais velho do Circuito e também o mais antigo, competindo desde 1991. Foi vice-mundial em 1992, 94 e 95. Ainda nos pranchões foi campeão do mundo no ISA Games, em 98, em Portugal, e ano passado garantiu o seu oitavo título brasileiro profissional, justamente em seu “quintal”, o Quebra-Mar, em Santos. “No Mundial Masters vou fazer parte da seleção brasileira e vou tentar uma vaga para o Mundial da ASP, que nunca teve um brasileiro”, afirmou.