Nat Young certa vez acreditou que os surfistas pertencem a uma tribo especial. Será? Foto: Reprodução Golden Breed. |
Para completar a deprê, leio uma matéria aqui mesmo no Waves: nosso Resende, exemplo de esportista e de cidadão, resolve sair na porrada com um pobre idiota havaiano, com a ingênua intenção de lavar a alma dos brasileiros. Olho por olho, dente por dente…
Resende X o tal babaca polinésio. O escroto do Hussain X o imbecil do Bush… A Polícia corrupta X os traficantes sem opção. Talvez esse meu texto, escrito e publicado há alguns anos atrás, possa inflamar ainda mais a ira de alguns internautas descerebelados, mas pode também ajudar alguma alma boa, algum surfista de alma, a salvar a sua estrela. Que chovam as críticas, que voem as pedras… Colunista foi feito pra isso mesmo!
“Os surfistas são membros de uma raça diferente de pessoas… São muito diferentes do homem normal que habita as ruas.”
Ao afirmar isso, Nat Young pode ter incorrido em um erro de avaliação. O que faz com que as pessoas sejam realmente diferentes? Quem foi Conrad Canha, Bunker Spreckels, Mike Hynson? Se você é surfista e desconhece esses nomes, você desconhece grandes expoentes de nossa tribo, e tenho certeza de que a grande maioria dos membros de nossa “tribo especial” nem ao menos tenha ouvido falar desses caras.
Entretanto, quem foi Mohandas Karamchand Ghandi (Mahatma Ghandi), Albert Einstein, Buda, Nelson Mandela? Aposto todas as minhas fichas e afirmo que 80% dos surfistas reconhecem e dão o devido valor a esses personagens…
Ser especial é marcar sua presença e passagem na Terra. Embora eu particularmente me orgulhe de pertencer ao clã dos surfistas, pois somos engraçados, divertidos e de bem com a vida, não acredito que as gerações futuras lucrarão com meu pensar… Sinto-me parte de um universo mais amplo, onde todas as tribos, todas as modas, todos os gostos e todas as “verdades relativas” interagem com o meio ambiente, com o planeta, com a chama do que nos concede a vida… A nossa natureza.
É nesse ponto que tenho me questionado de uns anos para cá. Se somos tão diferentes, se somos os novos vickings, se somos um povo do mar e da natureza, por que insistimos em viver na inércia absoluta e na mais completa indiferença com o massacre da vida e da existência em nosso planeta?
Por que nossa raça especial age igual as demais tribos do planeta e isenta-se da responsabilidade da luta pela preservação dos oceanos, das florestas, da atmosfera e de todas as manifestações da vida presentes nestes sítios? Por que insiste nos comportamentos agressivos e violentos e ainda transforma essa prática em espetáculo pago e aclamado?
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ONGs como a Sea Sheperd lutam todos os dias pela preservação da vida na Terra. Foto: Reprodução. |
Como se houvesse somente alguns responsáveis pela preservação da vida! Isso é um absurdo! A década de 90 foi muito importante para o Brasil em termos de surfe, em termos de conquistas e em termos de glórias individuais… Enquanto isso:
A cada minuto:
– 21 hectares de florestas foram destruídos.
– Acrescentávamos 12 mil toneladas de dióxido de carbono no ar, afetando a camada de ozônio que nos preserva da morte.
A cada hora:
– 685 hectares de hortas produtivas foram transformados em deserto.
– 1.800 crianças agonizaram com fome e morreram de desnutrição; 15 milhões por ano!
– Só nos Estados Unidos, 500 mil casos de câncer foram diagnosticados a cada ano, 20 mil levando à morte.
– Uma espécie viva foi extinta (banida para sempre de seu direito de existir) a cada cinco horas!!!
A cada dia:
– 230 mil recém-nascidos enfrentavam um futuro incerto.
– 25 mil seres humanos morriam por falta de água ou devido à contaminação.
– 10 toneladas de resíduos nucleares foram geradas pelas 360 usinas nucleares existentes. 360 “Chernobyls” em potencial.
Enquanto esse culto à morte se desenrolava, muitos de nós agíamos como seres primitivos, tribais na mais pura acepção da palavra, esmurrando-nos mutuamente nas praias do Brasil e perpetuando o localismo na luta pela “nossa onda”, pela “nossa praia”, pelos “nossos pertences”… Quanta hipocrisia!
No momento em que nossa tribo especial dava de ombros para tais problemas, alguns homens desconhecidos, seres que habitam as ruas, arriscavam suas próprias vidas na defesa da vida maior. Abnegados e sonhadores que dão vazão às suas ideologias de vida arregaçavam as mangas e partiam para o trabalho, formando clãs verdadeiramente especiais, tribos verdadeiramente diferentes dos homens comuns que habitam as ruas do nosso cotidiano.
São muitas essas tribos: Greenpeace, Sea Shepherd, Actionaid, Whale e Dolphin Conservation Society, Surfrider Foundation, entre centenas de outras. Quem de nós não se arrepia ao ver na televisão os atos heróicos desse pessoal diferenciado? Entretanto, quantos de nós fazemos parte dessas tribos? Quantos de nós doamos uma ínfima parcela de nosso tempo para colaborar com essas ONGs? Para aqueles céticos, que insistem em desconhecer os fatos, enumerei apenas algumas conquistas realizadas pelo Greenpeace nos últimos anos:
– Construção da maior usina solar com energia fotovoltaica do mundo (Ilha de Creta – Grécia).
– Moratória ao corte de mogno na Amazônia.
– Vigorosa campanha contra o tráfico de animais silvestres.
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O Greenpeace é uma das ONGs mais importantes do mundo, e já fez muito pelos seres vivos de nosso planeta. Foto: Reprodução. |
Muita gente não sabe que é muito fácil se filiar às ONGs. Todo esse trabalho só pode ser feito com a ajuda de voluntários, com a contribuição financeira necessária para se realizar as campanhas, as lutas, as mobilizações, etc. A grande massa dos voluntários doa R$ 10 por mês. Padeiros, eletricistas, donas de casas, adolescentes, alguns surfistas, etc. Gente simples, gente do dia-a-dia, mas gente que faz a diferença… Gente de uma “tribo verdadeiramente especial”.
Erich Fromm, um grande psicanalista de nosso tempo, tem uma visão muito interessante sobre o pessimista e o otimista. Para ele ambos são iguais, pois o pessimista não faz nada para mudar a sociedade, ele não acredita em mudanças. Por outro lado, o otimista não “move uma palha”, pois ele acredita que o mundo está caminhando na direção certa e aceita os desígnios divinos com uma passividade perturbadora. Nosso grande problema tem sido acreditar na mudança da massa, na mudança do todo, na mudança geral. Poucos de nós agem com a simplicidade criadora e renovadora da criança.
Em uma praia distante um menino recolhia estrelas-do-mar, uma por uma, jogando-as de volta ao mar. O sol estava forte e queimava as estrelas deixadas na areia pela maré. Um adulto aproximou-se e perguntou ao menino: “Por que você está fazendo isso, meu jovem? Existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora, e centenas de milhares de estrelas estão morrendo neste exato momento. Que diferença faz você jogar umas poucas de volta para o oceano, se a maioria vai perecer de qualquer forma?”
O menino então se abaixou para pegar mais uma estrela e, ao iniciar o movimento para devolvê-la ao oceano, voltou-se para o adulto e disse: “Para essa eu fiz diferença!”.
É relativamente triste constatar que a maioria de nós só percebe estes fatos simples da vida quando nos encontramos em situações semelhantes a esta das estrelas do mar. Nos dias de hoje não é impossível que de uma hora para outra um câncer se apodere de nosso corpo malhado, ou que o HIV repentinamente nos tire a alegria de viver. Nestes momentos, o que mais desejaríamos? Um ombro amigo, um afago, um telefonema, mas, via de regra, nossos entes queridos nos abandonaria ao sol escaldante da praia, e lá se vai mais uma estrela secar no calor do abandono.
Eu encaro como um desafio escrever e saber que centenas de pessoas vão ler essas linhas. Alguns vão gostar, outros vão repugnar, nada mais normal, nada mais justo. Porém, cada linha é pensada, repensada, lida e relida dezenas de vezes. Fico triste quando leio algumas colunas escritas por surfistas onde é patente o descaso com que se manifestam em assuntos que muitas vezes desconhecem por completo.
Produzir informação é algo sério, pois muitas pessoas podem ser influenciadas pelas idéias contidas nas linhas que traduzem o pensar. Confesso que fiquei indignado com uma recente coluna onde um surfista apoiava o extermínio dos tubarões da praia de Boa Viagem e, como se não bastasse, rotulava-os de assassinos! Os tubarões (Chondrichthyes) têm sido dizimados dos nossos mares com os mais elaborados requintes de crueldade.
Todos os anos milhares de tubarões são capturados por grandes navios de pesca japoneses, têm suas nadadeiras cortadas e depois são jogados vivos nos mares, onde se debatem por horas a fio até encontrar a morte. Das 250 espécies que existem nos oceanos, cerca de apenas cinco são potencialmente perigosas ao homem, mesmo assim, nós, seres humanos estamos prestes a extinguir o grande tubarão branco.
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Barco do Greenpeace patrulha os mares e os seres marinhos. Foto: Reprodução. |
O conforto de nossa vida moderna muitas vezes nos dissocia da realidade. Somos animais, e como o tubarão, estamos fadados a nos alimentar de outros seres vivos. A grande diferença é que cuidamos do bezerro, acalentamos o novilho e com um golpe certeiro de machado, estraçalhamos seu crânio, esquartejamos seu corpo e levamos o seu cadáver para ser vendido nos supermercados da vida.
Por vezes, como que para mascarar nossa culpa, nos divertimos apelidando as criaturas divinas com nomes pouco atraentes, como Baleia Assassina, Demônio da Tasmânia, Monstro do Mar, etc.
Anos atrás me desentendi com um grande amigo, um grande irmão… Aquelas coisas que acontecem na vida de todos nós, que dói, mas faz crescer. Em um dado momento, uma pessoa muito próxima a ele me perguntou se eu não tinha inveja dele. Fui para casa e comecei a pensar nas pessoas que me causam inveja, aquela inveja boa, necessária, que te impulsiona para tentar o impossível.
Aquela inveja que é o motor das boas causas: O capitão Cousteau encabeçou a lista, regendo os demais nomes. Para minha surpresa senti inveja das pessoas que agora estão dentro dos botes do Greenpeace. Quantas baleias não as terão salvado, no momento que interpuseram os seus próprios corpos entre o sublime gigante e o atroz arpão. Foi quando percebi um fato curioso: nem ao menos sei o nome dessas pessoas!
Acredito sinceramente que nós, uma classe “potencialmente diferente da dos seres humanos”, temos uma grande responsabilidade nas mãos, pois nosso esporte é belo, atrativo, plástico ao extremo, e através dele podemos sensibilizar muitas pessoas de coração aberto para as causas acima mencionadas.
Talvez, num futuro próximo, todos os organizadores de eventos abram seus palanques para que as ONGs atuem diretamente nas praias, sensibilizando as pessoas, realizando filiações na praia e ajudando a educar nossos filhos entre uma bateria e outra. Aí sim, Nat Young estará 100% certo…
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Alguns endereços que podem fazer a diferença
Sea Shepherd Brasil
Caixa postal 5010, Porto Alegre (RS)
Fone: (51) 331-3290
E-mail: [email protected]
Page: www.seashepherd.org
Objetivo: Proteção da vida em geral
Greenpeace
Rua dos Pinheiros, 240 – Cj.32 Pinheiros – São Paulo – CEP 05422-000
Fone: 0800-112510
E-mail: [email protected]
Objetivo: Proteção da vida em geral
Enviromental Investigation Agency
Address: EIA, 15 Bowling Green Lane, London ECI RoBD – England
Phone: 0171 490 7040
Objetivo: Proteção aos Tigres
Survival for Tribal Peoples
Address: Survival, Freepost PAM 5410, London WC1N 3BR – England
Charity no. 267444
Objetivo: Proteção para tribos indíginas (em todo mundo)
Actionaid
Address: Actionaid, Freepost BS4868, Chard, Somerset, TA20 1BR – England
Phone: 01460 61 073
Objetivo: Proteção e cuidados às crianças carentes do mundo
International Wildlife Coalition Trust (Whale Adopt)
Address: Dept 98BBC 3P.O. Box 73, Hartfield, East Sussex, TN7 4EY – England
Charity no: 1035 381
Objetivo: Adoção de baleias para a proteção da espécie (entre outros cuidados)
UK Wolf Conservation Trust
Address: UKWCT, Butlers Farm, Beenham, Reading, Berks RG7 5NT – England
Objetivo: Proteção aos lobos selvagens do mundo
Nature Alert (Whale World Magazine)
Address: Nature Alert, PO BOX 2060, Bath BA1 3YB – England
FAX: 01225 444929
e-mail: [email protected]
Reg.no 3107851
Objetivo: Produz a revista “Whale World Magazine” que nos informa da situação dos cetáceos no mundo
The Royal Society for the Protection of Birds
Address: Freepost, Sandy, Beds SG19 2BR – England
Charity no: 20 7076
Objetivo: Proteção aos passáros
Whale & Dolphin – Conservation Society
Address: WDCS, Freepost (SN863), Bradford-on-Avon, BA15 1YA – England
Adoption Hotline – 01225 867770
Reg. no: 2737421
Objetivo: Adoção de baleias para a proteção da espécie (entre outros cuidados)
Care for the Wild International
Address: Ashfolds, Horsham Road, Rusper, West Sussex RH12 4QX – England
Telephone (01293) 871596
Fax: 01293 871022
e-mail: [email protected]
Charity no: 288802
Objetivo: Cuidar de filhotes de animais (órfãos, sem proteção)
WSPA – World Society for the Protection of Animals
Address: WSPA, Dept AL595, Freepost NH2604, Northampton, NN3 6BR – England
Charity no: 282908
Objetivo: Proteção à vida selvagem (Bears and Cubs) através do sistema de adoção de animais
Rainforest Concert – supported by British Airways
Address: Rainforest Concern, 27 Lansdowne Crescent London W11 2 NS – England
Phone: 0171 221 4094
e-mail: [email protected]
Charity no: 102 8947
Objetivo: Proteção às florestas
LEAGUE – Against Cruel Sports Ltd
Address: 83/87 Union St, London, SE1 1SG – England
Established 1924
Registered as a Company no. 2880406
Objetivo: Lutar contra a caça por esporte nas áreas de ocorrências de animais selvagens na Inglaterra.
The Basking Shark Society
Address: Basking Shark Society, Cronk Mooar, Curragh Road, St. Johns, Isle of Man, IM4 3LM – England
Phone: 01624 801207
e-mail: [email protected]
Objetivo: Proteção ao Basking Shark
Rhino Emergency
Address: Appeal, Wwf – UK Freepost, Panda House, Godalming, Surrey GU 7 1BR
Objetivo: Proteção aos últimos rinocerontes brancos
“Um dia a terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar o homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris”.
Profecia feita há mais de 200 anos por Olhos de Fogo, uma velha índia Cree.
Prof.Ms. Marcello Árias
Coordenador da UNIPRAN – Universidade da Prancha
Professor do Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE/Santos
http://www.unimonte.br/site/unipran/