Brasil mostra sua força nas olimpíadas do surfe

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A equipe brasileira terminou na segunda colocação no ranking por equipes e mostra que o ouro é só uma questão de tempo. Foto: Ricardo Macario.
A conquista do vice-campeonato pelo Brasil no ISA World Surfing Games 2004, as olimpíadas do surfe, que durante oito dias reuniu 26 delegações do mundo todo na cidade de Salinas, Equador, mostra que estamos definitivamente entre as primeiras potências do esporte, e a tendência é só melhorar.

 

Das seis categorias em disputa, tivemos pelo menos um atleta na final de quatro categorias, ficando de fora somente no Bodyboard Masculino e no Tag Team.

 

Faturamos uma medalha de ouro com Marcelo Freitas no Longboard, duas de prata, com Teco Padaratz na Open e Naymara Carvalho no Bodyboard Feminino, e uma de bronze com Andréa Lopes no Surfe Feminino.

 

Na última edição do ISA Games, em 2002 na África do Sul, o Brasil ficou em terceiro lugar e o vice este ano mostra que no próximo temos tudo para trazer novamente o ouro – como aconteceu no ano 2000 em Maracaípe (PE).

 

A Austrália foi a grande campeã do torneio, com o Brasil logo atrás. Foto: Ricardo Macario.
No ranking geral de equipes, a Austrália foi a grande campeã, com a África do Sul na terceira colocação e o Peru surpreendendo ao ficar em quarto lugar. O Equador, país sede, conseguiu o décimo 11o lugar, sua melhor colocação na história da competição. Mas a verdade é que a equipe brasileira poderia ter chegado mais longe no Equador.

 

Além da eliminação precoce de Jussemir Junior, Marcelo Coutinho e Martins Bernardo na Open e dos bodyboarders Bruno Invyk e Roberto Bruno, além da jovem Marina Werneck no Surfe Feminino, um julgamento duvidoso tirou o ouro das mãos de Teco nos segundos finais da prova.

 

O tahitiano Hira Ternatoofa foi o campeão da categoria Open por menos de 10 décimos, somando 17.33 pontos em uma disputa acirrada e emocionante com o brasileiro, que fez 17.26, com o australiano Mark Richardson em terceiro (15.16) e o sul- africano Sean Holmes na quarta posição, com 11.77 pontos.

 

Teco Padaratz ficou com a medalha de prata na Open e por muito pouco não venceu. Foto: Ricardo Macario.
Padaratz ocupava a segunda posição na bateria final e precisava de uma nota 7.8 para pular para o primeiro lugar quando faltava menos de um minuto para o término, missão quase impossível levando em conta a demora entre as séries e a dificuldade em achar uma onda que abrisse do outside até o inside. Porém, a estrela de Teco brilhou e ele remou em uma boa esquerda, manobrou com perfeição até quase a areia e tudo indicava que tinha conseguido virar o resultado.

 

Porém, Hira veio logo atrás em uma boa onda e também fez duas boas manobras no outside, mas caiu ao tentar conectar a onda, quando já havia soado a buzina indicando o término da bateria. Suspense geral. Teco saiu da água mancando e foi ajudado pelos companheiros, que já comemoravam a vitória para o Brasil. Quando foi anunciada a nota dele, 9 pontos, a torcida brazuca explodiu.

 

Teco deu tudo de si na final e saiu exausto, carregado com forte dor na perna. Foto: Ricardo Macario.

Todos gritavam e vibravam a conquista do ouro quando foi anunciada a nota do taitiano, um 8.3, que virou em cima de Teco e ficou com o título, acabando com a alegria do Brasil. Teco e a equipe mal puderam acreditar, e o título foi para as mãos de Hira, que também não acreditou.

 

“Eu já estava muito feliz em fazer a final, principalmente depois de ter perdido e corrido pela repescagem. Esse título é uma recompensa pelo trabalho realizado aqui no Equador e um dos mais importantes da minha carreira”, disse o taitiano ao ser carregado pela torcida.

 

O brasileiro saiu de cabeça erguida e teve uma participação fundamental na equipe brasileira, contribuindo com toda sua experiência de 15 anos de circuito mundial, sempre orientando os mais novos durantes as reuniões diárias da equipe e também antes das baterias.

 

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Hira Terinatoofa também lutou muito para chegar à final e mereceu a vitória por sua história no surfe. Foto: Ricardo Macario.
“Foi uma maratona durante esses oito dias e demos nosso máximo. Sei que fiz a minha parte ao tirar a nota que precisava para vencer, mas o Hira também fez a dele e mereceu ganhar. O conheço desde pequeno e sei de sua trajetória para chegar até aqui, então foi um título merecido. Claro que gostaria de ter vencido, mas o vice também é um excelente resultado”, disse Teco.

 

O título de Marcelo Freitas no Longboard também foi conquistado com muita emoção em um duelo particular com o sul-africano Jason Ribbink, que ao lado de Freitas foi um dos destaques da competição. O brasileiro dominou boa parte da final, mas sempre com Ribbink na cola. Quando faltavam cerca de cinco minutos para o término, Jason veio em uma onda que poderia complicar a vida de Freitas, mas acabou caindo e perdeu a prancha, que foi parar nas pedras.

 

Marcelo Freitas (fundo) e Jason Ribbink travaram um duelo de gigantes no Longboard, com o brasileiro levando a melhor. Foto: Ricardo Macario.
Seus companheiros de equipe correram para levar a prancha reserva, mas a distância que ele teve que nadar até a praia foi longa. Mesmo assim, ele voltou para o outside e a menos de dois minutos do final teve fôlego para dropar mais uma e manobrar até a areia, causando apreensão na torcida brazuca. Felizmente a nota não foi suficiente para virar em cima de Freitas, que saiu da água carregado e chorou muito com a conquista de seu terceiro título consecutivo no ISA Games.

 

“Esse título é um dos mais importantes da minha carreira e lutei muito para chegar até aqui. Agora é só comemorar essa conquista minha e do Brasil”, desabafou Freitas, que não escondeu a forte emoção durante a entrega de prêmios, faturando o único ouro para o Brasil na competição ao somar 14.33 pontos. Ribbink ficou em segundo, com 13.74, e o aussie Joshua Constable em terceiro, com 11.83, com o francês Antoine Delpero somando 9.93 na quarta colocação.

 

Marcel Freitas se emocionou com o terceiro título consecutivo na competição. Foto: Ricardo Macario.

A outra medalha de prata do Brasil veio com a campeã mundial Neymara Carvalho no Bodyboard Feminino, que acabou atrás da australiana Kira Llewellin em mais uma disputa exclusiva entre as duas pelo ouro.

 

Kira abriu a bateria com uma nota acima de 8, o que nas condições do mar era um fator crucial para tentar a vitória. A brasileira chegou a colar com duas notas fortes, mas no final prevaleceu a melhor escolha de ondas da aussie, que somou 15.99 pontos contra 12.06 de Neymara.

 

A espanhola Marina Taylor ficou com a terceira colocação com 9.32 pontos e a inglesa Claire McGowen terminou em quarto lugar com 5.96.

 

“Participar dessa competição foi uma experiência muito boa e apesar da minha experiência também aprendi muito aqui. Acabei não

A aussie Kira Llewellin venceu no Bodyboard, com Neymara Carvalho em segundo e Marina Taylor, da Espanha, em terceiro. Foto: Ricardo Macario.
alcançando meu objetivo que era vencer, mas estou feliz com o vice”, disse a capixaba, que de Salinas partiu para a cidade de Manta, norte do Equador, ao lado de Bruno Invyk e Roberto Bruno, além do juiz Francisco Garritano para uma etapa do circuito mundial.

 

Apesar da bela participação de Andréa Lopes no Surfe Feminino, com a medalha de bronze em um honroso terceiro lugar, quem roubou a cena foi mesmo a peruana Sophia Mulanovich, campeã absoluta da competição com um desempenho excepcional. Desde as primeiras baterias ela já dava mostras que seria uma adversária difícil de ser vencida e que a vitória era só uma questão de tempo.

 

Andréa veio por fora e mesmo caindo para a repescagem teve uma atuação convincente e chegou até a final, que teve a norte-americana Julian Christian, outra surfista que mostrou talento e competência, e a aussie Sheridan Shields, que ao lado da compatriota Jessica M-Dyer formava o esquadrão de elite da Austrália.

 

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A brasileira Andréa Lopes ficou em terceiro no Feminino, com Julian Christian (EUA) em segundo e Sophia Mulanovich em primeiro, faturando o ouro para o Peru. Foto: Ricardo Macario.
Na final, Sophia dominou do início ao fim, com alguns momentos de ameaça por parte de Christian, e um surfe digno de uma top do circuito mundial WCT, somando 15.66 pontos contra 13.43 da norte-americana. A brasileira ficou com 9.50 e a Shields fez 7.17 pontos na soma das duas melhores ondas. A vitória do Peru foi muito comemorada na areia e representou um grande salto do país no surf mundial.

 

O Bodyboard Masculino contou com dois representantes da equipe espanhola, um feito impressionante para a delegação, que terminou na sexta colocação no ranking geral por equipes. Mas o campeão foi o australiano Andrew Lester, que conseguiu duas notas altas e somou 18.03 pontos, com o espanhol Yeray Martinez na cola, marcando 17.83 pontos, o francês Nicolas Capdevile em terceiro (17.43) e Álvaro Padron na quarta colocação, com 12.16 pontos.

 

Delegação equatoriana recebe o troféu por sediar a competição. Foto: Ricardo Macario.
Depois de tantas baterias, chegou o tão esperado momento da entrega de medalhas. Freitas foi o único brasileiro a subir no lugar mais alto do pódio e mostrou a importância deste título ao chorar bastante durante a execução do hino do Brasil, enchendo de orgulho todos os brasileiros presentes no local. Porém, um fato marcou negativamente a cerimônia mais importante da competição.

 

Depois de premiados todos os atletas individualmente, a equipe australiana subiu ao pódio para receber as medalhas e o troféu pela primeira colocação no ranking por equipes, prática normalmente realizada pelos primeiros quatro colocados em todas as edições do ISA Games. Após a festa australiana, a equipe brasileira já se preparava para subir quando Manolo Lozano, presidente da Federação Equatoriana de Surfe, pediu a presença do

O capitão da equipe Teco Padaratz recebe o troféu pelo vice-campeonato do Brasil no ISA Games 2004. Foto: Ricardo Macario.

capitão da equipe para receber o troféu pela segunda colocação.

 

Sem entender direito o que se passava, Tec Padaratz subiu ao palco e ficou surpreso ao perceber que não havia medalhas para o Brasil e que o troféu era na verdade um improviso, pois ninguém havia providenciado a premiação para o segundo, terceiro e quarto colocados.

 

A indignação foi geral e ainda em cima do palco Teco chegou a dizer para Lozano e Fernando Aguerre, presidente da ISA, que a tristeza e a frustração nos olhos dos atletas não tinha preço e que eles teriam que dormir com esse peso em suas cabeças, pois nenhuma reparação futura poderia resolver aquilo.

 

Mais tarde, durante o jantar de comemoração do Brasil, no restaurante Ipanema, do brasileiro Omar, que praticamente virou um membro da delegação durante os oito dias de

Brasil rumo ao ouro em 2006. Foto: Ricardo Macario.
disputas e comandou a torcida brazuca na areia, Manolo e a havaiana Maile Aguerre, vice-presidente da ISA, foram pessoalmente pedir desculpas à equipe e se comprometeram em enviar as medalhas o mais rápido possível para o Brasil.

 

Felizmente isso não tirou o brilho da conquista brasileira nem diminuiu a importância deste evento para o surfe mundial, que reuniu pessoas e culturas diferentes em prol de um esporte que tem em suas mais profundas raízes todos os valores que as olimpíadas agregam. Em 2006 vamos em busca do ouro.


Confira a galeria de fotos completa do ISA World Surfing Games 2004 no Equador.

 

Ricardo Macario viajou com