Campeão dos sete mares

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Depois de sofrer na areia, Kelly Slater finalmente beija a taça do heptacampeonato. Foto: Ricardo Mega.
O norte-americano Kelly Slater viu da arquibancada o sétimo título mundial cair no seu colo, graças à vitória de o australiano Nathan Hedge sobre o havaiano Andy Irons.

 

Frustrado por ter perdido nas oitavas-de-final precisando de uma nota baixa, Slater ameaçou ir embora depois da bateria contra o sul-africano Travis Logie.

 

Inclusive, seu manager chegou a colocar as pranchas no carro e esperá-lo. No entanto, ele diz que sentiu “uma coisa boa” a caminho e resolveu esperar, incentivado pelos companheiros.

 

E foi cercado pelos amigos, como os irmãos

Slater aguarda ansioso a definição da bateria entre Andy Irons e Nathan Hedge. Foto: Ricardo Mega.

Damien e CJ Hobgood, que ele assistiu de camarote a vitória de Hedge.

 

Apreensivo durante a disputa, pois Irons saiu na frente com um 7.67, Slater começou a respirar aliviado quando Nathan veio logo atrás em uma longa esquerda, mandando fortes batidas e rasgadas até o inside para arrancar 9.00 dos juízes.

 

O tricampeão mundial deu o troco com outra esquerda, em que atacou a onda com uma linha impecável e decolou na junção, tirando nota 9.13.

 

Hedge não estava para brincadeiras e explodiu outra esquerda com várias pancadas para garantir a vitória com uma nota 8.70. A festa foi total, com diversos atletas parabenizando o heptacampeão. Minutos depois de conquistar o título, muito emocionado, Slater falou com exclusividade à reportagem do Waves.Terra.

 

“É inacreditável. Realmente, este título é o mais importante da minha carreira. Há sete anos não vencia e todos os outros foram mais fáceis. Neste ano, venci etapas complicadas e consegui as maiores pontuações. É o meu melhor ano no Tour”, afirma.

 

A ironia do destino fica por conta de um detalhe. Há dois meses, Kelly e Nathan tiveram um desentendimento. Porém, quando eles se viram em Florianópolis, o australiano foi até Kelly e estendeu-lhe a mão para selar novamente a amizade.

 

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Kelly Slater aguarda o resultado da bateria ao lado dos amigos. Foto: Ricardo Mega.
“Temos opiniões divergentes sobre alguns assuntos, mas somos amigos. Agradeço a ele por ter me ajudado”, comenta.

 

Durante a coletiva de imprensa, Kelly confessou que se a decisão fosse para o Hawaii, ele estaria preparado para encarar Irons em casa. “Iria com tudo para Pipeline e não pretendia deixar escapar esta conquista”.

 

Slater dedicou a vitória a toda sua família, especialmente ao seu pai Steve, falecido há três anos. “Ele foi um grande incentivador da minha carreira”.

 

Esta conquista promete marcar a vida do

Nathan Hedge é o carrasco do havaiano Andy Irons. Foto: Ricardo Mega.
heptacampeão, pois desde o início da prova ele ficou impressionado com o apoio dos brasileiros.

 

“Foi incrível. O mais impressionante é que não estava no meu país. Se vencesse em casa, não teria isso. Foi surreal, as pessoas comemoraram como se eu fosse um brasileiro”, diz.

 

Aos 33 anos, o atleta confessou que o amadurecimento trouxe mais preocupação com os acontecimentos ao seu redor.

 

“Sinto-me responsável por passar coisas boas e ajudar a tornar o esporte melhor. Quero dividir com as pessoas coisas que vão além de uma conquista como esta. Existem coisas mais importantes acontecendo mundialmente”, analisa.

 

Kelly vem de uma geração em que grande parte dos atletas está parando ou já se aposentou. Porém, o norte-americano acredita que a maior contribuição destes competidores foi elevar o nível do surf competição.

 

“Um instigava o outro e isso foi fundamental na evolução. Queríamos estar sempre dois níveis acima. Ajudamos a mudar a maneira de competir e sou muito feliz por fazer parte disso”.

 

Sobre o romance com a top model brasileira Gisele Bündchen, ele disse que a história não passa de boato. Mas, deixou a galera com a pulga atrás da orelha, quando disse que comemoraria o título em Porto Alegre (RS) – já que a modelo é gaúcha. “Ela é apenas uma amiga”, afirma.

 

Slater chegou ao Brasil com a impressão de que se daria bem. Mas, depois acabou cansado devido a pressão que ele próprio colocou em si e não conseguiu relaxar. Agora, ele só pensa em esfriar a cabeça e saboreiar a conquista. “Vou para casa amanhã para relaxar com os amigos. Neste ano Pipe será apenas um passeio de férias”, confessa.

 

No entanto, a aposentadoria ainda não foi definida. “Vou ver o que acontece. Tem uma parte de mim que diz para continuar e a outra para parar. Ainda não sei qual vou ouvir, mas estou motivado a quebrar novos recordes. Só vou definir isto antes da primeira etapa na Austrália”, assinala.