Cabeça erguida e surf no pé

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Paulo Moura foi o segundo melhor brasileiro na temporada 2005 do WCT, na 19a posição. Foto: ASP World Tour / Tostee.
Segundo melhor brasileiro no ranking do WCT 2005, na 19a posição (atrás de Victor Ribas na 15a), o pernambucano Paulo Moura é um dos representantes brasileiros na elite mundial.

 

Aos 25 anos, Moura evolui a cada temporada e é sempre uma ameaça para qualquer adversário, além de chamar a atenção da imprensa internacional com performances convincentes em etapas como Teahupoo e Pipeline.

 

Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre a conturbada temporada havaiana, em que presenciou a morte do amigo e ex-cunhado Malik Joyeux e foi agredido pelo local Makua Rothman em Pipeline.

 


Paulo Moura esbanja estilo na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha. Foto: Alexandre Gennari.
Você está totalmente recuperado da inflamação na coluna que sofreu no início do ano, depois do Quiksilver Pro?

 

A recuperação foi rápida, graças a Deus. Estou bem, fiz um ótimo tratamento no Brasil e voltei bom já para o Tahiti.

 

Em novembro passado fez um ano que você puxou o Dê da Barra naquela bomba na praia do Cardoso, em SC. Você sempre treina tow-in e já praticou em outros picos?

 

Sempre treino tow-in com os amigos e fiquei muito feliz por ele ter pegado aquela onda! Normalmente eu começo surfando, mas naquele dia o Capilé me falou que aquele seria o dia para o meu teste de pilotagem, pois o mar estava muito grande e difícil. Comecei a  gostar mais do tow-in desde o dia que surfei na Ilha dos Lobos, fiquei amarradão na adrenalina de poder surfar ondas grandes. Aquela onda é forte e muito tubular, então comprei o meu jet e tenho treinado bastante para poder surfar ondas maiores e acrescentar algo mais na minha carreira.
 
O Nordeste tem fama de ser fraco de ondas, mas existem vários picos famosos por boas ondas como Serrambi (PE) – de onde você veio ? Itacaré (BA), Pipa (RN), Noronha (PE). Como você avalia isso?

 

Realmente Serrambi tem ondas de qualidade internacional, além dos fundos de coral, pedra e areia de Noronha, entre outros picos. O que não temos na região são ondulações grandes e constantes, mas quando acontece fica clássico.
 
Por quê você decidiu se mudar para o Sul?

 

Acho que foi um conjunto de fatores, como poder surfar ondas boas com muito mais freqüência e swells maiores. Isso é importante para se manter no rip das ondas do tour, mas não perco os swells clássicos de inverno em Serrambi e de verão em Noronha.
 
Você terminou o ano como o segundo melhor brasileiro no circuito, na 19º posição (atrás de Victor Ribas, 15o) – exatamente como em 2004. Seu melhor resultado foi um quinto em Teahupoo, com três nonos na seqüência: Japão, Trestles e França. Você considera a regularidade seu grande trunfo no tour para se manter entre os top 20?

 

A regularidade com certeza é muito importante, pois prova que estou surfando bem em diferentes tipos de ondas e crescendo com bases sólidas no WCT.

 

Clique aqui e confira mais fotos de Paulo Moura em 2005

 

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O surf de Moura e sua posição como top mundial evoluem a cada nova temporada. Rasgada com estilo em Les Bourdaines, Seignosse, França. Foto: Karen / ASP World Tour.
Qual sua meta para 2006?

 

Vou continuar meu trabalho com preparação física e treino em ondas fortes e de qualidade e tenho certeza que meu empenho e crescimento como profissional vão gerar os frutos que desejo. Tenho certeza que em 2006 vou subir mais degraus no ranking.
 
Como você avalia esta temporada no Hawaii? Em Pipeline você avançou direto para a terceira fase em condições difíceis contra um local e o terceiro do ranking.

 

O Hawaii é sempre um teste para seu crescimento em ondas fortes e grandes e eu cresci bastante este ano, principalmente em Sunset, que considero uma onda muito difícil. Em Pipe e Backdoor passo a maior parte da minha

Moura atende os fãs em sessão de autógrafos em Porto Alegre (RS). Foto: Juliana Dutra.
temporada treinando. O campeonato foi bom, mas não tive muita sorte nas baterias e acabei pegando as piores horas, sempre com vento maral. Gostaria de ter ido mais longe, mas sinto que estou cada vez mais preparado. Infelizmente minha melhor session rolou no dia em que o Malik (Joyeux), meu amigo e ex-cunhado, morreu. Surfei o dia inteiro só com mais duas pessoas e peguei altos tubos. Foi um dia estranho, mas tenho certeza que o sentimento do Malik sempre foi de alegria.

 

Como você reagiu a morte dele, que além de amigo já foi seu cunhado e morreu surfando em um lugar sagrado e especial para os surfistas? Chegou a sentir medo da profissão?

 

Não, pois sei que Deus estará sempre nos protegendo e aquela era a hora dele. O Malik surfou ondas bem maiores e mais intensas e morreu surfando e feliz em um excelente momento da vida dele. Guardarei para sempre o sorriso que ele tinha no rosto e o ?go for it? na alma.

 

Além da morte do Malik Joyeux, outro fato bastante comentado da temporada foi a agressão que você sofreu do jovem local Makua Rothman no Pipe Masters. Como foi o episódio?

 

Eu precisava somente de três pontos e pouco e faltavam 30 segundos para o fim da bateria. Então veio aquela ondinha e remei decido, pois era minha última chance. Nesse momento todos na bateria começaram a gritar para o Makua ir e impedir que eu tentasse a virada em cima do Luke Egan, pois o Makua precisava de quase dez para virar. Então ele subiu nas minhas costas e descemos juntos. Se ele puxou minha cordinha não posso afirmar, mas minha prancha parou e eu caí. Lá fora ele veio, olhou para mim e deu um sorriso. Depois, na areia, ao passar por mim virou e me agrediu por trás.
 
Você acha que há pouca segurança para os atletas estrangeiros no WCT, principalmente em picos com localismo acirrado como o Hawaii? O que você espera que a ASP faça com o Makua? Isso pode influenciar no seu treinamento no arquipélago?

 

Definitivamente não tem segurança nem ordem e o Hawaii é um lugar onde sempre acontece isso. Já aconteceu com o Peterson (Rosa) e outros atletas e a ASP não se manifesta. Isso é muito ruim para a imagem do surf, pois mostra o quanto ainda temos que crescer. O julgamento é por conta da ASP e das pessoas. Vou continuar indo ao Hawaii normalmente, pois tenho minha consciência tranqüila e vou sempre estar de cabeça erguida, pois maior que Deus ninguém é.
 
Como será seu início de temporada?

 

Devo ir para Noronha no começo do ano para começar a treinar, depois volto para Floripa, onde faço minha pré-temporada na parte física, e então dou início à maratona de viagens e competições.

 

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