Temporrada havaiana

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Guilherme Tâmega prepara a porrada em Pipeline. Foto: Luis Claudio Duda.

A temporada havaiana 2005/2006 ainda não acabou. Aliás, para os sortudos que ficaram por aqui, está apenas comecando.

 

O crowd se foi e o localismo ficou mais calmo, mas as histórias não são poucas e vou contar um pouco do que aconteceu por aqui, nessas mal traçadas linhas, como diria o velho e batido ditado.


Tudo começou em meados de setembro, quando uma série de ondulações deixou a galera em êxtase por semanas: altas ondas, sol, pouco crowd. Às vezes era possível dividir o line up só com os brothers.


Luis Cláudio Duda encara Pipe Tyson. Foto: Nagoy Natsumoto.
Rocky Point, Velzyland e OTW rolaram em dias épicos, sem crowd e com tudo no lugar. As estrelas, sempre à procura de uma onda que traga os holofotes da fama, estavam competindo pelo mundo.

 

Com isso, deixaram os pobres mortais surfando o North Shore. Ondas que nas semanas seguintes tornariam-se palco de uma verdadeira guerra de nervos, ego e todo o tipo de sentimentos ruins que o crowd do Hawaii pode trazer.


Surfar por aqui nos meses de novembro e dezembro deixou de ser divertido há muito tempo. Crowd e localismo existem em toda parte. Necessário? Sim, mas algumas vezes os locais pegam pesado.

 

Muitas vezes, não adianta ter comportamento exemplar, basta você existir para acontecer uma catástrofe e você estar cercado por dezenas de locais loucos pelo seu sangue. Tudo bem, isso faz parte da cultura do surf havaiano.

 

Tudo tem seu lado positivo, e nesse caso foram as ondas. Essa foi a melhor temporada que vi, comparável com a de 1998, alucinante também. Pipeline bombou de uma maneira que nunca havia visto. Várias ondulações de Oeste, ideal para Pipe, uma atrás da outra. Uma maior que a outra. Uma mais perfeita que a outra.


Fico espantado com alguns surfistas e bodyboardes que, sem apoio e estrutura, põe para baixo com maestria e coragem. Nomes consagrados como Stephan Figueiredo, Everaldo Pato, Mauka, Bruno Santos e Danilo Couto barbarizaram Pipe quando o bicho pegou.

 

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Paulo Barcellos não alivia quando fica cara a cara com Pipe. Foto: Luis Claudio Duda.
No bodyboard alguns nomes conhecidos fizeram o filme: Tâmega, Barcellos, Luiz Villar, Maguinho, Jeffinho, Josifran, Soneca, Roberto Bruno, Uri Valadão e Jean Ferreira. Uma galera cheia de raça e energia que vem pra cá e pega altas ondas, levantando o nome da nação brasileira.

 

O Honolua Bay Pro foi um passo para trás no julgamento, mas foi um salto para frente no quesito humildade. Os organizadores viram que nada ia bem por lá e no Pipe Pro desandou de vez.

 

No fim acho que será positivo, pois abriu espaço para uma profunda reformulação no quadro técnico. Quem sabe desse fosso sai petróleo.

Luis Villar ataca Pipe de ARS e é o melhor brasileiro na prova. Foto: Luis Claudio Duda.


Impressionante o número de australianos que chegam no Hawaii todos os anos. Nessa temporada, começaram a ser perseguidos.

 

David Winchester foi “massacrado” por rabear um local em Pipe. Aussies foram intimados dentro e fora da água por não respeitarem a regra número um em Pipeline: não entre em bando de dez ao mesmo tempo!

 

Pareciam “gremlins”, andavam em bando, impregnando toda queda. Até eu, um cara tranquilo e pacífico, fiquei irritado esse ano. Mas beleza, eles sabem do arsenal brasileiro, é só impor respeito e eles ficam quietos.


Queria ressaltar que no evento de Pipe, duas ondas foram determinantes. Um tubo do GT para Backdoor, muito mal julgado. A outra foi um tubo do Uri que só mesmo com muita má vontade para soltar aquelas notas medíocres.

 

Tomei até uma chamada para não falar mal do quadro técnico, pois poderia sofrer represálias ou ficar mal visto pelos juízes. Digo e repito: o quadro tecnico da IBA Hawaii é ridículo. Vamos acordar e impor algumas regras para que isso não role mais.

 

Não preciso ter medo quando falo a verdade. A lei funciona por aqui e a verdade está à meu favor. Voltando aos heróis da temporada, quero ressaltar a participação de Paulo Barcellos em Pipe.

 

Nas duas primeiras baterias que disputou, despachou atletas do calibre de Kainoa McGee em combinação. PB foi um monstro e acho uma injustiça o cara nunca ter ganho em Pipe. É um dos melhores seres humanos naquela ondas.

 

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Uri Valadão decola na rampa de Honolua. Foto: Luis Claudio Duda.
Perdeu numa bateria que não vi inteira, mas me disseram que foi mal julgada. Não vi, não opino.

 

O catarinense Luis Villar é um dos atletas que mais gosto de ver na ilha. Está sempre a 220 volts. Se joga em todas as ondas, se abriu, abriu, se fechou… Vai pro tudo ou nada, sempre.


Maguinho evolui a cada ano e faz história em nível internacional pela atitude nas bombas. Josifran Araújo, ou Joe, como é chamado por aqui, foi o atleta que mais passou baterias no mundial de Pipe. Veio das triagens, competiu tanto em marolas quanto em bombas de 12 pés.

 

Roberto Bruno olha no olho de Pipe. Foto Arquivo: Luis Claudio Duda.
Roberto Bruno pegou um tubo monstro num mar grande, declarado o mais pesado da temporada até então. É um atleta que sempre impressiona. Tem muito desinformado falando que o cara não gosta de ondas grandes.

 

Os desinformados são tão loucos que chegaram ao absurdo de comentar que Tâmega estaria velho e que esse seria o último ano de Barcellos. Nós três rimos muito desse infeliz comentário.

 

Tâmega e Barcellos ficam aí por um bom tempo, podem ter certeza. São os dois watermen brasileiros que pegam as maiores ondas em Pipeline, os tubos mais ocos, no lugar mais sinistro.

 

Nenhum ser vivo, com passaporte brasileiro, pisa nessa ilha pega as ondas que eles pegam em Pipe, acreditem ou não. Quem não acredita, compre a passagem e venha ver de perto. E a nova geracão de Villar, Maguinho, Josifran e Uri vem com tudo.


Claro que nesse processo tem sempre alguém que se machuca. Dessa vez foi o amigo e highlander  José Lorão. Em uma de suas primeiras quedas em Pipe, um mar entre 12 e 15 pés, após despencar num drop atrasado, ficou muito tempo embaixo dágua e se afogou. Foi retirado do mar, quase morto.

 

Na sequência foi parar no hospital e saiu dias depois. Partiu para encarar Pipe novamente e quase deixou o queixo nas bancadas do Hawaii. Mesmo assim valeu a pena a temporada pro cara. Pegou altas!

 

As ondas do Hawaii são de cair o queixo e os locais também podem tirar ele do lugar. O Hawaii representa a força máxima do mar em ondas incríveis, perfeitas e perigosas. A temporada 2005/2006 foi porrada.