O campeão paulista Josifran Araújo parece ter contraído a famosa “febre havaiana”.
Depois de sua primeira temporada nas ilhas, ele voltou ao Brasil, ficou quatro meses competindo e treinando e embarcou novamente para o arquipélago.
Há quatro meses em Oahu, nesta entrevista Josifran conta tudo que rolou no inverno havaiano e fala sobre os planos para o futuro.
Como foi a temporada 2005/2006?
O campeão beija a esposa Jennifer durante o casamento dos dois no Hawaii. Foto: Luis Claudio Duda. |
O North Shore é um grande teste para o crescimento em ondas pesadas. Evoluí muito este ano, principalmente em Pipeline, que é uma onda muito difícil e perigosa.
Fiz muitas amizades, surfei novos picos e conheci vários pontos turísticos irados. Tanto de visual terrestre como para mergulho. Conheci os vulcões, aproveitei o máximo que pude.
Qual foi o maior mar que você encarou?
Foi no dia 16 de novembro em Pipeline. As ondas chegavam aos 15 pés e quebravam muito longe da praia. Vento terral e formação muito perfeita. Foi impressionante pegar aquelas ondas e viver aqueles momentos. Me lembro de um momento que eu estava varando e vi um cara pegar um tubo muito grande, de bracos abertos, com uma baforada monstruosa – foi o maior tubo que já vi.
Quando ele saiu todos na praia gritaram. Chegando no outside, sobrou uma boa e foi a melhor onda da queda e da minha vida. Um drop muito difícil que pensei não ser possível, consegui manter o controle, coloquei pro tubo e saí cego na baforada. É um dia que jamais esquecerei.
Quais suas ondas preferidas no North Shore?
Pipeline e Backdoor são ondas que proporcionam os melhores e mais perigosos tubos. Qualquer um que complete um tubo desses, sai do tubo com o sorriso estampado no rosto.
Passou algum sufoco?
Graças a Deus, não! Eu estava bem alerta e cada vez mais malandro. Aqui no Hawaii é bom ficar esperto: onde e quando atravessar a arrebentação, onde cair, não rabear locais, cuidado pra não bater nos corais, onde esperar onda para não tomar a a varredora. Não gosto nem de imaginar o que aconteceria se não tivessem os dois pinheiros em Pipeline, para a galera se posicionar, com certeza aconteceriam mais tragédias.
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Josifran encara a bomba no evento de Pipe. Foto: Luis Claudio Duda. |
E sua performance no evento de Pipeline?
No primeiro dia entraram no mar as baterias da triagem. O mar estava ruim, com ondas entre quatro e cinco pés, inconstantes. Nesse dia, alguns brasileiros ficaram pra trás: Magno Oliveira e Daniel Motta. Eu passei duas baterias – sendo que na primeira peguei um bom tubo pro Backdoor e os juízes não viram e quase me prejudicaram.
Na fase seguinte o mar amanheceu com ondas de 10 pés mas não muito boas. Os organizadores decidiram colocar as baterias na água. Perdi no quarto round, por meio ponto, para um havaiano.
Galera bodyboard reunida no casório do campeão paulista. Foto: Arquivo Duda. |
Luis Villar chegou na semifinal e ficou em sétimo. Na final, altas ondas em uma disputa eletrizante. Teve até notas trocadas. Na premiação, deram a vitória da etapa para Ben Player e depois voltaram atrás e consagraram Damien King.
Como estão os patrocínios e apoios?
Tenho apoio da Souls 4 Jesus (souls4jesus.com), Genesis, Kpaloa, vereador Badu, Jornal High Tide, Mega Bit e Surf Sol.
E nos dias de ondas menores, qual o pico predileto?
Costumo cair em Rocky Point, lá as valinhas têm mais força e fica bem divertido. O pico é bem raso e o crowd bem de boa. Sempre dá pra pegar bastante onda.
O que mais te impressionou na temporada?
Tomar consciência do risco que é pegar onda aqui. É comum você voltar de um dia normal de ondas e ver no noticiário a morte de uma pessoa que estava caindo com você. Não importa o lugar do mundo que você nasceu, aqui todos sabem dos riscos de pegar essas ondas. Quando essas fatalidades acontecem, é preciso estar bem preparado psicologicamente para não se deixar abater.
E seu casamento no Hawaii?
Foi no dia 11 de fevereiro, na praia de Wailele, North Shore. Minha esposa Jennifer estava linda e foi o dia mais feliz da minha vida. Deus nos abençoou com um pôr-do-sol muito bonito. Bruno Lemos e o Duda nos prestigiaram tirando altas fotos. A galera compareceu em peso, tanto os brothers do bodyboard como todo o pessoal da igreja aqui da ilha.
Quais seus planos para 2006?
Este ano minha prioridade é fazer viagens internacionais, material fotográfico de qualidade e filmagens. O contrário do que venho fazendo ao longo da minha carreira, em que a prioridade sempre foi as competições. Pretendo conhecer outros lugares e culturas. Em maio vou para a Indonesia e também quero conhecer as outras ilhas havaianas. E quero estar em outras barcas que aparecerem.