Andy Irons curte um free surf na praia Mole com um modelo oferecido por Henry Lelot. Foto: Paulo Tracco. |
Desde o verão de 2001, quando houve falta de blocos de poliuretano no mercado nacional, passei a me especializar nesta tecnologia, na época muito criticada por shapers de Norte a Sul do país, que tentavam fazer as pranchas shapeadas em EPS (poliestireno expandido, também conhecido como isopor) e laminadas com resina Epoxy, utilizando técnicas e procedimentos aplicados ao material convencional (poliuretano / resina poliéster).
O resultado foi pranchas leves e flexíveis demais, pouco resistentes e duráveis, com performance inferior dentro d?água.
Os problemas mais comuns eram: morosidade do processo de produção, em função da secagem mais lenta da resina epoxy; amarelamento precoce; pin holes e bolhas de ar durante a laminação, por falta de experiência dos fabricantes.
Então, muitos desistiram: a tecnologia era muito recente e ainda não estava pronta para entrar no mundo das pranchas.
Porém, alguns shapers, que podem ser contados nos dedos de uma mão, não desanimaram e deram continuidade ao processo de desenvolvimento do produto.
Felizmente, fui um deles e pude colaborar no desenvolvimento e na popularização do novo produto, que iniciava assim a entrada no mercado.
A partir do fechamento da gigante americana Clark Foam (então líder mundial do mercado de blocos de poliuretano) no início deste ano, muitos fabricantes passaram a desenvolver novamente o produto, e a maioria atualmente já oferece pranchas confeccionadas em EPS / Epoxy ao mercado consumidor, fazendo desta tecnologia uma tendência clara e irreversível no mundo das pranchas.
Desde então, o material vem evoluindo bastante. Os fabricantes que seguiram em frente no processo, pouco a pouco foram descobrindo os segredos do novo material, obtendo pranchas de maior flexibilidade e tensão, o que proporciona um impulso extra nas mudanças de direção, semelhante a um ?estilingue?.
O processo de secagem foi acelerado com a utilização de estufas, o amarelamento precoce foi eliminado, as pranchas tornaram-se realmente leves, resistentes e duráveis, e a tradicional resina poliéster, agora utilizada no gloss, deu o toque final, agilizando o processo de produção e tornando semelhante, em muito, o acabamento de uma EPS/Epoxy ao acabamento de uma prancha convencional.
Eu disse leves, porém, nem tanto. No início, para garantir pranchas de extrema leveza, os fabricantes aplicavam apenas uma fina camada de fibra de cada lado do bloco de EPS, que por ser praticamente composto de ar, proporcionava pranchas realmente superleves, com menos de 2 quilos.
Pudemos constatar, então, que uma prancha leve demais não é o ideal: ela perde em ?drive? (direção) e pegada. Acaba flexível demais, ocasionando maior inércia nas trocas de borda e um insuperável problema de timing na onda, além de quebrar e trincar muito facilmente.
Então passamos a aumentar a gramatura de fibra sobre a prancha para regular a flexibilidade e chegamos à seguinte conclusão: o peso ideal de uma prancha deve variar proporcionalmente ao peso do surfista.
Assim conseguimos chegar à pranchas de peso cerca de 10 % mais leve que o de uma convencional, peso considerado ideal.
Hoje em nossa oficina produzimos pranchas em poliuretano / poliéster (convencional), e também em EPS / EPOXY, e, há cerca de um ano, começamos a testar a compatibilidade entre os materiais.
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Na opinião de caras como Andy Irons, a prancha EPS / Epoxy força o surfista a se adiantar em relação ao ponto crítico da onda. Foto: Paulo Tracco. |
Então, chegamos a uma prancha mais resistente e durável, com maior flexibilidade e tensão, garantindo maior impulsão dentro d?àgua.
Esse mix tornou-se excelente para o caso de iniciantes, surfistas sedentários ou que surfam com menor freqüência, pois o bloco de EPS garante uma prancha que flutua 30% a mais do que uma convencional, garantindo remada e velocidade própria superiores.
Também é reconhecida a vantagem de uma EPS / EPOXY em ondas pequenas e fracas como as do Nordeste do Brasil, por exemplo.
Contudo, o surfe profissional ainda não aprovou a nova tecnologia, embora atletas de renome tenham sido vistos na mídia utilizando o novo conceito. Trata-se de uma estratégia de marketing mais voltada a atingir o consumidor final, não exatamente direcionada à performance competitiva, uma vez que é raro ver atletas de ponta realmente competindo com EPS / EPOXY e obtendo grandes resultados.
Durante as etapas do WCT no Brasil, costumo fazer pranchas para vários top do circuito mundial, como Andy, Occy, Slater e Joel Parkinson.
E o consenso é o de que a prancha de EPS / EPOXY força o atleta a surfar mais adiantado em relação ao pocket da onda, o que não favorece o critério de julgamento, salvo dias em que as condições do mar estão realmente bem pequenas (1 a 2 pés de onda) e o EPS se torna uma vantagem competitiva.
Porém, o problema se agrava na medida em que o mar sobe e as ondas tornam-se mais fortes. Patrick Tamberg, 19, jovem talento de Fernando de Noronha, especialista em tubos e aéreos, também constatou o mesmo e acabou optando por voltar ao poliuretano, após mais de três anos usando pranchas feitas somente em EPS / EPOXY.
Um outro entrave, comentado por muitos: por menor o tamanho do quebrado, você não pode continuar surfando porque acabará entrando muita, mas muita água mesmo, pelo fato de o EPS ser bem mais poroso.
Ao deixar a prancha exposta ao sol, a pressão do ar quente, expele a água do interior da prancha, mas sempre ocorre residual, proporcional ao tempo que o surfista permaneceu dentro d?água.
Porém, o maior problema em questão é com relação à manutenção da prancha, que não pode ser consertada com resina poliéster, pois os materiais são incompatíveis – a resina poliéster derrete instantaneamente o EPS.
Além disso, poucos fabricantes e pessoas que consertam pranchas são realmente especializados na nova tecnologia, tanto no Brasil quanto no exterior.
Isso por se tratar de tecnologia ainda recente, mesmo com a grande divulgação que vem ocorrendo mundialmente.
A nova ?Combo? Como afirmei acima, o EPS derrete ao menor contato com a resina poliéster. Porém, a resina Epoxy é compatível com os dois materiais (poliuretano / EPS).
A partir desta constatação e das conclusões anteriores, passei a desenvolver um novo conceito híbrido, baseado na combinação do poliuretano com a resina epoxy, que denominei Combo.
A Combo alia as vantagens do poliuretano às do epoxy e se torna a melhor de todas as opções.
Depois de quase seis meses de testes, estamos lançando este novo conceito no mercado e o resultado tem sido excelente: se não é mais leve, não é mais pesada, porém é a mais resistente e durável entre as três opções.
Em termos de performance também é superior, porque a resina epoxy, além de ser mais resistente e durável do que a resina poliéster, tem maior flexibilidade e tensão.
A Combo tem maior durabilidade em função das características químicas da resina epoxy, e a sua performance também se mantém funcional por mais tempo, diferentemente da resina poliéster, cujo processo de cura é ininterrupto e permanente, e a performance da prancha entra em queda em curto período de tempo.
Além disso, na Combo não entra mais água do que numa prancha convencional, porque é feita no já conhecido poliuretano, e você pode consertar com resina poliéster sem problemas, pois os materiais são totalmente compatíveis.
Para saber mais, entre em contato por MSN [email protected], ou pelo tel. 55 21 24906412. Visite o site Lelot e também confira o Fórum Shape Online no site Surfcore, onde esclareço dúvidas dos usuários sobre o mundo das pranchas.