Durante todo o ano de 2006 acompanhei o alarde em torno da performance do time Pro Júnior australiano nas principais publicações locais, campeonatos, free-surf, expressions sessions etc. Um climinha de já ganhou rondava geral.
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Faltavam uns dois meses para o Mundial Pro Júnior em Narrabeen e a revista Australian Surfing Life solta um DVD encartado na edição de novembro com uma trip envolvendo 12 dos melhores juniores australianos para Telos Islands, um pico estilo Mentawaii, menos crowd e com umas 15 ondas diferentes.
O filme é animal. Os caras tiram onda em
cima do reef muito raso e soltam as manobras mais estonteantes já vistas nos últimos tempos.
Fiquei assustado quando vi o time ozzy escalado para o mundial e achei que eles chegariam em massa às finais. Não só pelo filme, mas também pelos campeonatos nacionais e regionais, onde pude acompanhá-los de perto.
Todos são mega stars de seus patrocinadores, têm amplo amparo de grana, material, preparação física e psicológica, além de experiência, muita experiência em todo tipo de onda.
Enquanto Martins Bernardo conversava comigo na praia sobre perrengue de grana e a satisfação de estar participando daquilo tudo, os juniores Wade Goodall e Laurie Towner, juntamente com Occy, Luke Egan e outras grandes estrelas da Billabong, assinavam pôsteres, tiravam fotos com os fãs e distribuíam adesivos na mega store da marca em Manly Beach.
Depois, quando conversava com Halley Batista e Martins Bernardo, tive a nítida impressão de que aquilo tudo para eles era um sonho realizado. Molecada simples mesmo, surfando com sorriso no rosto, com gana de ganhar alguma coisa, com enorme satisfação de estar até na expression session.
Antenados com tudo, vendo outros muleques surfar bem de perto, acompanhando as baterias, torcendo pelos conterrâneos, fritando no sol só de bermuda, conversavam com todo mundo etc.
Um que não conseguiu se segurar fora do campeonato foi Alex Chacon, que chegou a invadir a área de competição (sem atrapalhar), e pegou umas ondas talvez para dizer ?também tenho condições de estar aqui!?.
Enquanto isso, a maioria dos gringos na área VIP com seus i-pods nos ouvidos, de caras meio fechadas e todos mega produzidos, pareciam tirados de uma vitrine, preocupados se sairiam bem na foto do próximo catálogo.
A banca australiana começou a cair logo de cara, ao ser anunciada a grade de baterias. Muitos foram parar na repescagem. E os que passaram direto a primeira fase, teriam que esperar algum conterrâneo no round 3. Assim, nomes de expressão como James Wood e o badaladíssimo Laurie Towner ficaram pelo caminho.
No round 3, mais um confronto local derrubou a grande revelação Sam Page e as atenções voltaram-se para Julian Wilson, que tem os aéreos mais estilosos e altos de toda essa mulecada.
Tanto que levou a Expression Session sem deixar dúvidas, incluindo dois aéreos altíssimos, girando com perfeição e voltando com uma incrível segurança. O locutor chegou até a comparar o aéreo vencedor ao executado por Andy Irons na bateria final do WCT México.
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Os havaianos também tiveram a infelicidade de se enfrentar em duas baterias da terceira fase e chegaram enfraquecidos ao round 4. Destaque para o surf forte e ultra-moderno de Hank Gaskell.
Os japas estão evoluindo muito, mas não chegaram às fases finais. Ainda faltam estilo e calma nas baterias. Chamou atenção a tática usada por adversários de Adriano de Souza durante todo o evento.
O brasileiro tem status e surf de WCT, campeão do WQS e Mundial Pro Junior, por isso remavam em qualquer coisa na tentativa de ousar o máximo possível.
Mineiro no estilo, Adriano ficava sentado só esperando as boas e fazia o serviço direitinho nas ondas da série.
Nas fases decisivas, os confrontos brasileiros foram de arrepiar, Thiago Camarão versus Heitor Pereira foi uma das melhores baterias do campeonato. Pelas quartas, no duelo entre Camarão e Mineirinho, a tensão tomou conta do ar.
O mar não estava num bom momento, devido à troca da maré, e Camarão nada pôde fazer sem ter onde surfar. Uma vez mais a experiência de Adriano de Souza contou e muito.
Conversei com Camaroo ? como é chamado pelos australianos ? depois da bateria. Ele estava abalado, pois sabia que poderia ter ido mais longe e estava com surf para isso.
?Velho, eu precisava só de uma onda boa. Se entrasse uma, você ia ver só!?, comenta o surfista de Juquehy. O quinto lugar foi amargo para ele, devido às condições, mas ficou de bom tamanho.
Jordy Smith, campeão do evento, é um fora de série. Tem um surf muito parecido com o de Joel Parkinson. É alto e soltíssimo. Tem segurança, estilo, precisão, variação de manobras, posicionamento no outside e todos os ingredientes para estar entre os top dos tops.
Na praia, todos comentavam que o sul-africano era o único que poderia ser páreo para Mineiro. E foi o que aconteceu. Depois de Mineiro acabar de vez com as esperanças australianas na semi, barrando Matt Wilkinson, a bateria final foi o tira-teima de todo o campeonato.
Jordy mostrou ao que veio e superou o brasileiro com um placar apertado, mas sem deixar dúvidas. Mas, e os australianos? O que sobrou pra eles? A Expression Session e a confirmação de que no beach break somos muito melhores. Em Narrabeen ou na Costa do Sauipe!
O que me deixa mordido é sentir a vibe ?amigo-da-onça? e perceber que, mesmo respeitando o surf de Mineiro, eles (os australianos) ficaram aliviados pelo brasileiro não ter repetido o bicampeonato de Joel Parkinson. E, depois de constatar que ele não conseguiu, voltam a falar mal, fazer piadinhas etc.
No dia seguinte, uma foto no Manly Daily estampava Mineiro errando um aéreo. E, no mesmo dia depois do campeonato, locais marrentos de Narrabeen já arrumavam encrenca com os brasileiros no free-surf.
Incomodamos nas baterias e no free-surf! Então, vamos continuar torcendo por nossos atletas e que 2007 seja de vitórias para todos nós! Valeu, mulecada brazuca, representou muito bem!
*Colaboraram Fernando DG e André Suelze