Confesso que o WCT desse ano está atrativo. Quatro etapas e quatro vencedores diferentes.
Todos admiramos os fenômenos e, no fundo, torcemos por eles: Jordan, Shumacher, Pelé, Tiger Woods, Slater, dentre tantos outros fora de série que o esporte nos apresenta através dos tempos.
Mas, no fundo também fica aquela sensação de ?que campeonato sem graça?, como se você ligasse um filme e já soubesse do final.
O maneiro são as surpresas, as disputas acirradas, o emparelhamento de nível, os detalhes, as frações de segundo etc.
Isso é que o torcedor gosta de ver.
Mick, Damien, Andy e Taj, cada um com uma vitória no tour, perseguidos de perto por Joel e Kelly. A briga tá boa, mesmo com cerca de mil pontos separando Mick de Kelly. Com seis etapas restantes, isso não é nada.
Já começaram os comentários de que Dean Morrison perdeu para Slater talvez na melhor bateria do campeonato do Chile.
Não concordo, as ondas de Slater eram um pouco menores e os tubos de Dean foram mais secos nos seus high-scores.
Óbvio que as ondas de Slater foram sensacionais. Já sei que vão surgir mais comentários de outras baterias ?suspeitas? e tudo mais. Mas, para variar, esse não é exatamente o objetivo desta matéria.
Enquanto Adriano Mineirinho foi garimpar o fundo de pedras de Arica, Bruno Santos laricou os tubos salgados e não fez feio, pelo contrário.
A maior reflexão que nossa torcida merece fazer com esse fato, é que não temos um especialista para as buraqueiras do WCT.
Pode ter 10, 15 anos de experiência de tour que não adianta: se analisarmos as cerca de 20 ondas surfadas pelos brasileiros na primeira fase e na repescagem (com raras exceções), as notas são ridículas! Os que passaram para o round 3 então sinceramente, lamentável!
Andy Irons deixar Vitinho boiando sozinho por 10 minutos, foi no mínimo tiração de onda, tipo uma ?certeza? do havaiano que o resultado jamais seria alterado. Torci demais também: em vão!
Léo Neves, legal, irada a onda 9.93 na primeira fase. Assisti a bateria, os filmes, trocentos replays e torci muito para que esse tipo de coisa esporádica se repetisse nas fases seguintes.
Veio um flash-back de Renan Rocha com a nota 10 em Pipe, como se tivesse sido “o” campeonato para nós brasileiros. Mas também me veio o fato de que o próprio Renan foi protagonista da pior temporada no tour por um atleta que participou de todas as etapas num único ano.
Para viver o presente é necessário morrer para algumas coisas do passado.
Ou seja, não adianta em nada viver de fatos isolados, de lampejos de inspiração. Como quanto aquele perna-de-pau do time faz um gol de bicicleta num dia e, nos outros 364, só faz gol contra.
O forum vai se entupir de comentários ?ah, o cara é esforçado, tem uma carreira de lutador, sem patrocínio do nível dos gringos (…)? ou aqueles assim, ?poxa Toledo Piza, você nem conhece os caras, tá detonando a carreira deles, tadinho, não merece essa pichação, roubaram, preconceito, babação pros gringos?… e por aí vai.
Quem viu e ouviu as transmissões pela internet em inglês captou o que é ter respeito geral nas ondas do tour. Um cara que, até certo ponto, é novato, um wildcard, um trialista por natureza e um tuberider por excelência, recebe deslavadamente elogios dos locutores pela atitude e, principalmente, pelo surf que se adapta às ondas do tour.
Estamos falando de Bruno Santos. O cara não se intimida com Taj, Knox, com quem seja lá quem for. Ele simplesmente rema nas maiores, dropa, atrasa, entuba fundo com estilo, sai na baforada, volta remando pro outside, marca o cara, continua buscando nota alta etc.
Quer dizer, ele faz numa bateria de WCT o que a maioria de nossos ranqueados não faz! Isso me deixa P da vida! Duvido que Andy Irons deixaria Bruno Santos sozinho no outside, com tubos quadrados rolando para a esquerda! Alguém tem peito para dizer que sim?
E não venham me dizer que é ?mais um fato isolado?. Tahiti e Pipeline não me deixam mentir.
Continuo mestre na arte de plantar bananeira para enxergar o rodapé mais empoeirado do ranking com nossos conterrâneos escondidos nas injustiças sociais e na roubalheira dos juízes que facilitam para que haja um australiano campeão mundial nesse ano. Fala sério!
Tenho que me contentar mesmo com os fatos isolados de triunfo e torcer para que venha algum ?especialista? pelo WQS.
Ao escrever o parágrafo de cima, fui dar uma verificada no ranking do WQS e vemos algumas caras novas sim, ótimo.
Estamos precisando de uma pegada mais forte, uma vontade mesmo de vencer, em vez de curtir baladinha, cervejinha, premiação de 33º e 17º e oba-oba de WCT.
Heitor, Jean, Odirley, Simão, Jihad e Pablo, por favor, acelerem agora no segundo semestre e vamos pras cabeças! Ainda falta chão e vocês não estão tão bem ranqueados assim.
Pessoal do WCT, vamos tentar fazer pelo menos seis ondinhas boas nos campeonatos, duas em cada bateria, não é muito. Quarta de final é um resultado interessante e suficiente para manter-se pelo circuito principal.
J-bay, onda mais ?cheia?, deve facilitar um pouco pra vir alguma alegria.
Vamos aguardar.