Perfeição em South Narrabeen

Brazucas deitam e rolam na Austrália

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Alex Chacon pronto para mais um canudo perfeito em South Narrabeen. Foto: Fernando DG.

Ventos de até 100 quilômetros por hora, nuvens pretas, navio encalhado na areia da praia, árvores derrubadas, chuva intensa, alguns desaparecidos e muito mais.

 

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É este o cenário visto há mais de um mês pelos moradores da costa de Sydney, Austrália. Toda a situação me fez lembrar de quando cheguei aqui, em pleno verão. Céu limpo, clima amigável e, é claro, poucas ondas.

 

Quando Bruce, o primeiro australiano que conheci aqui, me dizia “se prepare para o inverno, amigo, você vai ver caras como Tom Carrol, Nathan Hedge e vários outros tops em ondas de 8 pés plus, entubando realmente fundo”.

 

Jeferson Duarte dá show na session memorável. Foto: Fernando DG.

E eu me perguntava a toda hora quando chegava na praia e via aquelas merrecas de meio metro mexido, “será que é possível isso que Bruce está me dizendo”?

 

Passaram-se meses, o inverno foi chegando e o clima foi mudando conforme as cirúrgicas previsões diziam (às vezes nem tão cirúrgicas assim).

 

Ondulações bombásticas se aproximavam da costa de Sydney e região, com intervalos de dois a quatro dias, fazendo com que quebrassem mares clássicos em lugares pouco prováveis.

 

Numa terça-feira, por volta do meio-dia, após receber a visita de dois grandes amigos e surfistas profissionais Jeferson “Toco” Duarte e Alex Chacon, estava prestes a comprovar isso.

 

Havia um certo clima no ar enquanto conversava com os dois, dizendo que algo aconteceria naquela tarde nublada e aparentemente normal de meio de semana. Saímos de casa com o equipamento fotográfico, as pranchas e muita vontade em direção à praia de Narrabeen, palco do tradicional Billabong Pro Junior com suas poderosas e clássicas esquerdas em seu lado
norte.

 

Foi quando, por acaso, decidimos checar o lado sul da praia e tivemos uma surpresa inacreditável. Ondas muito tubulares de 2 metros com séries maiores quebravam no maior estilo “Pipeline australiano”, com
um vento terral na medida certa, abrindo para os dois lados e alguns poucos na água.

 

Após cinco minutos de total choque e expressões únicas de felicidade, a dupla foi pra água sem perder tempo e eu, com meu guarda-sol, câmera, cadeira e MP3, me posicionei no melhor lugar que encontrei na areia.

 

Tenho de comentar aqui a performance desses dois atletas e devo dizer que fiquei realmente impressionado com os caras. Alex Chacon, com um estilo polido e seguro, mesmo em recuperação – assim como eu – de
uma contusão no joelho, talvez tenha pego a maior bomba do dia, além de manobras aéreas e batidas verticais invertendo a rabeta em lugares críticos com muita facilidade.

 

Mas foi “Jeff”, como é conhecido aqui pelos ozzies, ou “Toco”, como é chamado pelos brasileiros, sem dúvidas, quem fez coisas impossíveis. Deixou-me assustado e a todos que estavam na praia com a segurança que entubava de backside nas ondas de até 2 metros.

 

Sumia num estilo “Slater” por trás do pico, passava por duas ou três sessoes lá dentro, saía depois da baforada e, como se não bastasse, mandava mais duas ou três manobras de muita pressão pra finalizar a onda.

 

Até o estiloso Ozzie Wright, que apareceu após algumas horas, ficou bem apagado dentro do mar ao ver e vibrar com a performance do brasileiro. Com isso, “Toco” acabou rendendo uma impressionante sequência de 51 fotos em apenas uma onda.

 

Simplesmente sem palavras seu nível de surf e, é claro, do material obtido também. Depois dessa session de surf, cheguei a uma simples conclusão de que realmente Bruce estava certo. A costa se transforma no inverno, digo até que vale a pena passar pelo verão com poucas ondas pra pegar toda esse “mel” do frio.

 

E, para os raros dias sem ondas (que ainda não rolaram), devo lembrar que temos o excelente treino para o surf, o snowboard, a seis horas de Sydney.

 

Com muita disposição, entre um chocolate quente e outro, o inverno daqui é cheio de opções e não dá sossego!