Surf & Política
Big Broder
Tentando me informar sobre o assunto, li uma entrevista com o porta-voz dos guerrilheiros, que um repórter, após meses de negociação, teve a chance de conhecer em um acampamento e conversar durante a guerrilha mais antiga da América Latina.
Na entrevista, o tal líder desse grupo explicou os motivos de sua causa e se colocou no papel de vítima da globalização e de interesses de uma minoria que detém o poder no país onde vive.
Sem a pretensão de discutir a legitimidade da guerrilha, mas com base nas palavras ?socialistas e de igualdade? daquele militar, me perguntei até que ponto o surf, como um esporte que cresce a cada ano, ainda mantém o seu lado humano entocado e até onde a sua política não interfere na sua essência.
Em um primeiro momento nos choca essa comparação: surf e política não têm nada a ver, muito pelo contrário, o surf muito se difundiu por ser a antítese de qualquer forma de controle, organização e poder.
Os tempos mudaram e o esporte contracultura acabou de certa forma se sabotando, criando a sua própria cultura e, por mais esquisito que pareça, sua política.
Não falo aqui das regras, regulamentos e imposições das associações que profissionalizam o esporte, mas sim dos interesses dos grandes patrocinadores que magicamente conseguem alterar alguma ou outra nota durante uma competição, e moldam da maneira que mais lhe convém o comportamento de toda essa nação.
Quando me refiro ao lado humano do esporte, penso na inclusão social do surf. Nosso esporte é altamente sociável, pois qualquer indivíduo com sua prancha no ?outside? é igual a todos os outros que ali estão. Não importa se o cara saiu de seu berço de ouro ou desceu o morro, não importa sua crença, muito menos a sua cor. Somos todos iguais como filhos e dependentes do oceano, não é à toa que chamamos nossos parceiros de ?brother?.
Prova disso são os diversos projetos de inclusão social e escolinhas que dão oportunidades e resgatam jovens através do surf, ensinam a energia que é caminhar sobre as ondas, a camaradagem e a irmandade de viver no universo dos surfistas.
No entanto, às vezes essa indescritível sensação de prazer e amizade dá espaço à indignação, quando vemos surfistas que, embalados pelo localismo ou modismo, discutem, brigam na água ou se preocupam mais com seu estilo e ?tiração de onda? na areia do que com seu surf em si.
E, infelizmente, é o que cresce ao longo dos últimos anos. Nas competições não é diferente: quantas matérias foram escritas neste site comentando notas duvidosas e a consequentemente virada de gringos em cima de algum brasileiro nas baterias de campeonatos? Até qual fase dos campeonatos dão tratamento igual a todos os competidores nas diversas etapas ao redor do mundo?
Tirar nota de um atleta e usar como desculpa o seu estilo em cima da prancha não levará o esporte a lugar algum. Deixar de dar patrocínio a quem não tenha um rosto ?rentável? ou porque talvez fora da água não tenha um estilo ?cool? para os padrões do mercado é uma injustiça. Se isso não é política, então o que é?
A magia do surf é justamente a diversidade, cada surfista expondo, à sua maneira, a mesma arte. Por mais utópico e ingênuo que soe, o ideal seria extrair o que cada atleta pudesse agregar ao esporte, e não eliminá-los como fazem no atual modelo de competição.
No entanto, exceção ao que se tem visto, Pablo Paulino acabou de sagrar-se bicampeão mundial pro junior de surf. Ganhou de muita gente boa apresentando um surf bonito, radical e forte. Provou para o mundo mais uma vez que, quando fazemos algo com paixão e perseverança, os resultados aparecem e não há como logomarca ou cifra tirar isso de nosso caminho.
Espero que por muito tempo, seu surf resista ao peso do logotipo da bermuda que outros vestem, pois com a raça e determinação que ele e nossos outros guerrilheiros tupiniquins têm, logo alcançaremos a causa maior de nossa guerra: um campeão do WCT, independente do lobby feito por trás dos palanques.
O ?diabo loiro? australiano que se cuide…