Fera do kite

Guilly Brandão extrapola

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Guilly Brandão é um dos melhores atletas do mundo na modalidade kite waves. Foto: João Henrique.

O paulista radicado em Ilhabela Guillherme Brandão é um dos melhores atletas do mundo na nova modalidade do kite surf, o kite waves, onde o surfista é rebocado nas ondas pela pipa, ou melhor, pelo kite.


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Guilly já morou na Austrália e surfou em vários picos ao redor do mundo. Hoje, os focos do atleta são a evolução da modalidade, participar dos circuitos brasileiros e mundial de kite waves e ainda percorrer o globo atrás de ondas perfeitas para kite surfar.


Com um cartel invejável de títulos – tetracampeão brasileiro de kite surf na categoria Freestyle, tricampeão brasileiro na categoria Waves e também um título mundial no Waveriding (kite surf nas ondas) -, Guilly humildemente comenta: “O kite waves é muito divertido, mas temos que praticar com consciência e bom senso”.

Atleta de Ilhabela tem diversos títulos no curriculo. Foto: Roberto Forte.


Confira entrevista exclusiva com nosso principal representante no circuito mundial de kite waves.

 

Soube que teu pai também foi um grande atleta.


Na verdade, a genética apta aos esportes aquáticos em minha família vem desde o meu avô. Ele foi um dos primeiros atletas praticantes do que na época era o início do wakeboard no Brasil e já mandava até 360 nos anos 60 / 70, além de ser um excelente windsurfista e mergulhador. Meu pai foi um dos pioneiros do windsurf no Brasil e também mandava muito no ski aquático e na caça-submarina.

 

E você quando começou a surfar?


Guilly encara Pipeline, Hawaii. Foto: Rafael Oliveira.

Quando eu tinha uns 14 anos eu comecei a me dedicar de verdade ao surf. Todo dia eu e meus amigos saíamos da aula, comíamos alguma coisa bem rápido e corríamos para balsa que liga Ilhabela ao continente e depois corríamos mais um pouco até chegar no ponto de onde partiam os ônibus para Guaecá e Maresias.


Quando você foi morar na Austrália?

Eu terminei o colégio e não tinha muita certeza do que iria fazer da vida, se iria prestar vestibular pra entrar em uma faculdade ou continuar a tentar a carreira de surfista profissional, então eu uni o útil ao agradável e fui estudar turismo / hotelaria, surfar e competir na Austrália.

 

Então, você sonhava ser um surfista profissional?


Não tinha muito claro isso na minha mente, mas ficou bem claro que era isso que eu queria pra minha vida depois de morar na Austrália.

 

Você foi para lá sozinho?


Fui sozinho e fiquei assim durante cinco meses, depois meu amigo Fernando Ferri foi me encontrar por lá.


E onde você morou no tempo em que passou passou fora?

 

Fiquei morando um ano em Sydney e depois mais um ano em Perth. Fizemos uma trip por toda a costa australiana de carro, saindo da Gold Coast, na costa leste, e terminando em Margaret River, na costa oeste. Surfamos altas ondas por todo o caminho e também passamos dois meses morando em um veleiro, velejando e surfando por toda a costa oeste. Nesse meio tempo fui também em duas temporadas para a Indonésia e surfei altas ondas em Desert Point, Scar Reef, Nias, Gland, Sumba e, lógico, Bali.

 

E o kite, como entrou na sua vida?


Eu tinha visto uns kites na Austrália e já tinha achado bem interessante, mas quando eu voltei para a Ilhabela fiquei impressionado com a galera que já praticava a modalidade. O meu amigo Miller Morais (também atleta profissional) foi quem mais botou pilha e me colocou de vez no esporte.

 

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Guilly passeia pelos canudos das Ilhas Maurício. Foto: Nicolo Violato.

E como se tornou profissional?


Depois de alguns meses de prática eu percebi que não só levava jeito pra coisa, mas que também estava completamente apaixonado pelo esporte, e comecei a treinar sério para o circuito brasileiro de kite com meu amigo Guiga (Guilherme Casal Del Rey) de técnico e com patrocínio da Gzero. No meu primeiro ano de circuito, meu objetivo era ser o atleta revelação, mas acabei ganhando o título brasileiro. Aproveitei o momento gerado e conquistei o título brasileiro nos três anos seguintes.

 

E o kite surf nas ondas?


Foi uma evolução natural na minha carreira. Uma união ideal da minha paixão pelas ondas e pelo kite. Eu cheguei num ponto da minha carreira que já não estava mais tão motivado com o freestyle.

Guilly Brandão ataca o lip com estilo. Foto: João Henrique.

 

E, com o crescimento muito grande da categoria Waves, tive a visão de que esse era o caminho não só para minha carreira como para a evolução do esporte. A Mormaii, meu patrocinador, acreditou na minha visão e apoiou 100% nessa mudança de foco. Foi a realização de um sonho. Viajar para lugares de sonho, com condições clássicas para o surf. Eu aproveito pra surfar na remada cedo e, quando entra o vento, continuo pegando ondas, só que de kite!!

 

Na sua opinião, qual a diferença de surfar e kitesurfar as ondas?


A primeira grande diferença é a potência que o kite oferece, gerando mais velocidade para extrapolar nas manobras e passar seções impossíveis de serem passadas no surf tradicional. Você pega um surfista de qualquer nível de surf e põe pra surfar de kite, pode ter certeza de que o nível dele vai ser elevado ao cubo.

 

Também tem a facilidade de não precisar enfrentar a arrebentação toda vez que pegar uma onda, pois com a potência do kite dá pra voltar ao outside muito rápido, aproveitando as ondas como rampa pra decolar nuns vôos!!! Consequentemente, o número de ondas surfadas também triplica. Se tiver na fissura mesmo, e sozinho no mar, dá pra pegar a primeira e a terceira da série. E tem também a capacidade do kite de transformar um mar medíocre pro surf na possibilidade de muita diversão…

 

Como você observa esse “crossover” de manobras entre as modalidades?


A base das duas modalidades ajuda na criação e no desenvolvimento das manobras nas ondas. Como o aéreo 360 com passagem da barra do kite pelas costas. Para eu conseguir mandar um aéreo 360 no kite wave, eu preciso utilizar uma técnica do freestyle pra tornar a manobra possível.

 

Em quais picos você já kitesurfou nas ondas?


Peru, Hawaii, Ilhas Mauritius, Chile, Portugal, Itália, Caribe e a costa brasileira. Foram varias sessões alucinantes.


Qual foi a mais marcante?

 

Cara, tiveram várias marcantes, mas acho que nas Ilhas Mauritius a session em que eu peguei o tubo mais perfeito de kite já fotografado até hoje e a sessão em Pipeline com 10 a 15 pés na temporada passada foram as mais marcantes.

 

E o projeto kite surf nas ondas?


É o nosso projeto de percorrer o Globo em busca de ondas perfeitas que possamos surfar cedo, antes do vento, e kitesurfar à tarde, mostrando para a galera o potencial do esporte.


O que você visualiza com o crescimento da pratica do kite waves?


Temos os dois lados da questão. O bacana é o crescimento do esporte. Eu, como atleta profissional, tenho como uma das minhas metas dirigir esse crescimento de uma forma positiva, então é muito importante que junto com o crescimento venha a consciência de que os surfistas na remada sempre vão ter prioridade. Apesar do fato de que sempre que o vento aperta mesmo, geralmente só sobram os kites na água, e educar os novos praticantes com as regras de direito de passagem e ética no velejo. É isso aê, galera, vamos nos divertir com consciência e bom senso. Altas ondas a todos, com ou sem vento!!! Keep it real!!!

 

Guilly Brandão         

Data de Nascimento: 15/02/81

Altura: 1,70 metros

Peso: 70 quilos

Principais títulos: tetracampeão brasileiro de freestyle, tricampeão brasileiro waves, campeão mundial 2005 categoria Waves, terceiro colocado no Mundial 2007 categoria Waves.