De olho no penta

Andrea Lopes fecha novo patrocínio

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Andrea Lopes comemora nova parceria com a surfwear AntiQueda. Foto: José Luiz Borges.

A tetracampeã brasileira de surf profissional Andrea Lopes fecha patrocínio com a surfwear Antiqueda.

 

A marca investe na imagem do maior símbolo de vitória do surf feminino brasileiro, apostando em grandes conquistas dentro e fora do mar.


O contrato acaba de ser assinado e a surfista já compete na segunda etapa do SuperSurf, em Pernambuco, defendendo o novo patrocínio.


Andrea ocupa a terceira posição no ranking e não esconde que seu objetivo é chegar ao pentacampeonato, sendo a única atleta a acumular tantos títulos no país.


“Encaro essa parceria como um grande impulso para buscar esse penta e fazer um trabalho dentro e fora da água, acho que todas as atletas deveriam se preocupar também”, afirma a surfista.


Pioneira na categoria e responsável por abrir portas ao surf feminino na década de 1990, a atleta mostra entusiasmo para novas conquistas.


“É uma realização para qualquer empresa ter uma atleta do porte de Andréia. Ela veio consagrar o nosso trabalho de 19 anos. A surfista é a coroa que recebemos por ter trabalhado certo”, frisa Paulos Sérgio Nogueira, diretor da Antiqueda.


Segundo o Paulo Sérgio Nogueira, a marca pretende fazer um trabalho amplo, não só pensando nos campeonatos. Uma das idéias é criar uma linha de produtos especializados em surf com a assinatura da atleta.


“A contratação de Andrea vai agregar muito. Ela será a nossa verdadeira piloto de teste”, argumenta Paulinho, como é conhecido o empresário.


Confira a seguir entrevista com Andrea Lopes. A atleta fala de vários momentos de sua carreira, como a sua vitória contra a anorexia, quando estava entre as top 16 no Circuito Mundial, e a volta por cima, resultando na capa da Playboy.


Qual a importância de um novo patrocínio neste estágio da sua carreira?


Com certeza essa contratação está entre os cinco ou seis melhores momentos da minha carreira. Sei que terei suporte. Eu sinto como se estivesse juntando duas forças no mesmo objetivo e, principalmente, na meta de mostrar que o surf é um esporte muito rico em saúde, cultura e vida. Ganhei uma injeção de motivação e só posso falar que estou muito feliz.
 
O objetivo é tentar o penta e, mais uma vez, ser pioneira?


Sim, quero bater o meu próprio recorde. E essa questão do pioneirismo é bem interessante na minha cabeça, porque a melhor surfista sempre muda. Um ano é uma, outro ano é outra. Só que o pioneirismo ninguém tira de você. Se você é o primeiro a lançar algo ou vencer, fica na história e nunca mais perde isso. A vibe de todos da AntiQueda é muito positiva e quero, realmente, comemorar essa conquista com eles. Além disso, quero fazer outras coisas fora da praia ou do mundo do surf, que possam otimizar essa parceria.

 

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Marcelo, Andrea, Paulinho e Soninha. Foto: José Luiz Borges.

No projeto de vida fora do mar, você tem novas idéias, como filme e exposições. Conte um pouco mais.


Eu tenho a minha vida inteira documentada em fotos, entrevistas e imagens, desde gurizinha, e hoje em dia é o maior barato vê-las. De alguma forma, quero fazer uma exposição contando um pouco da minha história, através das fotos, da poesia, porque acho bem legal ligar a poesia, uma expressão de arte, ao surf. Será uma exposição pelo Brasil, itinerante. Também tem o meu longa-metragem, que já foi aprovado pela Lei de Incentivo e está bem direcionado e conta com o Dilert, produtor da Globo Filmes. Não será um filme sobre surf. Será um pouco da história do surf feminino contado através da minha vida. E ainda tem as palestras que quero retomar em escolas e participar mais com a galera da AntiQueda, não só em workshops, mas também passar a minha experiência para outras pessoas.
 
A idéia é mostrar o surf para todos?


Eu vivo do surf, respiro o surf e amo surfar. Meu trabalho é muito mais do que a competição. É mostras às pessoas que não surfam o life style saudável, o que se pode ter em termos de aprendizado para a vida, o que se pode carregar de bagagem de cultura. Tudo o que o surf colocou na minha casa, na minha vida, eu quero mostrar para as pessoas que não pegam onda e, cada vez mais, desmistificar que é um esporte boa vida, que só fica na praia. Tem muita coisa por trás de uma surfista profissional. Meu objetivo não é só o pentacampeonato. Quero que uma mãe fale que quer que sua filha seja surfista igual a ela.
 
Você é conhecida por romper barreiras. Foi campeã muito nova, aos 14 anos, ingressou no Circuito Mundial aos 17, conseguiu vencer a anorexia, dar a volta por cima e ser um ícone do surf. Como é essa garra, essa vontade de sempre se superar?

 

As palavras são exatamente essas: vontade e garra. A vida é sempre muito cheia de surpresas, de altos e baixos, de momentos em que uma coisa está boa e outra ruim. Mas eu nunca perdi o meu foco e o sentimento que está cada vez mais forte dentro de mim é a humildade. O caminho que te leva ao sucesso é um só. Pode ser até sem graça, mas é um só e basta apenas caminhar. Preciso crescer junto com as pessoas que estão comigo. Quero fidelizar, criar parcerias. Para conquistar, você demora um tempo, até anos, para perder, basta apenas uma atitude. 

 

Foram dois momentos antagônicos na sua vida, a anorexia, que a tirou do Circuito Mundial, e a capa da Playboy, um símbolo da beleza feminina para muita gente. Como foram essas duas fases?


A anorexia é um momento muito estranho. A mulher se esconde, fica totalmente sem curvas, quer viver um mundo diferente, escuro. Eu vi que Deus me tirou dali e mostrou que eu tenho muita vida, muita mensagem para passar. Depois de tudo o que passei, consegui sair daquele buraco e vi que tinha muita coisa para viver. Eu sinto que tenho essa missão de passar a mensagem da vida, de tocar o coração das pessoas, de falar algo que lá na frente a pessoa vai refletir. E aí veio a Playboy. Foi um momento que a Andréa quietinha, comportada, quis romper barreiras novamente. Sempre fui assim. Quis ser surfista e minha mãe era bailarina. Quando fui ao Circuito Mundial falei com minha mãe e ela sempre falou, “filha, estou sempre com você”. Quando veio a proposta da Playboy, perguntei novamente para ela o que fazer já que iria ficar pelada. Novamente ela respondeu: “filha, estou com você no que fizer”. Esse ensaio foi um marco na minha vida. Foram fotos de atitude com sensualidade. Mas foi aquele momento, agora estou mais quieta, não faria de novo.

 

Ainda sobre a anorexia, você tem consciência do que te levou a chegar a esse quadro grave? Como foi essa fase?


Eu sempre fui muito perfeccionista. A anorexia, na verdade, quando falam da comida, é apenas a consequência. Existem outras características fortes, como uma vida totalmente anti-social. Fiquei assim por dois anos. Quando falo dessa Andrea, é uma pessoa que aprendeu muito, mas ficou lá atrás.

 

Como venceu a doença?


Comecei a enxergar a vida e o surf de outra maneira. Por força maior, fui obrigada a parar de competir no Hawaii. O primeiro passo foi um puxão da minha mãe. A pedido da minha mãe, os patrocinadores me tiraram do meu maior sonho, que era o Circuito Mundial. Vi que tudo dependia de mim. Comecei a ler, ter conscientização de que eu tinha de me recuperar, por mim mesma, e resgatar novamente os prazeres de vida. Foi em 94, tinha 21 anos.

 

Hoje você tem uma consciência total de como agir?


Você não precisa ser extremista, abrir mão de muitas coisas para conseguir um objetivo. Tem de usar o seu emocional e racional. Anorexia é uma consequência do meu perfeccionismo daquela época. Me levou a achar que o mundo era preto e branco. Me levou ao buraco. Parei de competir o circuito mundial, comecei a repensar o prazer de surfar. Tem de dividir entre a obrigação e o prazer. Não pode perder a essência.

 

Emociona falar da anorexia?


Parece que é outra Andréa (voz embargada). É engraçado isso.

 

E a volta por cima? Esperava voltar assim e estar no topo novamente?


Parece que todos os momentos aconteceram na hora certa.

 

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Andrea Lopes conta com todo suporte para correr atras do pentacampeonato brasileiro. Foto: José Luiz Borges.

Entre os momentos que mostram o seu retorno está a vitória no WCT em 1999. Qual foi a sensação de vencer em casa e ser a primeira brasileira nessa situação?


Foi sensacional. Estava de prancha velha, não corria mais o tour e estava acima do meu peso. Fui convidada de última hora para este evento, encontrei todas as amigas que competiram comigo. No sábado, o Mark Occhilupo foi campeão e à noite fui para a festa dele. Nunca fui dormir às três da manhã. No dia seguinte acordei e ganhei. Só sentei na prancha e fiquei cinco minutos agradecendo e vendo a minha vida passar. Em cinco minutos passou tudo. Saí da água e minha família estava toda na praia. Saí com esse aprendizado de que não precisa ir ao extremo para conseguir as coisas. Só precisa ter jeito, inteligência, estar no timming e aproveitar a oportunidade.

 

Na sua idade, a maioria já pensa na aposentadoria. Como é enfrentar meninas com menos da metade da sua idade? Ainda compete com a mesma força?


Eu tenho muita energia, conhecimento, inteligência. Cada título que eu ganho, eu incluo um ingrediente. Primeiro é a raça, depois a estratégia. Hoje posso falar muito da minha inteligência dentro d’água. Eu procuro me conectar direto com o mar. Eu acho que não é só surfar. Na parte técnica a maioria está no mesmo nível. Tem duas ou três que se destacam, mas se tiver uma parte psicológica forte, se tiver inteligência para competir, consegue qualquer coisa. Fora d’água todas são minhas amigas. Brinco com todas. Quando entro no mar, eu olho com cara feia. Sou uma das mais difíceis de competir. Sou estratégica. Estou observando as ondas duas horas antes de competir. Acabo me adequando ao mar. Eu fico rindo dessa questão de veterana.

 

Acha engraçado?


Realmente falei que iria parar de competir quando fosse tetracampeã brasileira. Aí, fui tetra e ganhei uma injeção de querer mais e mais. Não para provar se sou melhor ou pior do que alguém, mas porque eu gosto de competir. Isso me estimula. Gosto de focar, ter objetivo e conseguir aquilo. Eu sempre consegui tudo o que eu quis, graças a Deus, e quando falam essa questão de veterana eu até brinco e falo que quando o Kelly (Slater) parar, eu paro também. Apesar de ele ser dois anos mais velho do que eu, quando ele encher o saco, de repente será o momento que eu vou encher também. O cara está arrebentando, botando o pessoal da nova geração a ver navios. Eu nunca me senti tão bem em relação a tudo.

 

O que é preciso para se manter no topo?


Tem de estar preparada psicologicamente, fisicamente, tecnicamente. Hoje em dia minha vida é totalmente estruturada. O surf está ficando cada vez mais veloz, mais atual. E eu tenho toda a consciência de que preciso ter, cada vez mais, velocidade. Minha resposta muscular já é mais lenta, então tenho que fazer todo um trabalho por fora. Enquanto elas ficam três, quatro horas surfando, eu também fico, mas tenho de fazer força muscular.

 

O que fazer a mais para chegar ao penta?


Observar bastante e entrar em conexão com o mar. Por fora, no dia a dia, um trabalho físico forte. Estar sempre buscando velocidade no surf, porque o decorrer dos anos você vai perdendo velocidade e as articulações vão gritando um pouco mais. Então, para estar em condições de igualdade, tem de ter algo mais. Eu faço um trabalho de força, agilidade e leveza. Hoje, o surfista hoje precisa ser forte, ágil e leve. Eu tenho o meu conhecimento do mar, a estratégia de competição. Sempre entro com duas estratégias na bateria e só desisto quando a sirene toca (anunciando o final). Se eu ganho ou perco eu saio da mesma forma do mar. Nunca vai me#ver de forma diferente. Para ganhar eu terei que rebolar, mas elas mais.

 

Citou a inteligência para competir como um dos fatores principais e carrega um pingente de um trevo de quatro folhas. A sorte conta muito?


Sim, claro. Eu tenho esse trevo desde criança. Mais da metade da bateria eu passo orando e sempre pedindo a Deus para mandar uma (onda) certa. Eu consigo enxergar a onda antes dela vir. Começa a movimentar o mar eu já estou posicionada. Isso é intuição, é sensibilidade. Acho que é com todas essas ferramentas é que eu vou em busca do pentacampeonato. 
 

Você falou que o ingresso na AntiQueda está entre os cinco ou seis melhores momentos da carreira, mas qual foi o maior?


O grande momento ainda está para vir, o pentacampeonato e comemorar junto com a AntiQueda.
Como é ser exemplo e ter ajudado no crescimento do surf feminino?
Eu não consigo pensar muito como a responsável. Quando vem uma menina falar comigo ou quando recebo um e-mail, eu paro e me toco. Sei que tenho um papel importante nisso tudo e agora está ficando muito forte em mim, pois quero passar a mensagem não só para quem surfa, mas para quem não surfa também. Eu quero mais. Seja ganhando campeonato, sendo dublê de novela, ajudando uma menina nova a surfar, de qualquer forma. Fazer mais e mais pelo surf, pelo crescimento do esporte. 


Agora, com o patrocínio da AntiQueda, tem algo mais que quer?


Aprontar bastante (risos). Estou num dos melhores momentos da vida, psicológica e fisicamente. Querendo agitar e servir de exemplo para que as mães falem: “Caramba! Quero que a minha filha seja surfista”.

 

O que é o surf?


Surf é a minha vida!