Palanque Móvel

Memórias de Blazing Boards

0

Capa de Beyond Blazing Boards. Foto: Reprodução.

As esquerdas mágicas de Padang e Uluwatu voltaram a cena após a etapa do WCT disputada recentemente na terra dos mil templos. O último campeonato válido pelo circuito mundial em Bali foi no longinquo ano de 1982.

 

O ?OM Bali Pro? organizado pela extinta IPS em 81 e 82 contou com a participação dos melhores surfistas da época, e dois australianos, goofy-footer, e exímios tube-riders fizeram a festa na final.

Jim Banks levou no primeiro ano e no seguinte a etapa foi vencida por Terry Richardson. No fim daquele mesmo ano, outro australiano, Mark Richards conquistava o seu quarto e último título mundial e saía de cena.

 

As ondas de Uluwatu surgiram para o mundo do surfe no épico ?Morning Of The Earth?. Produzido em 72 por Albie Falzon, numa das cenas memoráveis, os surfistas Rusty Muller e o garoto Steve Cooney aparecem caminhando em direção ao outside na rasa bancada com esquerdas perfeitas ao fundo.

 

Albie ainda produziu anos mais tarde Ulu 32, um filme que retratava as mudanças ocorridas nas últimas décadas em Bali e a crescente e inevitável explosão turística da Ilha após o sucesso de Mornigh Of The Earth.

Beyond Blazing Boards foi outro filme que projetou  para o mundo do surfe as ondas de Padang e Uluwatu.

 

Isso já no início dos anos 80. Numa das seqüências, o havaiano Ronnie Burns, já falecido, aparece em perfeita sintonia com as esquerdas de 8? pés na bancada de Padang, com água translúcida, sol e vento terral ao som dos ?The Untouchables? ao fundo.

 

Lembro que não foi fácil assistir esse tal de Beyond Blazing Boards pela primeira vez. Aliás, nada era muito fácil no início da década de 80, bem diferente das facilidades do mundo moderno dos dias de hoje.

 

A apresentação estava marcada para rolar numa boate perto da minha casa numa festa entitulada ?Abrindo as Noites de Verão? e organizada por uma figuraça do meu bairro com o apelido de Kiko Vassoura. Kiko não pegava onda. Mas fazia onda. E todos sabiam. O cara era de uma estileira, uma marra sem igual. Mas ninguém se importava, pois Kiko era divertido e sempre solicito com todos.

 

Essa festa por ele organizada anualmente era tradicional e reunia gente de tudo quanto era canto da cidade. Lembro que ao chegar na festa observei a mesa gigante de frutas o telão armado, e ao lado dele uma prancha zerinho que iria para sorteio ao público.

 

Sei dizer que no meio da noite não cabia mais ninguém na balada. De repente a música é interrompida pelo organizador que fala algumas palavras no microfone e o filme, enfim começa.

 

Porém, para minha frustração, foi só as primeiras cenas surgirem no telão para o tempo fechar de vez. O pau pegou literalmente. Uma briga generalizada interrompeu a apresentação do filme. Era cadeira e mesa pra tudo quanto era lado. A cobra fumando a porrada comendo solta e, no meio do salão o tal do Kiko agarrado à prancha e aos gritos de a festa acabou!

 

Sei dizer que somente anos mais tarde consegui assistir Beyond Blazing Boards, na íntegra. Dia desses, conversando com o Fabinho Gouveia, ele me contou que Beyond… era um dos seus filmes prediletos mas, que também não dispunha em seu acervo.

 

Coincidentemente, naquela semana, encontrei o Paulinho Orelha, um camarada das antigas e ele me disse que havia transformado a sua fita vhs em dvd e que gravaria um cd do filme de presente pra mim.

 

O tempo passou, e agora, estarrado no sofá, posso assistir Beyond Blazing Boards tranquilamente no conforto da minha casa. Isso se a minha mulher não inventar de me pedir para levar o lixo ou dar uma olhada no meu filho ou ainda sair para comprar algo no mercado…