A temporada está se aproximando! O coração já começa a lembrar de que será novamente posto à prova. Mês que vem, possivelmente já começam a entrar as primeiras ondulações.
O fundo ainda está cheio de areia nos picos de Kodak Reef (nome dado para as bancadas de Pipe, Backdoor e Off-The-Wall). Quando as ondulações maiores chegarem, o fundo fica limpo e o show começa a rolar!
É uma incógnita, nunca sabemos o que vai rolar. Houve anos em que rolou um “swell bomba” logo de cara e ficou uma beleza. Em outras ocasiões, demorou até meio de novembro pra se ter ondas de verdade!
A temporada passada foi algo para se esquecer e pedir para que a natureza tenha piedade e nunca mais repita essa greve.
Dia desses, trocando uma idéia com o chefe de redação do Waves, Alceu Toledo Júnior, grande camarada e alvinegro praiano como eu, veio um toque para fazer uma matéria sobre o fundo de Pipeline.
A parte de cima e de dentro todos já conhecem, alguns ao vivo e outros – espero um dia ver por aqui – só em revistas e filmes.
Muitos anos atrás, havia mergulhado ali e feito a promessa de jamais voltar. Confesso que não é agradável ver o que tem embaixo; as fotos não passam a realidade também.
Pelas fotos, impressiona olhar as pedras, mas só ao vivo, com nossa visão de 450 mega pixels (e o tanto de mega pixels aproximados que nossa visão tem), a textura das pedras e o quanto elas fazem de estrago se perdem em imagens.
A vista panorâmica também, mas já dá para se ter uma idéia. Elas estão ali o tempo todo, mas nunca vi bicho mais otimista que surfista, é só parar pra pensar! Pipe quase 100 pessoas no mar, ondas de 2 a 3,5 metros e profundidade de no máximo 2 metros de água, 5 ondas por série, 30 locais – fora os “p1” e “p2”, que são os que ficam depois dos locais que têm a prioridade 1 e prioridade 2.
O surfista que entra nessas condições tem de esperar uma sobrar no meio desse circo para entrar na zona do hospício, aí, com sorte ele pega uma e com muita sorte ele sai, mas vale a pena, porque quando sai tá garantida a trip!
Mas é aquilo, brasileiro não desiste nunca e com essa força a brazucada vem a cada ano mais fortalecida. Hoje, tranqüilamente junto com o Fun (Stephan Figueiredo), um dos melhores e o mais dedicado surfista do Brasil naquelas ondas, vem uma safra de novos talentos que, se conseguir suportar a pressão que as revistas põem em cima e não deixar a ?marra? dominar, vai longe.
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Hoje temos bons nomes que vêm com muita vontade: Ricardo dos Santos, Pedro Scooby, Gordo (Felipe Cesarano), Marco Giorgi, Thiago Camarão e desculpe, galera, mas tem mais uma renca cheia de disposição, fotógrafos excelentes como o Pedro Trojal, videomakers como o Gustavo Camarão…
Está na hora de as marcas verem que patrocinar fotógrafos é tão vantajoso quanto surfistas. Não adianta ter uma equipe de 10 pros aqui e ninguém para fazer a cobertura para sua marca! Não falo só em meu nome, já que também sou fotógrafo, mas acho que é um bom negócio para todos!
Feito o meu jabazinho número 1, passo adiante e, junto com Rafael Sobral (webmaster do Waves), mostro um pouco do temido fundo de Pipe.
A primeira foto publicada na reportagem é a área do drop. Caso você não complete o drop, e eu espero que isso não aconteça, é aí o lugar no qual você não quer bater. Já dei uma sapecada numa dessas para o Backdoor que me renderam 18 pontos externos e 9 internos, então não vacile e lembre: se o lugar mais seguro é dentro do tubo, não ponha reto, não vacile. Se remou, vá, caso contrário será um encontro desagradável.
Cena 2 – As famosas ?locas?, ou esses buracos no meio das pedras, formam pequenas cavernas que infelizmente já fizeram vítimas por aqui – um delas o meu amigo Joaquim, que não era um cara sem experiência em Pipe. Surfava sempre, e naquele dia 4 metros ele não completou o drop e só foi encontrado semanas depois dentro de uma dessas cavernas (pelo menos foi o que me contaram).
Outras pessoas já perderam suas vidas ali, surfistas com técnica e equipamentos, como foi o acidente que vitimou Malik Joyeux, um dos grandes nomes quando se falava em ondas grandes e cavadas para a esquerda como Pipeline e Teahupoo.
Mas, não posso prender vocês só no aspecto perigoso e real do que é surfar Pipe. Não quero vender imagem alguma do que é surfar nesse pico; a imagem já está na cabeça de todos.
Uma esquerda volumosa, perfeita, buraco e com um spray muito, muito forte! Um tubo em Pipe será algo que nenhuma viagem vai apagar da sua memória.
O esforço, dedicação, paciência e folêgo, muito fôlego, necessários para encarar essa ?bronca? você terá de encontrar no fundo da sua alma, se arriscar para pegar o tubo da sua vida e algo que transcendeu o sentimento de um simples esporte.
Nunca, em nenhum jogo, pelada na praia, quadra de tênis, eu senti uma adrenalina igual a entrar em Pipeline.
Infelizmente já vi pessoas transformarem seus sonhos em pesadelos, assim como já vi muitos viverem o seu “dream day”. Mas, lembre-se: respeite tudo e todos aqui, faça da sua trip algo saudável para você e o povo que mora aqui. E o mais importante: volte para casa com histórias maravilhosas e que a única cicatriz seja o coração partido por ter deixado essa ilha maravilhosa.