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Eleições: renovar é preciso

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Antes um terreno baldio, o Quebra-mar está se tornando um ponto turístico graças à organização da sociedade. Foto: Herbert Passos Neto.

Apesar da grande quantidade de novos candidatos, a falta de educação política favorece um baixo índice de renovação e mantém alto o índice de insatisfação. Certamente, alguns podem ser bons e merecerem continuar. Mas pra quem busca renovar, não basta votar em quem nunca foi candidato, sem avaliar o contexto, sob pena de colaborar para ocorrer exatamente o contrário do que se espera.

 

Nos cargos executivos, como prefeito, governador e presidente, não há segredo. Quem tem mais votos, se elege. Mas nos cargos legislativos, como vereador e deputado, é diferente. Depende do número total de votos de cada partido. Os partidos com mais votos elegem mais candidatos, independente do número que cada um teve individualmente. O importante é entender que os eleitos são sempre os mais votados e daí a falta de renovação.

 

Enquanto a maioria dos novos candidatos são pouco conhecidos, cada partido já tem seus “cabeças de chapa” (candidatos principais), que detém maior potencial de votos porque já se elegeram em outras ocasiões. O ?jogo? começa porque somente os votos dos principais candidatos não são suficientes para que todos eles se elejam. É preciso completar a chapa com pretendentes de menor potencial, para aumentar a chance de eleger os principais.

 

Assim, o voto de quem buscar renovar muitas vezes elege um dos mesmos de sempre, o que não é problema se a pessoa está consciente disso e de acordo. É quase uma ironia, mas na prática os novos candidatos captam os votos das pessoas cansadas dos velhos candidatos para reelegê-los! Isso vai mudar quando a sociedade entender as regras do jogo pra começar a ganhar de vez enquanto.

 

Por enquanto, a maioria dos novos candidatos, salvo alguns famosos, só tem chances em partidos com muitos candidatos, mas sem cabeças de chapa. E mais raramente um novato pode ser beneficiado pelo partido ter um único candidato com votação alta o suficiente para eleger mais um vereador. Ou seja, não basta ser bem votado. É preciso vencer os mais votados do partido e torcer pra chapa atingir o coeficiente necessário.

 

Este número pode ser alcançado ao dividir os votos válidos (todos os votos menos os nulos) pelo número de cadeiras na Câmara da sua cidade. Em média, os votos válidos são 80% do total de eleitores. Resta conhecer o potencial de votos de cada candidato, baseado na eleição passada e fazer as contas, para estimar quantos vereadores cada partido pode eleger e quem são eles.

 

Por exemplo, em Santos (SP), cada partido ou coligação precisa em média 14 mil votos para eleger um único vereador. Com 28 mil, dois e assim por diante. E ainda é possível eleger com menos, pois nem todos os partidos alcançam os 14 mil e sobram cadeiras que são divididas entre os que atingiram, com prioridade para os que tiverem mais votos sobrando. Os principais partidos elegem em média três ou quatro vereadores. Os intermediários, um ou dois e os menores, nenhum.

 

Por isso, ter boas propostas às vezes não significa nada, pois muitos candidatos prometem de tudo já sabendo que não vão se eleger e não precisarão cumprir. Mais importante é o povo se organizar socialmente e formular suas próprias propostas, para saber então quem pretende defendê-las e se a pessoa tem chances reais ou vai levar os votos para eleger os mesmos de sempre.

 

Para o povo vencer, é como no futebol: é preciso trabalhar em equipe e respeitar as diferenças, usando-as para enriquecer o contexto e buscar um consenso geral para o time, com a colaboração e a compreensão de todos. O que não é fácil em uma cultura individualista, mas é como no surf: ninguém nasce sabendo. É questão de praticar com paciência e dedicação para evoluir e realizar em conjunto coisas impossíveis de fazer sozinho.