O domingo amanheceu chuvoso, o vento Sul soprou forte por toda a noite. O mau tempo provocou inclusive alguns estragos na região. Tudo me levava a crer que seria mais um domingo tranquilo junto à família.
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Por volta das 9 horas, como já é de rotina entrar no MSN para fazer o link com a galera e captar alguma informação para o dia, logo os primeiros contatos foram surgindo.
O Henrique Gentil, que é surfista local da praia Brava de Florianópolis, me chamou e colocou a maior pilha para a gente ir dar um ?check? nos picos alternativos da região. Sem pensar duas vezes, já fui catando os equipamentos, carregando a mochila e pegando a estrada atrás das ?olas?.
O mar estava muito grande. No Santinho as ondas passavam dos 3 metros nas séries, tava tudo ?storm?, sem condições nenhuma para surf neste pico.
Peguei o Henrique no ponto combinado e fomos atrás das ondas. Nosso primeiro ?check? foi num pico com fundo de pedra, essa onda é guardada a sete chaves pelos locais, mas acreditem: para chegar até ela já é uma empreitada casca-grossa.
Depois de caminharmos por quase 30 minutos numa trilha de lama escorregadia e cercada por árvores, espinhos e, claro, muita chuva no caminho, chegamos ao pico.
O lugar lembra um cenário de filme de surf gringo, o local onde quebram as ondas é uma bancada de pedras expostas, mas perfeita. A condição não estava ideal, mas mesmo assim já deu para ter uma noção do que é a onda. Seguimos então atrás do nosso objetivo.
O próximo pico que a gente iria conferir era a Brava, pois lá era a praia mais próxima do local em que a gente estava e a chance de ter grandes e boas ondas lá era real.
Na subida do morro a adrenalina já havia nos contagiado e algo me dizia que toda aquela ?indiada? estava por se tornar algo muito recompensador. Dito e feito, já de cima do trapiche do morro da Brava o cenário era lindo e ao mesmo tempo assustador.
Séries com mais de 3 metros quebravam perfeitas por toda a praia, em valas bem definidas e consideravelmente grandes. Era um cenário real de big surf.
No mesmo momento peguei o telefone e fiz os primeiros contatos atrás de conhecidos e amigos que eu sabia que entrariam no mar naquelas condições. O primeiro que me veio na cabeça foi o Leonardo Melo, esse eu tinha certeza que enfrentaria aquelas condições com o Henrique, e amarradão.
Ficamos esperando o ?Melinho? por uns 40 minutos no estacionamento, observamos o mar e a questão era: que tamanho tinham as ondas.
Realmente tudo estava a nosso favor, depois de muita chuva, trocas de direções de ventos e mudanças repentinas no tempo. Enfim, quando o ?Melinho? chegou, parece que tudo se firmou. O vento alinhou pra Sul, o tempo abriu e parou de chover, e até um pouco de luz para as fotos apareceu.
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Com o aparato necessário, pegamos a trilha novamente e seguimos até o local de onde eu ficaria para fotografar. O Henrique e o Melinho seguiram pela trilha e depois de uns 15 minutos surgiram do nada por entre as pedras, no local que seria o ponto do pulo pra entrar no mar.
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As condições estavam grandes e muito difíceis, a correnteza estava forte e, para dificultar ainda mais a situação, os dois escolheram a hora errada de pular e acabaram tomando toda a série na cabeça.
A onda do outside, quando entrava o seriado, passava dos 2,5 metros fácil. Para aumentar mais ainda o grau de dificuldade do surf, o ?drop? tinha que ser feito num ponto bem especifico da onda, era remar na bolha senão não entrava na onda. Uma condição muito casca.
Logo em seguida chegou o Marco Polo com mais dois amigos (os surfistas não identificados da matéria). O crowd no pico foi de apenas cinco surfistas.
Aos poucos todos foram se encontrando no pico, e na primeira série (que já veio varrendo) o Marco Polo remou forte, dropou no meio da espuma branca e botou pra baixo numa das maiores.
A onda era definida num grande drop e logo em seguida já ficava gorda. O drop estava insano e grande, e esse era o ponto crucial da session.
A adrenalina do pico estava em alta, pois a onda quebrava sempre no mesmo lugar e quando entrava as grandes séries tinha ondas de 3 a 3,5 metros (isso segundo relato dos surfistas que entraram no mar).
Foi uma session de poucas ondas surfadas, mas todos na vala tiveram o seu momento de glória e não ficaram de ?peixe bóia? na história. O big surf já é por si uma condição de extrema dificuldade, não é uma modalidade para inexperientes, e ainda mais aqui no Brasil onde não se tem um canal para varar, e é tudo na raça e no peito mesmo.
O surfista de long azul (que mais tarde ficamos sabendo que era o Azul Fonseca, irmão do Marco Polo) mostrou bastante disposição e audácia durante toda a session. A condição era de forte correnteza, e para se manter no pico era necessário ficar o tempo todo remando (uma remadeira) em direção à bolha do drop.
O surfista Azul Fonseca foi protagonista do mais assustador e insano drop do dia, e em contrapartida da mais sinistra vaca (veja a foto no álbum). Em troca disso pegou as melhores ondas e demonstrou bastante conhecimento do pico.
Conhecedor das ondas da região, Henrique Gentil esperou o tempo certo para pegar as suas ondas (e ainda com a prancha emprestada do Melinho). Para finalizar o dia de cabeça feita, protagonizou um dos maiores drops da session – a onda tinha uns 2,5 metros pesados.
O surf num modo geral foi satisfatório e bom para todos os que participaram da session, cada um soube aproveitar ao máximo as boas ondas dentro do seu limite individual. Foi um surf de superação, mas o importante é que todos saíram de cabeça feita e botaram pra baixos nas grandes ondas.
O tempo foi passando e o mar perdendo um pouco de força. As ondas no outside começaram a ficar menos frequentes, a galera ainda fez de ?saideira? uma session no inside, que também estava muito perigoso, onde qualquer falha poderia ter o seu preço.
A luz foi acabando, e as forças também. Fim de session, todos exaustos de cabeças feitas e com o sentimento único: big drop.