Gata surfista

Papo com a prancha

0
Angela Bauer exibe quiver. Foto: Melissa Legget.
Meus treinos agora são dedicados ao meu aperfeiçoamento mental, psicológico e físico para executar com maior perfeição minha manobra favorita no momento, que é pegar tubo, ficar dentro da onda, depois sair e sentir aquela sensação de vitória conjunta com a natureza. É uma viagem!!!!

É o momento de perfeição da onda, do poder, da sintonia, misturados com o medo e a incerteza. Um ?feeling? muito doido, mas que vicia incrivelmente e a gente até perde a cabeça por causa disso!

Foi numa dessas que eu me machuquei seriamente. Fiz um hang five (manobra no bico da prancha) numa onda rápida e extremamente tubular, e nem reparei no backwash (pororoca) que vinha vindo na direção da onda.

Jaime manda bem no stand up. Foto: Guga Mariano.
Fomos jogadas para o alto e eu caí em cima da prancha. Ela bateu entre as pernas e eu cortei uma artéria que eu nem sabia que existia, perdi muito sangue e quase morri. Achei que nunca mais iria surfar.

Mas, aquele sentimento e fascínio pelo mar e pelas ondas é mais forte que tudo, e a gente acaba voltando. E no primeiro momento de uma onda boa já esquecemos todos os machucados.

Tudo tem seu preço e realmente é muito perigoso, dá medo, a onda é sempre imprevisível, tudo pode acontecer. O tubo, em minha opinião, está entre as melhores coisas da vida, coisa que só surfista que já pegou um tubo pode sentir e saber o que é. Tem que ter disposição, pois acidentes sempre acontecem!

Mas, o que está me fazendo me sentir uma criança novamente é a
Angela Bauer está encantada com a nova prancha. Foto: Melissa Legget.
minha prancha de stand up que acabei de encomendar. Desde que competi no Hawaii e vi uma bateria de stand up, fiquei amarradona!! Mas achava a prancha muito pesada e não conseguia carregá-la sozinha. Isso me desestimulava; ter que precisar de alguém para carregar a prancha é muito chato!!!

Mas, quando vi o Jaime (atleta do Daniel Friedman) surfando super bem com o stand up board com apenas alguns meses de prática, fiquei novamente empolgada. Segurei a prancha dele e não acreditei, super leve! Pronto, foi esse o maior incentivo para mim; poder surfar com uma prancha que eu posso carregar sozinha, então senti que era o momento de me aventurar.

O Jaime disse que o melhor é começar com uma prancha bem larga e com os amigos para receber as dicas e facilitar o aprendizado. No seu primeiro mês, participou do PLC (Petrobras Longboard Classic) e ficou em segundo lugar.

 

Ele disse que com seu novo equipamento não vai parar mais. Mas, para mim, que sou mulher, ou seja, menor e mais leve, o shape da prancha teve que sofrer uma modificação.

Encomendei minha primeira prancha e a emoção foi parecida com a minha primeira prancha de longboard. A prancha é responsável por grande parte do sucesso da sua performance, é parte da gente. Quando gosto de uma prancha não desgrudo dela, coloco-a no meu quarto e fico olhando, olhando, pensando que vai ser com ela que vou viver momentos incríveis.

Aprendi a conversar com a prancha com a primeira campeã mundial Deisy Shayne. Ela também cantava e tocava guitarra e já lançou seu próprio CD e, antes da bateria em que ela foi campeã na Costa Rica, estávamos juntas e vi que ela conversava com a prancha dizendo para ela ganhar e que depois ela também iria ganhar um premio e bla bla bla. Deu pra ver que as duas se conheciam bem. Conhecer seu equipamento também é fundamental para uma performance constante.

Meu quiver novo está diferente de todos que já tive. Minhas pranchas novas são feitas especialmente para surfar ondas tubulares. Bom, estou sonhando e me sentindo já uma rainha havaiana passeando pelos mares, com minha primeira prancha de stand up e, além de surfar, posso retirar os plásticos das ilhas que ficam em frente à praia quando estiver flat.

Fazer minha parte como cidadã, dar o bom exemplo e fazer alguma coisa útil para a praia em frente à minha casa com minhas amigas e vizinhas movidas pelo mesmo objetivo: querer estar numa praia limpa.

Isso é um programa necessário para se fazer nos finais de semana, retirar o plástico do mar, conscientizar os jogadores de plástico na natureza de que o bicho está pegando ? informe-se sobre a ilha de plástico entre os Estados Unidos e o Hawaii. 

Vamos todos reduzir o consumo de plástico, reciclar, comprar reciclado, investir e incrementar produtos naturais. Criar novos hábitos para essa nova realidade. As gerações acima de 30 anos foram acostumadas com uma fartura incrível da natureza, até o sol não fazia mal à pele como faz hoje.

Realmente é a juventude que tem que se movimentar e fazer alguma coisa.  Muitos dos governantes hoje pensam assim: quando a ilha de plástico (giro do Pacífico) chegar aqui na praia eu já morri mesmo, não vou estar aí para ver. Talvez eu não esteja também, mas quando vejo a natureza ser agredida, seja por um lixo de plástico ou por uma queimada intencional, sinto uma dor no coração como se isso acontecesse no meu próprio corpo.

Mas, não adianta ficar só reclamando, temos que fazer a nossa parte, cuidar do nosso lixo, tratar da nossa água, dar o exemplo. A gente limpa a nossa casa, nosso escritório, nosso carro, por que não limpamos nossas praias, nossa natureza? 

Conversando com a atleta Cris Pires, que atualmente está na Califórnia, fiquei sabendo que em Sydney, na Austrália, as pessoas têm de ter quatro latas de lixo em casa, uma para plástico, vidro, papel e orgânico, e a cada dia passa um caminhão com a cor da lata para recolher.

Um dia é o caminhão vermelho que passa para recolher o lixo da lata vermelha, que no caso é o plástico. No outro é o caminhão verde para o lixo orgânico, etc.

Muito legal!!! Um exemplo para todos. A Cris falou que se sente mal tendo que colocar o lixo junto, já que no seu prédio não existe coleta seletiva.

Com as novas mudanças no formato dos eventos mundiais feitas pela ASP, apenas duas atletas de cada país poderão participar do evento mundial.  A Cris Pires é a única atleta que já está classificada para participar do Mundial na França este ano. 

Ainda não está decidido qual vai ser o critério de classificação aqui no Brasil. Se for pelo ranking brasileiro, a outra vaga será da Mainá Thompson, e se for pelo ranking mundial a vaga será da Karina Abras.

Pelo visto perdemos as etapas do circuito brasileiro no Rio de Janeiro, e isso me entristece muito, pois adorava competir no Arpoador, local normalmente super crowd (lotado), e surfar com apenas mais três meninas. Isso é um luxo!!!!

Sem falar na etapa da praia da Macumba, berço do longboard feminino. Mas, como tudo está em constante mudança, espero que os organizadores do Circuito Petrobras voltem a colocar as etapas do circuito brasileiro no Rio de Janeiro.

Boas ondas para todos! Aloha!