Manter o condicionamento físico depois dos 40 anos de idade para desfrutar do surf de uma maneira prazerosa é uma das melhores sensações da vida. Sentir que você está confiante, com fôlego, forte e resistente é realmente confortante.
Por outro lado, manter o condicionamento nessa faixa etária exige dedicação, disciplina e muita vontade de querer surfar. Parece que nessa idade você não pode deixar a peteca cair. Ficar vários dias sem mexer o corpo e depois surfar horas sem se preparar para isso não é aconselhável.
O surf é diferente de outros esportes. No tênis quando você vira veterano a velocidade da bola diminui e você tem a opção de só jogar duplas, o que é menos intenso. No surfe não! A onda mantém a mesma exigência física que você precisava há anos atrás, ou seja, você não tem moleza, tem que remar, desenvolver e manter a disposição no alto sempre.
Outro aspecto que ronda a vida dos surfistas quarentões é o fantasma das lesões musculares, mais especificamente a contratura muscular. Tenho notado que este tipo de lesão é comum de acontecer. Por exemplo: você surfou muito, não se alongou no final e por um movimento bobo, como levantar uma cadeira ou um objeto rotineiro sente uma fisgada no músculo. Pronto, começou o drama e o surf naquele dia ou no próximo se foi.
Tendo o tema contratura muscular em mente, fiz algumas perguntas para o Dr. Gilbert Bang, que é médico ortopedista e coordenador da fisioterapia do hospital Albert Einstein, em São Paulo (SP). Confira entrevista exclusiva abaixo.
O que é contratura?
Popularmente chamado de contratura, o estiramento é um tipo de lesão muscular provocado por um alongamento das biras musculares além de seu estado fisiológico. Ele pode ser resultado de uma contração muscular brusca ou excêntrica (de elevada potência). O músculo é exigido além de suas capacidades.
Qual é a melhor maneira de evitá-las?
Para discutir a prevenção é preciso conhecer as causas. As lesões musculares podem ocorrer por:
a – condições musculares: encurtamentos, fraqueza e desequilíbrios musculares;
b – erros de treinamento: sobrecarga física, técnica e emocional, falta de planejamento e programação;
c – horário de treino ou competição, tipo de esporte, condições dietéticas, outras doenças, idade, uso de equipamentos adequados e clima.
Assim, abordar e estar alerta a esses múltiplos fatores é a melhor forma de prevenção.
Existe alguma substância ou suplemento que possa minimizar esta ocorrência?
O que devemos fazer diante de uma contratura, que atitude devemos tomar, colocar gelo? Calor? Pomadas locais? Anti-inflamatório, relaxantes?
A recomendação de abordagem inicial é o protocolo PRICE:
P = proteção: proteger a região acometida por exemplo com faixas elásticas, tipóias e outros tipos de órteses (aparelhos que ajudam na função);
R = rest / descanso: evitar o uso do músculo lesionado;
I = ice / gelo: deve ser usado nos primeiros três dias. Pode-se continuar usando o gelo nos dias seguintes, mas uma avaliação especializada pode direcionar o tratamento adequado;
C = compressão;
E = elevação: a compressão e elevação da região acometida ajuda a drenar o edema (inchaço), acelerando a recuperação.
As pomadas locais podem ser usadas bem como medicações analgésicas simples. O uso de anti-inflamatórios está em discussão uma vez que o próprio corpo provoca a inflamação com o objetivo de cicatrizar a lesão. Porém, seu uso provoca efeito analgésico e pode ser benéfico nesse sentido. Depois da primeira semana de lesão, os anti-inflamatórios não apresentam bom efeito.
O trabalho de força ajuda a previnir essa lesão?
Como uma das condições predisponentes para a lesão muscular é o descondicionamento muscular, o treino de força, resistência e potência muscular, sempre realizado de modo funcional, é imprescindível para a prevenção de lesão e bom desempenho esportivo. O planejamento e execução deve ser feito sempre por profissional habilitado, em virtude dos riscos de sobrecarga e erro de execução dos exercícios.
Curiosidades – As lesões musculares representam de 20 a 40% das lesões no esporte. Além dos movimentos, os músculos são responsáveis pelo ortostatismo (postura em pé) e pela estabilização articular. Desta forma, o estiramento pode provocar alterações destas funções ou habilidades.
Infelizmente, os surfistas ou esportistas veteranos precisam ficar atentos a essas surpresas que podem ocorrer com nosso corpo. Como no surf você não consegue mensurar o esforço, o cuidado com o corpo, o aquecimento antes das caídas, o alongamento depois de cada sessão de surf e os cuidados com a alimentação são pontos cruciais, que aumentarão sua longevidade esportiva.
Bons treinos e boas ondas!
Leia mais