Pés no chão

Jéssica Becker mira o topo

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Terceira no ranking, Jéssica Becker luta pelo primeiro título mundial. Foto: Flávio Brito.

Nascida e criada em Macaé (RJ), Jéssica Becker embarca no próximo dia 28 de novembro para as Ilhas Canárias, onde disputa a última etapa do mundial feminino de bodyboard.

 

A atleta de 21 anos ocupa a terceira colocação no ranking e tenta conquistar seu primeiro título na competição.

 

Nesta entrevista, Jéssica fala sobre suas expectativas para a corrida pelo título da temporada. 

 

Quais são as maiores qualidades de suas adversárias ao título?

 

A principal qualidade da Neymara Carvalho é a experiência e a técnica. Eu a tenho como exemplo, então não subestimo em

Atleta acredita na boa fase e embarca confiante para as Ilhas Canárias. Foto: Flávio Brito.

momento algum. Ela consegue lidar bem com a pressão.

 

A Eunate Aguirre tem um estilo bonito também e se sai bem em ondas com qualidade, mas é mais insegura que a Ney. Porém, não deixa de ser uma atleta de alto nível e potencial.

 

Como está sua cabeça para a competição?

 

Bem, eu estou muito tranquila, não estou me sentido pressionada. Para mim é uma satisfação brigar pelo título mais um ano. Coloquei a seguinte frase na minha cabeça: “se for, foi, se não for, paciência! Tenho muitos anos ainda pela frente”. Estou curtindo este momento ao máximo.

 

Como é sua rotina de treinamentos? Você treina algo especifico para a onda de Confital ou segue sua mesma rotina de treinos?

 

Eu sempre tive um treinamento voltado para o esporte, mas desde que voltei da Europa com bons resultados eu decidi levar isso mais a sério.

 

Meu treinamento é dividido por etapas: nas segundas, quartas e sextas eu treino uma hora e meia de musculação voltada para o esporte, com exercícios específicos que tentam imitar os movimentos em cima de um bodyboard. Meu treino é de potência, o que visa a resistência e força dos músculos. Depois da musculação faço mais 30 minutos de esteira com o controle do batimento cardíaco visando melhorar a parte aeróbica.

 

Nas terças, quintas e às vezes aos sábados eu faço um treino de flexibilidade de aproximadamente 30 minutos e em seguida um treinamento só para o core (abdome e lombar) de mais ou menos 40 minutos, visando deixar essa região mais forte, pois sofremos muito com os impactos e movimentos de rotação. Por último, mais um treino de uma hora dentro da piscina envolvendo apneia e natação com o bodyboard e pés-de-pato.

 

Além deste treino fora da água, estou sempre surfando quando tem onda. Olhando assim parece muito, mas eu gosto bastante. O que fiz foi incrementar e modificar algumas coisas do treino que eu já vinha fazendo há muito tempo e além de ser algo rotineiro para mim, pois frequento academia desde os 13 anos, acho que já vem dando bons resultados.

 

Mesmo que eu não ganhe o evento, para mim já é um motivo para ficar tranquila, pois me sinto mais preparada e confiante.
 

Se o título vier, o que podemos esperar de você para 2010?

 

Se vier com certeza vou ficar muito feliz e vou querer fazer melhor ainda no próximo ano. Será um incentivo muito grande, pois cada vez você quer mais e mais.

 

Quando nova, você começou a surfar contra os meninos em Macaé, pois não havia garotas suficientes para completar uma bateria. Hoje você disputa o título mundial. Faça um resumo de sua trajetória até chegar a brigar pelo título mundial. Você chegou a vencer alguns meninos na época?

 

Eu comecei a competir aos 13 anos e na época não existia uma divisão para as meninas, o jeito era competir junto com os garotos e se esforçar ainda mais. Isso me ajudou a crescer e desenvolver bastante. Cheguei a ganhar algumas competições entre os homens, o que era bem engraçado. Sempre havia aqueles comentários: “você perdeu para uma menina!”.

 

Depois, como profissional, tive a oportunidade de competir no Rio Super Pro entre os profissionais que se destacam no país. Por incrível que pareça, passei algumas baterias nos campeonatos. Isso me deixava super instigada, acho que se me convidarem outra vez eu entro sem dúvidas. Eu adoro estas oportunidades e tento fazer o máximo para ganhar entre eles, pois é muito mais difícil e é a melhor forma de evoluir.

 

Conquistei bastante títulos como amadora dentro do país até me profissionalizar aos 18 anos, em 2006. Depois foquei o circuito brasileiro, sendo vice campeã brasileira por três vezes. Em 2007, tive que parar um pouco, pois era o último ano de colegial, mas em 2008 decidi tentar o circuito mundial.

 

Apesar de na época me sentir muito insegura, eu achava que não tinha muito potencial para o tour, mas muitos amigos me incentivaram e hoje agradeço muito a eles.

 

Na sua opinião, qual e onde foi a melhor etapa do tour deste ano? 

 

Tiveram duas etapas que me marcaram muito esse ano. A primeira foi em Sintra, Portugal, com aquele mar difícil. Foi a primeira vez, eu chorei muito ao perder uma bateria, parecia uma criança que tinha perdido sua boneca (risos). Eu não consegui entrar no mar e não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.

 

Tem males que vem para o bem, depois disso decidi treinar ainda mais forte para não passar por isso novamente. Isto me ajudou a crescer bastante como profissional. Sintra é uma etapa tradicional que sempre tem destaque no circuito mundial. 

 

Outra etapa que foi perfeita para mim foi Búzios. O evento foi lindo, com altas ondas, bem estruturado, ocorreu tudo bem e vencer praticamente em casa com direito a torcida, foi incrível. Quem não foi perdeu.

 

O esporte vive um bom momento de novo? Comente de maneira sucinta a fase que atravessa o bodyboarding.

 

Aos poucos o esporte se reestrutura novamente. Eu vejo uma diferença grande entre 2009 e 2006 (2006 eu tive a oportunidade de ir a algumas etapas do tour). Não está perfeito ainda, mas bem melhor que antes. Eu não vivi a época do “boom”, mas creio que a gente possa voltar aos grandes cenários, como as histórias que ouvi e li sobre aquela época.

 

Qual a diferença da Jéssica Becker vice-campeã mundial de 2008 para a Jéssica de 2009?

 

Jéssica de 2009 está muito mais confiante, alegre e sempre com os pés no chão. Nada de ir além da realidade para não ter decepções. Eu ainda continuo com o mesmo pensamento de deixar as coisas acontecerem, mas lógico, tentando dar uma ajudinha para a sorte.