Bom de bico

Mundialito dos pranchões

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Campeão em 2007, quando também havia apenas uma etapa, Phil Rajzman é o único brasileiro com título mundial no currículo. Foto: Arquivo Pessoal.

André Luis Deka estreia no WLT nesta temporada. Foto: Gugah Mariano.

Galera brasileira reunida em 2006 no mundial da Costa Rica. Foto: Marcos Reis.

Há alguns dias, um amigo meu me perguntou se iria disputar a última etapa do WLT (World Longboard Tour) de 2010. Era um momento de relax e eu já tinha desligado deste assunto.

 

Naquele momento estava sintonizado com belas direitas, que abriam para o canal do canto esquerdo da praia de Camburi (SP). Mas naquele momento bateu uma angustia por ser lembrado de uma coisa que eu vinha tentando não pensar muito.

 

Disse que não iria por ter perdido a vaga entre os tops 16 no ano passado por estar machucado e não tinha conseguido convite por lesão.

 

A pergunta também soou estranha, engraçada até. Como assim última etapa se só tem uma?

 

Respondi com tom sarcástico, querendo debochar também do “WLT” que ele usou na pergunta. Se só tem uma etapa não pode ser chamado de circuito. Dei-me conta que reagi assim por estar fora do campeonato, mas pensar diferente disto seria uma grande ilusão.

 

A real é que a maioria dos títulos mundiais foram decididos em apenas um campeonato.

 

Apesar de um potencial enorme no que diz respeito ao conteúdo, espetáculo e quantidade de adeptos, alguma coisa parece segurar a modalidade na filosofia de um dos maiores nomes do longboard mundial, Miki Dora, que dizia que as competições e profissionalismo iriam acabar com a pureza no surf.

 

Reconheço o lado poético das ideias do mito, mas a verdade é que o futuro é agora e existem centenas de longboarders do mais alto nível querendo competir profissionalmente, mas esbarram em limitações e conceitos ultrapassados da modalidade, mas isso é assunto pra outra coluna.

 

Voltamos ao WLT. Esse “T” sempre me incomodou nos anos que o titulo foi decidido em etapa única e até com duas, pois significa Tour (circuito). Então vamos chamar de World Longboard Title – Título Mundial de Longboard.

 

Fiquei mais de dez anos na elite e presenciei momentos mágicos da modalidade. Disputas inesquecíveis entre Joel Tudor e Kevin Connelly, dois mestres do surf clássico.

 

Picuruta de cabelo branco e depois careca desbancando os favoritos, as vitórias de Marcelo Freitas na Espanha e do Amaro Matos em Biarritz, o Bagé no seu primeiro ano fazendo final na Espanha, o vice do Paulo Kid em Portugal dando canseira no Joel Tudor. Sem falar na oportunidade de surfar com surfistas lendários como Nat Young, David Nuuhiwa, Donald Takayama e outros.

 

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Amaro Matos entuba com estilo no mundial do México de 2002. Foto: Arquivo Pessoal.

Carlos Bahia, Eduardo Bagé, Picuruta Salazar e Danilo Rodrigo: só alegria no evento de 2008 na Califórnia. Foto: Arquivo Pessoal.

Brasileiros do outro lado do mundo: no WLT 2009 no Japão. Foto: Arquivo Pessoal.

No início da década, peguei alguns anos com quatro ou cinco etapas. O circuito tinha o glamour da Europa com as três primeiras etapas (Portugal, Espanha e França), depois sempre aparecia uma etapa forte no Brasil, como o Waves / Terra em Saquarema (RJ) e o extra da Oxbow em Maresias / Baleia (SP).

 

A Oxbow fazia sempre a última etapa, cada ano em um local diferente e servia os competidores com o que cada país tem de melhor. Musica típica e banquetes da culinária local com ondas escolhidas a dedo sempre à disposição dos melhores longboarders do mundo.

 

A caravana já passou por Ilhas Reunião, Guetarry (França), Makaha (Hawaii), Austrália, praia do Rosa (SC), Jeffreys Bay (África do Sul), México e Raglan (Nova Zelândia).   

 

O ponto baixo foi em 2005, não houve um campeonato sequer e o titulo passou em branco.

 

Um momento marcante foi em 2007, quando a Oxbow voltou ao longboard fazendo a única etapa que deu o titulo mundial para o brasileiro Phil Rajzman, nos enchendo de esperança com rumores de que um circuito estava sendo idealizado para o ano seguinte.

 

Em 2008 (França e Califórnia) e 2009 (Japão e Maldivas) duas etapas contaram pontos para o ranking mundial, mas foi só. Este ano o mini-circuito virou uma etapa e ninguém garante que a Oxbow vai fazer campeonatos de longboard ano que vem.

 

O lado bom é que se algum brasileiro vencer o Oxbow Longboard Pro em Makaha, entre os dias 30 de outubro e 7 de novembro, teremos mais um campeão do mundo.

 

Conheço bem os malandros que vão estar no Hawaii. Acho que teríamos mais chances se o campeonato não fosse lá, ainda mais em Makaha, pico tradicionalíssimo do surf havaiano e do longboard local.

 

A qualidade técnica e bagagem deste time é indiscutível. Picuruta Salazar, Phil Rajzman, Eduardo Bagé e Amaro Matos são escolados em mundiais, mas terão que fazer tudo certo se quiserem o caneco, principalmente contra os locais Duane de Soto, Ned Snow e Bonga Perkins.

 

O estreante em mundiais, Andre Luis Deka, tem tudo pra surpreender, basta ter sangue frio e fazer o que ele faz nos campeonatos aqui no Brasil.

 

Um circuito mundial precisa ser repensado. O LQS (Longboard Qualyfing Series) é regional, ou seja, apesar de poder competir em qualquer lugar do mundo, o atleta só pontua nos eventos realizados dentro do seu continente. Com algumas etapas 6 estrelas, a sua unificação poderia ser uma solução para um circuito mundial sólido, que possa voltar a ser chamado de World Longboard Tour (Circuito Mundial de Longboard) sem neuras.

 

Boa sorte para os meus companheiros, lembrem-se que quanto mais difícil for, maior será o reconhecimento. Eu acredito! Aloha.

 

A primeira (e última) etapa do WLT 2010 acontece entre os dias 30 de outubro e 7 de novembro na praia de Makaha, Hawaii.