O SuperSurf ASP World Masters deixou saudades. Foi sem dúvida uma semana mágica para o surf brasileiro e mundial. Quem competiu, organizou ou participou de alguma forma, teve a sensação de rever velhos amigos, adversários, ídolos e legends do esporte.
O Rio de Janeiro e sua praia do Arpoador, um dos berços do surf brasileiro, estava lá, de braços abertos tal como o Cristo Redentor. E quem estava na praia era só alegria.
Infelizmente as ondas não apareceram, mas nem por isso a turma deixou de mostrar que estava em forma. Uma “catuxera” aqui, outra gordurinha localizada ali, a turma arrebentou. Muitos estrangeiros apareceram, dentre eles claro, os dos áureos tempos do Waimea 5000.
Cheyne Horan, Terry Richardson, Glen Winton, Shaun Tompson, Wayne “Rabbit” Bartholomew, Michael Ho, entre outros. Do Brasil, Daniel Friedman, único atleta com direito de participar por convite devido ao seu histórico na entidade mundial do surf. Na categoria de “base”, Mestre Tom Curren e Mark Occhiluoo levavam as honras. O tupiniquim Victor Ribas encabeçava a lista que tinha também minha presença, a de Teco Padaratz, Guilherme Herdy, Renan Rocha, Peterson Rosa e Jojó de Olivença.
Poucas vagas pra muita gente importante e com bons históricos. Logo uma triagem foi providenciada e mais que bem-vinda. Pena as ausências de legends como Rico de Souza, Picuruta Salazar, Tinguinha Lima e muitos outros. Disputas acirradas na Grand Master, categoria com atletas acima dos 50 anos de idade.
Os cariocas Lula Menezes e Zé Alla completaram as vagas disponíveis no evento principal. Já a categoria Master, de 35 a 49 anos, o coro comeu. Ótimas performances de Armando Daltro, Ricardo Tatuí, Sérgio Noronha, mas ao final prevaleceu a velocidade de Fábio Silva e Ricardo Toledo. Coletiva de impressa, aquela festa entre histórias e boas risadas.
Evento começado e ponto para o formato “round robin”. Todos os atletas disputando cinco fases sem perder, ou seja, apenas somando pontos para que ao final os oito mais bem pontuados passassem para a fase do mata-mata. Seriam as quartas-de-final disputadas no sistema homem-a-homem. Dez preciosos pontos para o primeiro lugar de cada bateria e 7, 4 e 2 nas colocações seguintes. Victor Ribas foi o único invicto com 100% de aproveitamento.
Performances muito boas no início de Occy e Luke Egan, como também de Ricardo Toledo. Apesar das marolas, vários estavam andando bem, incluindo Tom Currem com sua linha impecável. Por incrível que parece, o peso pena e ex-campeão mundial Derek Ho não estava fazendo jus a sua fama de bom surfista “também” em ondas pequenas.
Mas só sua presença já abrilhantava a prova, afinal, tratava-se de um ex-campeão mundial e Pipe Master. Algumas reclamações eram ouvidas, tal como as do bicampeão mundial Master, Gery Elkerton. Em uma de suas baterias, “Kong” soltou o verbo: “isso não é surf!” Com certeza não era, mas era o que tínhamos e precisávamos nos virar com aquilo. O australiano abandonou sua última disputa, já que não tinha mais chances. Da mesma forma fez Derek.
Jojó, que também estava surfando bem, ao ver aquilo quis desanimar também pelo fato de não ter mais chances na classificação quando eu disse pra ele: “Mano, vai lá cara, arrebenta e completa sua participação! Viemos aqui pra isso independente de qualquer coisa. Nossa participação é valiosa e todo mundo quer te ver”.
Foi bom ter Jocélio de Jesus ali, zigue-zagueando naquelas marolas. Na Master, a diferença de idade em certos momentos causou bochichos, pois os mais jovens, na casa dos 35, se mostravam mais pilhados do que os de 49.
Caras como Peterson, Fábio Silva e Vitinho ainda correm muitos eventos, estão na ativa total. Logo a estranheza da maior parte dos gringos, principalmente, que não estavam acostumados a encontrar surfistas vindo de triagens nas edições anteriores dos eventos que rolaram há quase dez anos.
Na Grand Master as boas disputas seguiam e infelizmente nem Daniel, Lula e Zé Alla, avançaram pra a faze principal. Já nas semis, confronto de gigantes entre o inventor das tri-fins, Simon Anderson e Rabbit Bartholomew, que chegou a vibrar depois de uma onda vencedora na qual desferiu três batidas passando para a direita. Glen Winton, o mister “X”, é shaper, porém, segundo ele, suas pranchas não se adaptaram às marolas do Arpex.
Ele, que já vinha surfando com pranchas emprestadas de seu amigo, o apresentador e um dos proprietários do Canal Woohoo Antônio Ricardo, decidiu comprar outras na galeria River. Resultado, o cara tava soltinho na marola, relembrando seus últimos anos de tour.
Iain Buchanan, neozelandês que eu não conhecia. Diz a lenda que ele veio ao Rio para julgar o evento e de última hora entrou para a disputa. De qualquer forma, via o cara antes do amanhecer já na água em todos os dias. Como não conhecia, imaginava justamente isso, que ele fosse juiz e, no máximo, um competidor. Mas com toda certeza ele era um dos mais soltos dentro da água, sempre remando nas ondas e fazendo-as em toda sua extensão.
Ali havia vários nomes de peso, mas já ouvi falar que alguns ficam melhor com o tempo. O Bartholomeu estava bastante competitivo, mas no final deu Buchanan. Não esqueço mais este nome.
Baterias disputadíssimas na Master. A começar pelos dois que mais estavam andando. Vitinho e Fabinho Silva. Eu brincava com ambos a todo momento dizendo que iria ser a disputa entre a Capoeira e a Carroça Desembestada. A bateria foi eletrizante e ao final deu Victor.
A praia inteira aplaudiu ambos, mais que merecidos. Nestas quartas-de-final, seis brasileiros e dois estrangeiros. Shea Lopez estava meio adoentado e, ele que vinha surfando bem e dando alguns aéreos, ficou diante de Nathan “Noodles” Webster.
Comecei bem a bateria contra meu brother Renan Rocha, que na bateria anterior havia feito uma onda de 8.00 pontos e me inspirou em minha classificação. No meio da disputa, deixei uma onda passar achando que fosse ruim. Renan entrou para esquerda e em seu backside voltou para o confronto marcando uma boa nota. De posse da prioridade, esperei paciente o fim da bateria para avançar às semis.
A real era que nessa fase, todos os que haviam chegado ali, eram fortes candidatos ao título. Guilherme vinha sempre invertendo bico e rabeta, mas nessa prevaleceu as pontadas de seu amigo Peterson Rosa. “Macarrão” Webster venceu Vitinho por pouco e a essas alturas, já funcionava em seu frontside. Quando passei pelo Bronco na outra semi, já sabia que para vencer o australiano teria de apostar nas esquerdas, pois minha prancha estava funcionando melhor em meu backside.
Nos segundos finais da decisão Grand Masters, ao mesmo tempo em que eu entrava na água para a final, pintou uma ótima série que havia espumado lá na ponta da pedra e pensei: “é lá que eu vou”.
Bateria começou e surfamos um pra cada lado uma marola que entrou. Eu para direita não consegui encaixar mais que duas rasgadas. Já o Nathan fez um 7.00 em seu backside. E de backside eu fiz um 6.30, logo com a direitinha que havia pegado, estava na frente.
Fui pro canto esperar mais uma vez quando Webster pega uma direita e faz outra boa nota e,logo após, mais uma outra. Fiquei precisando de 8.00 e a tática que me restava era esperar. Sabia que se aquela série pintasse, poderia virar, pois estava pronto pra dar muitas bolachas. Mas infelizmente não ocorreu e o Macarrão venceu.
Quando saíamos da água, já ia avistando o Jake Patterson e Richard Lovett prontos para carregar o Nathan, mas em uma fração de segundos, os seguranças da prova agarram o cara e o botaram em seus “cangotes” a fim de correrem desfilando até o pódio, que aliás, era inusitado, pois o palco era a caçamba da pickup Peugeout que co-patrocinava o evento.
Muitos agradecimentos de todos da comunidade surfística e banhos de champangne. Galera amarradona e se não deu Brasil no lugar mais alto do pódio, deu Brasil por ter trazido esta prova tão importante para o mundo do surf, afinal, os ídolos de outrora devem ser preservados.
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