Leitura de Onda

Domadores de monstros

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Teahupoo, Tahiti: ondas em torno de 5 metros são esperadas na temida bancada. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Teahupoo, a onda quebra-crânios, voltou a mostrar o seu valor no World Tour. Depois de alguns anos sem condições ideais, a onda mais viva do tour promete renascer durante a etapa de 2011.

 

O round 1 serviu como um luxuoso warm-up, com ondas lisas entre 4 e 6 pés escorrendo com perfeição pela bancada mais assustadora do mundo.

 

É bacana ver como uma onda perfeita e pesada descola o eixo dos favoritos. Em vez dos especialistas em truques e manobras aéreas mais progressivas, surgem dos tubos mais profundos, equilibrando-se na bola de espuma, alguns surfistas diferentes.

 

CJ Hobgood é um deles. Somou inacreditáveis 19,37 em 20 possíveis num dia em que, apesar das condições de luxo para qualquer mortal, cinco surfistas venceram suas baterias com somas de duas ondas inferiores a 14, incluindo aí Kelly Slater, notório conhecedor de Teahupoo.

 

A previsão de um swell bombástico de 12 pés para as próximas fases do evento reforça a aposta nos mais experientes e atirados no pico. CJ venceu em 2004, foi vice ano passado e esteve perto do título em outras oportunidades.

 

Mas talvez o que mais o credencie seja a sua atuação em dias mais críticos: muita gente deve se lembrar da imagem de um tubo de cerca de 15 pés, em 2005, surfado por ele na remada, às vésperas da etapa daquele ano.

 

Outro capaz de vencer em qualquer condição é o próprio Slater, que dispensa uma defesa para estar na lista. Ele é o surfista que vence em Huntington Beach, Teahupoo e Waimea.

 

Entre os brasileiros, destacaria a gana do vencedor da triagem Ricardo Santos, que perdeu com um bom score e lutou até o fim para escapar da repescagem. Surfistas vindos das triagens costumam ter boa atuação em Teahupoo por serem notórios especialistas no pico e, não menos importante, por terem feito a imersão prévia nos grossos canudos do Taiti para alcançar o evento principal.

 

Jadson André e Heitor Alves mostraram um bom surfe no round 1, e também não passaram por pouco. Não sei como será se Teahupoo resolver mostrar sua faceta mais assustadora. Se a onda vier eles avançam.

 

Adriano, um dos surfistas que mais evoluiu em esquerdas tubulares no mundo, pode aproveitar seu misto de técnica e atitude para descolar bom resultado.

 

Entre os regulares, outra aposta é em Dusty Payne. O havaiano gosta de uma situação limite. No primeiro Teahupoo depois da morte do defensor do título Andy Irons, não me surpreenderia se ele se jogasse nas maiores para reverenciar o conterrâneo.

 

Ver a onda de Teahupoo no WT enche os olhos de qualquer surfista. A foto do cartaz do evento já nos dá uma pequena ideia da energia concentrada naquele paraíso. Um pico tão agressivo que dobra o oceano, água quente, clima tropical, cadeias de montanhas repletas de verde ao fundo e o espetáculo non-stop dentro d´água.

 

É o tipo de evento que deveria ser reproduzido em tevês abertas de todo o mundo. Uma celebração à natureza, ao homem e ao esporte dos polinésios. Estamos aguardando o ON.

 

Tulio Brandão é colunista do site Waves e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou três anos como repórter de esportes do Jornal do Brasil, nove como repórter de meio ambiente do Globo e hoje é gerente do núcleo de Sustentabilidade da Approach Comunicação.

 

 

 

 

 

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".