A onda de Punta Roca, em La Libertad, El Salvador, está provavelmente incluída na lista de uma das 20 melhores ondas do mundo. É a Jeffrey’s Bay de água “caliente”. Foi nessa pista que os masters da ISA se reuniram para o mundial.
Desta vez, mais alguns nomes de peso apareceram para defender suas nações, incluindo aí o tricampeão mundial Tom Curren e a heptacampeã mundial Layne Beachley. Além deles, presença de Allen Sarlo, Jim Hogan, Mike Latronic (ambos competidores dos primórdios da ASP), Ross Williams e, é claro, Jojó de Olivença.
No dia que antecedeu as finalíssimas, o time brasileiro encontrava-se na liderança, porém, aos 45 do segundo tempo, os Estados Unidos acabaram vencendo, já que mesmo com quatro atletas nas finais, não conseguimos vencer nenhuma categoria.
O mais próximo foi Jojó, que competiu em duas categorias – Master e Grand Masters – e acabou sendo vice-campeão da Grand Masters. Na mesma categoria, finalizei em terceiro, seguido pelo sul-africano Andre Malherbe.
O porto-riquenho Juan Ashton teve sua estrela mais uma vez acesa, ganhando seu quarto título mundial master. Jojó havia começado na frente e esteve assim até os cinco minutos finais, quando Ashton pegou uma onda que parece ter exatamente vindo pra ele.
Nosso técnico Gabriel Macedo não concordou com o score dado ao porto-riquenho, mas infelizmente, pra nossa decepção, o cara tomou a frente.
Andrea Lopes, vice–campeã no ISA do Panamá no ano passado, teve parada dura pela frente, pois a australiana Layne Beachley estava impossível.
Com manobras fortes, velocidade e jogando bastante água, não deu nenhuma chance também para a até então atual campeã feminina Master, a sul-africana Heather Clark. Tom Curren e Jim Hogan já haviam protagonizado ótimas baterias e esse foi o desfecho da final Kahuna, que também teve performance regular do sul-africano David Malherbe (terceiro colocado) e nosso David Husadel (quarto).
David mandou bem durante o evento, executou manobras fortes e desenvolveu velocidade. Em uma de suas ondas na fase de repescagem, onde venceu baterias importantes, aplicou uma sequência de três rasgadas fortes no mais puro estilo “raça” Neco Padaratz.
Sabe aquela famosa rasgada do Neco que é característica em seu surf? Acredito que tenha sido muito espelhada nas do David durante sua convivência como atleta na equipe Tropical Brasil.
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Sergio Penna, nosso medalhista no Panamá, onde foi vice-campeão, desta vez não avançou para a final, mas teve êxito ao obter a maior nota do evento, um 9.17, durante a repescagem de número 3.
O sorridente “galeguinho” é daqueles que cativam a todos e desta vez foi barrado na final da repescagem, ou seja, equivalente a uma semifinal.
Estes eventos da ISA são muito legais. Fica sempre aquele espirito competitivo e de confraternização. E sempre rola uns caras que viram atração. O Grand Kahuna Craig Schieber, da Costa Rica, sempre chama atenção. Hora por sua vestimenta estilo Mick Jagger (vide mundial no Panamá), hora por sua desenvoltura nas ondas.
O cara deve ter uns 2 metros de altura, e quando começa a remar, saiam da frente, pois o bicho não para. Quando acelera, parece um morcegão batendo as asas e vai embora manobrando sem parar. Todos gostam de vê-lo surfar e foi muito aplaudido quando saiu vencedor.
O atual campeão da categoria até então, Chris Knutsen, foi vice, tal como sua compatriota Heather. Em terceiro lugar ficou o australiano Nick Pearson e em quarto o peso-pesado Allen Sarlo, pela equipe dos Estados Unidos.
Costumo surfar com Allen em Sunset durante as temporadas havaianas e não me assustei com a extravagância de medidas de suas pranchas.
Elas deixavam os antigos “caiaques” do taitiano Vetea David no chulé. A largura e espessura eram exorbitantes, porém só assim pra levar toda aquela “massa”.
Na Master, o bicho estava pegando e Jojó não conseguiu passar pra finalísima por pouco, ficando com a quinta colocação no geral. Não consegui ver a vitória do australiano Mark Richardson, pois havia acabado de sair de minha final e fui logo pego pelos agentes que fariam o teste do doping.
De concreto sei que o cara vinha voando durante os treinos e todo o evento, bem como o havaiano Ross Williams. Eu apenas ouvia o gritos dos “ozzy’s” quando logo após o soar da buzina o cara chegou para também fazer o doping, ainda eufórico.
Aliás, esse lance do doping era cômico. Ninguém quer cair em suas baterias cheios, e diante das marolas, logo tudo quanto era possibilidade de peso era reduzida. Ao sairmos das finais, ainda na beira com água no tornozelo, os agentes já nos encontravam com uma garrafa d’água de um litro para mandarmos pra dentro.
Cada um tem seu organismo – uns absorvem e mandam pra baixo rápido e outros demoram bem uma hora e meia, casos da Andréa e do Jim Hogan, pois quando cheguei pra fazer meu exame ele já estava e depois que saí o bicho ainda nem dava sinais de que iria urinar.
David Husadel também já tinha tomado umas duas garrafas e nada. Até ironizou “Pô, se me dessem uma gelada, já tinha enchido o recipiente (risos)”.
Hora do pódio! Suspense! Por alguns segundos, achamos que havíamos vencido. Mas logo constatamos o segundo lugar por equipes. Estados Unidos mais uma vez na frente.
Não foi ruim, melhoramos em relação ao ano passado. Todos no time obtiveram importantes pontos, incluindo aí Junior Maciel e Jorge “Pisca” Bittencourt, mas infelizmente, relato mais uma vez, não vencemos nenhuma categoria. De qualquer forma valeu a raça, nego caiu pra repescagem, se levantou e foi medalhista.
O evento no geral conseguiu terminar em um belo dia. Bem melhor do que nos primeiros ali vividos, dias em que a população salvadorenha estava de luto pelas perdas de vidas e desabrigados devido às fortes chuvas que assolaram o país.
Por um curto período durante o começo daquela semana, o evento esteve bem ameaçado de ser cancelado, porém, como o secretário do Turismo Nacional relatou, o término do evento fez jus ao seu povo, guerreiro. Depois da fase crítica e muito difícil, eles se levantam com garra.