Márcio Zouvi

Shaper afiado

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Chefe de equipe Yufu Penrose e shaper Márcio Zouvi na fábrica da Sharp Eye em San Diego (EUA). Foto: Gioranelli.

Nascido no Rio de Janeiro (RJ) e radicado na Califórnia (EUA) desde o fim dos anos 80, Márcio Zouvi é um dos shapers brasileiros mais respeitados internacionalmente.

Só nos Estados Unidos, ele já produziu mais de 31 mil pranchas, fora o licenciamento em outros países. A famosa marca “Sharp Eye” é vista constantemente nos pés de grandes surfistas.

Impressionado com o alto nível dos compatriotas, Zouvi também desenvolve um trabalho com os brazucas e ultimamente produziu foguetes para nomes como Filipe Toledo, Alejo Muniz, Gabriel Medina, Jerônimo Vargas, Tomas Hermes, Wiggolly Dantas e Heitor Alves, entre outros que o procuraram.

André Gioranelli de olho no quiver de foguetes. Foto: Arquivo pessoal Gioranelli.

Para atingir o sucesso, Zouvi teve de enfrentar a discriminação contra os brasileiros nos Estados Unidos. “A princípio, vim para estudar e surfar, mas as coisas foram mudando com o passar do tempo. Conheci um americano que trabalhava numa fábrica e precisava de ajuda. Fiz um teste e eles me chamaram. O dono não gostava de brasileiro, por causa dos problemas que aconteceram no Hawaii nos anos 80. Eu tive de mostrar que ele estava errado e que uma experiência negativa não era suficiente para ele ter uma opinião generalizada”, conta Zouvi.

“Eu já tinha alguma experiência na fabricação de pranchas, mas realmente aqui eu aprendi muito do que sei. O contato com materiais melhores e uma mão-de-obra mais experiente foi muito importante para o meu crescimento profissional”, garante ele.

 

Mais de 31 mil pranchas já foram produzidas na Sharp Eye nos Estados Unidos. Foto: Arquivo pessoal Gioranelli.

“Depois de trabalhar com algumas fábricas, em vários processos como laminação, consertos e lixação, entre outros, eu, que paralelamente já shapeava algumas pranchas, comecei a fomentar a ideia de criar a minha própria marca”, continua o shaper.

Mais uma vez ele teve de driblar o preconceito. “No início, deparei-me com uma certa discriminação, pois a indústria de prancha aqui era, e ainda é, muito fechada. Com o tempo, perseverança e um trabalho honesto, fui conquistando um certo espaço. Hoje, adquirimos nossa própria fábrica, construída com equipamentos de ponta e uma preocupação com o impacto ambiental, filtrando o ar que exalamos na atmosfera, reciclando algumas químicas utilizadas, etc”, revela Zouvi.

Seu modelo de pranchas mais vendido atualmente é o “Disco”, que teve uma ótima adaptação às ondas californianas. Em relação ao mercado brasileiro, ele faz uma ressalva.

 

“É bom, mas poderia ser melhor. Se a indústria fosse mais regularizada, talvez não teria tantas marcas de fundo de quintal que acabam confundindo o mercado, tanto em preço, como qualidade. Em relação aos materiais, os blocos que usei da Teccell fizeram as melhores pranchas que já fiz”, afirma o shaper.

“Sobre tecidos e resina, não posso opinar tão bem, mas acho que seja inferior, pois a resina Silmar é a melhor para fabricação de pranchas, sem dúvidas. A mão-de-obra brasileira é muito criativa e sabe se virar sem os recursos e ferramentas que os gringos possuem. Isso é uma qualidade única”, elogia Zouvi.

Além de shapear, Zouvi está sempre na água testando seus foguetes. “Eu checo o surf todos os dias antes de ir à fábrica. Gosto muito de surfar o ABS, em Sunset Cliffs. Quem também surfa lá, e já virou local, é Royler Gracie. Aí, já viu, né? Ordem estabelecida!”, brinca o shaper.

Márcio Zouvi deixa ainda uma mensagem aos internautas do Waves. “Queria falar do respeito que o fabricante de pranchas merece. Vamos nos lembrar de que, muito antes de uma surfwear, marca de óculos e tudo o que hoje é chamado de indústria do surf, já existia um surfista, pelado, de pé, numa prancha esculpida de madeira. Para ser surfista, precisa-se apenas de uma prancha. Não importa o que você veste. E essa mesma prancha, que te traz tanta alegria, foi feita com muito esforço por caras que não recebem o reconhecimento que mereciam”, conclui Zouvi.