Acostumados aos treinos de atletismo, cerca de 100 crianças do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL), localizado em Campinas, tiveram um dia diferente na última segunda-feira no Guarujá.
A instituição levou seus alunos para aulas de surf na praia de Pitangueiras, sob orientação do experiente Alcino José da Silva Neto, o “Pirata”, um dos ícones do surf adaptado e que comanda uma escola de surf com o seu apelido.
Mais do que simples lazer, os jovens atletas tiveram um dia de conhecimento. Além de aulas de iniciação ao surf, praticaram vôlei, futebol, frescobol e até peteca.
“Além das atividades físicas, buscamos proporcionar novas experiências para os integrantes do IVCL. Como muitos ainda não conheciam o mar, organizamos o passeio como uma das confraternizações de final de ano”, conta Evandro Lázari, treinador do IVCL.
“Com certeza, foi um momento mágico para muitas crianças, que estavam vendo o mar pela primeira vez, aprendendo a surfar, um esporte em total contato com a natureza”, diz Gabriela Salek, coordenadora do instituto.
Ela explicou que todos os participantes praticam atletismo, motivados pelo ídolo Vanderlei Cordeiro de Lima, medalha de bronze na maratona nos Jogos Olímpicos de Atenas e, sem dúvida, o maior exemplo de fair play em todos os tempos (o famoso caso do padre irlandês o segurando no percurso quando liderava a prova).
Dos 100 presentes, pelo menos 30 ainda não conheciam o mar, causando uma sensação de alegria maior ainda. Antes de irem para a água, as crianças conversaram com Pirata, aprenderam como “dropar” uma onda e a assimilação foi fácil, até pela disciplina dos treinos de atletismo.
“Como as crianças do IVCL já praticam atividades físicas e possuem maior repertório motor, aprenderam rapidamente as técnicas e já foram para o mar”, destaca Maria Gabriela Carreiro, psicóloga do esporte e administradora do Pirata Surf Club.
O próprio Pirata ficou satisfeito em dividir sua experiência de vida com futuros atletas. “São crianças que adotaram o esporte para mudar suas vidas e agora ganharam a chance de conhecer o surf”, afirma o surfista de 40 anos, que há 25 pratica o surf adaptado, depois de ter a perna esquerda amputada, quando um motorista embriagado o atropelou, enquanto pilotava sua moto.
O Pirata Surf Club existe há 17 anos, sendo que há cinco foi criado o Museu Aberto do Surf, recebendo projetos sociais de vários estados, com aulas de surf gratuitas com toda a estrutura, equipamentos e profissionais. Além disso, Pirata desenvolve um trabalho com pessoas portadoras de deficiências, buscando sempre receber pessoas para vivenciar o ambiente da praia e aprender um pouco sobre o esporte.
Sonho Um dos maiores nomes do esporte brasileiro em todos os tempos, o ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima está realizando um antigo sonho, de oferecer condições de acesso à educação, cultura e esporte para crianças e adolescentes. Para isso, criou o Instituto, que leva o seu nome, em Campinas, atendendo atualmente cerca de 200 participantes de região metropolitana de Campinas, abrangendo perto de 20 cidades.
O IVCL está estruturado em três grandes núcleos, o educacional, voltado para atividades psicopedagógicas e de reforço escolar; o profissionalizante, ainda em desenvolvimento; e o esportivo, representado pela Orcampi, uma escola de atletismo, que revela, lapida e desenvolve novos talentos da modalidade.
“Nosso núcleo mais avançado é o esportivo, por conta de uma parceria que fizemos com a Orcampi quando o IVCL foi fundado em 2008. A entidade já desenvolve um trabalho incrível com as categorias de base desde 1997, quando eu treinava na cidade e aceitei ser padrinho deste projeto. A ORCAMPI já transformou a vida de muitas crianças que deram seus primeiros passos por aqui como, por exemplo, a Fabiana Murer”, explica Vanderlei.
Para integrar o projeto o participante precisa comprovar que está matriculado na escola, bem com suas notas e frequências escolares. Cada jovem recebe uniforme para a prática da modalidade, passes municipais e intermunicipais para treinos, transporte para competições, inscrições em competições, suporte nutricional, apoio psicológico, treinamento específico da modalidade, suporte fisioterápico, planos de saúde e algumas bolsas de estudos universitárias.
“Assim como o atletismo transformou a minha vida, quero oferecer a mesma oportunidade para esta nova geração. Por isso, estamos sempre em busca de parceiros que possam nos ajudar a aprimorar o nosso trabalho. Sei que ainda podemos melhorar muito, mas me sinto extremamente satisfeito e orgulhoso da estrutura que temos hoje”, destaca Vanderlei.
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