O argentino Fernando Aguerre, presidente da ISA (International Surfing Association), explica em entrevista exclusiva ao jornalista uruguaio Pablo Zanocchi, os detalhes que o levaram à China, sede do primeiro evento que une competição por equipes e baterias profissionais.
“À primeira vista, a ASP encarou nossa proposta com curiosidade, mas acabou por aceitar a importância do evento, especialmente em um país onde o surf é novo e quase desconhecido”, explica o dirigente.
Quando e como surgiu a ideia de desenvolver um evento ISA na China?
Em maio de 2010, durante a reunião anual do Movimento Olímpico e federações desportivas, almocei com os líderes de uma organização chinesa dedicada a promover esportes no país. Nessa reunião, me propus a introduzir surf com seriedade na China. Falei sobre como o surf é bom para as pessoas que praticam, bem como para a população dos locais onde há ondas.
Minha idéia foi colocar toda a minha experiência de décadas de desenvolvimento do surf em diferentes partes do mundo, trabalhando a partir da ISA como uma entidade séria e que contou com o apoio dos setores público e privado na China. Valeu a pena, pois no segundo semestre de 2011 os acordos foram assinados para fazer um evento completamente novo, com as oito melhores equipes do mundo.
Qual impacto o evento vai trazer para a comunidade do surf na China?
Acho que será um divisor de águas. O surf na China será dividido em antes e depois do ISA Cup. Não há realmente muitos surfistas chineses hoje. Talvez não mais que 200… Sim, apenas 200. Hainan é uma ilha paradisíaca em comparação com o Vietnã. O clima é tropical e a água é algo mais quente do no Hawaii.
Logicamente possui tantos bons surfistas. O vento é terral em quase 24 horas todos os dias do ano, por causa das montanhas perto da praia de Riyue Bay. Amigos que têm surfado lá dizem que é uma onda bem divertida, extensa e de energia mediana.
Além da ISA Cup, vai haver um evento de 4 estrelas da ASP. O que sua gestão pôde fazer para incluir um evento na China no calendário de competições da ASP?
Esta foi a minha ideia, pela primeira vez na história montar um evento que inclui competição por equipes do mundo e competição profissional, neste caso uma premiação de quase US$ 100 mil em dinheiro, ou seja, unir dois segmentos do mundo do surf, algo que nunca foi feito.
À primeira vista, a ASP encarou nossa proposta com curiosidade, mas acabou por aceitar a importância do evento, especialmente em um país onde o surf é novo e quase desconhecido.
Depois de tantos anos à frente da ISA, o que te motiva a seguir neste trabalho, neste caso, atingir a China milenar?
Minha presidência do ISA é algo que eu faço por amor ao surf. Desde meus primeiros anos, quando fundei a primeira associação na Argentina para lutar contra um prefeito militar que havia proibido o surf, meu trabalho na ISA é uma tarefa que deve ser feita em nome de todos os surfistas do mundo.
Levar o surf para a China, um país enorme com 1.3 bilhão de pessoas e milhares de quilômetros de litoral, era um sonho meu havia muitos anos.
Parecia incrível não haver prática de surf sob condições tão excelentes. Obviamente, para haver o surf, primeiramente deve haver moradia, alimentação e outros elementos básicos da vida. Na China, isso não existia. Os chineses só agora começam a ter momentos de lazer, o que eu considero essencial para uma vida plena e feliz. Levar o surf, um esporte que não requer obras, infra-estrutura, e que também é aberto a qualquer pessoa que só quer ir para o mar, é um sonho muito bom.
Em que região do planeta o surf mais se popularizou nos últimos anos?
Tenho certeza de que o lugar onde o surf mais tem sido explorado é a América Latina. Como latino, meu objetivo era desenvolver o esporte em países com boas ondas e boas condições climáticas no mundo, onde o surf era curiosamente patrimônio de uns poucos.
Em quase duas décadas de trabalho duro, juntamente com as federações nacionais da América Latina, tem havido grandes progressos – dois mundiais para o Peru (medalha de ouro), um campeão mundial argentino (Santiago Muniz, em 2011 no Panamá), e forte desempenho de outros países como a Venezuela, foram alguns dos frutos de muitos que virão com certeza.
E depois da China, o que podemos esperar?
Depois do evento na China, temos o primeiro Mundial de Stand Up Paddle da história. Será no Peru, de 20 a 26 de setembro, na costa do lendário clube de Waikiki, distrito de Miraflores. E depois, em abril do ano que vem, o Mundial Júnior no Panamá.