Yuri Soledade

Nocaute em Jaws

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Apenas quatro dias depois de encarar o histórico swell na remada em Jaws, o baiano Yuri Soledade voltou ao pico e desta vez não saiu ileso. Em ondas maiores de 5 metros, o baiano não conseguiu controlar o drop e bateu o queixo na prancha.

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As consequências poderiam ter sido piores, como o próprio atleta afirma, mas as lesões foram graves. Yuri saiu da água direto para o hospital e ficará de molho por pelo menos quatro semanas, com nove pontos no queixo, duas fraturas no maxilar e um dente extraído.

Pioneiro na remada em Jaws, Soledade vive na ilha de Maui e é um dos surfistas mais experientes do pico. Na sessão do último dia 4 de janeiro, com ondas de até 10 metros e difíceis condições, alguns dos maiores nomes do big surf mundial chegaram a pedir conselhos ao baiano de como entrar e sair da água.

Em processo de recuperação e dois quilos mais magro (se alimenta por meio líquido), Yuri conversou com Bruno Lemos, correspondente do Waves no Hawaii, sobre o acidente em Jaws. Ele também aconselha os surfistas que pensam arriscar a vida na remada em Jaws: “No momento que o bicho pega, é só você e Deus”.

Como estavam as ondas neste dia e como aconteceu o acidente?

Aconteceu no dia 8 de janeiro. As ondas estavam perfeitas para a remada, com séries entre 4 e 5 metros e algumas até maiores. Quando chegamos ao pico, só havia a galera local de Maui. Entraram comigo os brasileiros  Lapo Coutinho e Tiago Candelot. Como nós só tínhamos as minhas duas pranchas, decidimos revezar, sendo que um ficaria no jet-ski. Com o mar subindo, a presença do jet foi essencial, pois antes de me lesionar o Tiago salvou várias pessoas. Só havia ele com o jet lá fora.

As ondas estavam praticamente com a metade do tamanho do mar do último dia 4, por isso eu particularmente não estava preocupado com o tamanho das ondas. Mas depois de cair num drop, dei uma pancada na prancha. Foram nove pontos no queixo, duas fraturas no maxilar e um dente extraído. Posso dizer que foi Deus que me ajudou, pois os médicos não acreditaram como não apaguei na hora. Poderia ter sido muito pior.

Depois disso o que aconteceu? Você foi direto ao hospital?

Saímos com o jet e fui direto ao hospital. Até então só sabia do corte, mas a dor era muito forte e no fundo sabia que algo estava errado. Quando tiramos a radiografia, na hora não havia nenhum especialista de plantão e só tive a confirmação das fraturas no dia seguinte. No terceiro dia houve a operação, na qual arranquei um dente e coloquei as placas de ferro.  

Você não acha que os surfistas chegaram muito perto do limite na remada? Qual era o visual e o tamanho das ondas lá no dia 4 de janeiro? Você acha que já tinham surfado ondas tão grandes no braço naquele lugar?

Realmente estamos chegando ao limite. Acho que essas foram as maiores ondas já surfadas na remada. Mesmo com os melhores do mundo na água, eram poucos os que remavam para as séries e, mesmo assim, passaram várias ondas sem que ninguém se arriscasse.

Jaws é a onda mais perigosa e mais difícil devido às condições, o vento e a velocidade da onda são absurdas. Vários surfistas entraram e não conseguiram nem pegar uma onda.

Houve algum esquema pré-organizado de salvamento para aquele dia? Como isso funciona?

Ainda estamos falhando muito neste ponto, tinham alguns jets na direita, mas quase ninguém na esquerda. No dia anterior pensamos em contratar alguém para fazer a segurança dos mad dogs, mas como emprestei o meu jet ao fotógrafo Fred Pompermayer, não havia salvamento para nós.

Um dos tópicos mais comentados aqui depois do swell foi a falta de gente competente para fazer o salvamento, mas graças a Deus nada aconteceu neste dia. Outro ponto importante são as novas roupas que estão sendo desenvolvidas. Com certeza devem ser algo obrigatório. A maioria já tem e ouvi dizer que ajuda também no psicológico. Ainda não tenho uma, mas tenho umas ideias que pretendo desenvolver junto ao meu novo patrocinador, Mormaii, e espero ter logo para a próxima temporada.

O que você vai ter que fazer para recuperar-se?

Agora tenho que ficar quatro semanas sem fazer nada, estou com a boca travada por metais e só me alimento por meio líquido. Em três dias já perdi dois quilos e até o final deste período devo perder de 10 a 12 quilos. Fora a comida, o mais difícil é ficar sem poder falar. Será um processo longo, mas já estou pensando no final da temporada. Espero voltar com força total no início de março.

Qual dica você dá para alguém que pensa em encarar Jaws na remada
um dia?

Treine bastante, suba aos poucos, sem pular degraus. Tenha o equipamento certo e ouça bastante os conselhos dos mais experientes. No momento que o bicho pega, é só você e Deus.

Abraço a todos e obrigado pelos votos de melhoras.

Foto de capa Fred Pompermayer/ Theshot.com.br.