Hang Loose Pro Contest

Bastidores do antidoping

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Gabriel Medina afirma que exame antidoping não altera sua rotina. Foto: Aleko Stergiou.

Neco Padaratz não quer que casos como o seu se repitam. Foto arquivo: Fábio Minduim.

A inclusão do exame antidoping em todas as etapas do World Tour masculino e feminino a partir desta temporada é uma das principais novidades apresentadas pela ASP (Association of Surfing Professionals) para o circuito mundial de 2012.

Os testes seguem os mesmos padrões olímpicos exigidos pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), com normas prescritas pela World Anti-Doping Agency (WADA), a agência mundial de antidoping.

A princípio, os exames serão feitos apenas nos 34 atletas do tour masculino e 17 do feminino já garantidos em todas as etapas da elite mundial. Um comitê especial criado pela ASP (ARDC – Athlete Rules & Disciplinary Committe) ficará encarregado de determinar o número de testes realizados por evento e divulgar os resultados.

Nos bastidores do Hang Loose Pro Contest, etapa Prime do circuito mundial ??que acontece até este domingo na paradisíaca Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE), alguns atletas e organizadores comentaram a nova regra da ASP para o surf profissional.

“Este é um projeto que a ASP já tinha há bastante tempo, desde os primeiros contatos da ISA (International Surfing Association, entidade que regula o surf amador em todo o planeta) com o Comitê Olímpico Internacional. É uma forma de começar a educar os surfistas e os organizadores dos eventos dentro de uma realidade mais profissional para o esporte, espelhado em modalidades olímpicas”, comenta Roberto Perdigão, diretor da ASP South America, escritório regional da ASP para a América do Sul.

Para Perdigão, a decisão é válida e importante para o surf no atual estágio em que se encontra. “Hoje você vê um número enorme de surfistas jovens profissionalizando-se com menos de 17, 18 anos, inclusive classificados para o World Tour, como (Gabriel) Medina, (Miguel) Pupo, John John Florence. Acho importante a imagem do surf estar ligada a um esporte limpo, além de educar os surfistas sobre o que há de mais saudável no esporte em termos de rendimento físico e mental”, opina Perdigão.

O principal caso de doping registrado no surf foi o do catarinense Neco Padaratz. Em 2005, durante a etapa do WT da França, Neco tornou-se o primeiro atleta da ASP punido num exame antidoping. Naquele ano, a França decretava uma lei nacional que obriga a realização de testes em todos os eventos esportivos mundiais realizados no país.

Primeiro alternate do Hang Loose Pro na Cacimba, Neco concorda com a implantação do exame. Para ele, a nova regra pode estar sim relacionada a uma pressão para que o esporte se torne olímpico, mas trata o assunto como delicado e cita a polêmica morte de Andy Irons como um outro possível motivo.

“A verdade é que há uma força tremenda sendo feita ao longo dos últimos anos para que o surf se torne esporte olímpico, desde quando as olimpíadas foram para a Austrália, em 2000. Outros falam que há relação com a morte do Andy Irons, honestamente não sei. Mas é uma coisa bem delicada em todos os aspectos”, afirma Neco, que na época acabou denunciado pelo uso de esteróides, usados durante o tratamento para um problema crônico nas costas. O surfista acabou suspenso por ano, além de perder todos os pontos conquistados nas duas divisões do circuito mundial da época (WCT e WQS).

“Todos correm risco, porque a gente não joga em um time, o surf é um esporte individual. Alguma vez que alguém tenha um problema de saúde, que tome algum tipo de medicamento que não está na lista de medicamentos proibidos, como aconteceu comigo. Como é que você vai julgar uma pessoa como eu fui julgado na época, de maneira subentendida. Prejudicou minha vida em todos os sentidos e demorou anos para eu conseguir explicar o que realmente tinha acontecido”, conta o catarinense.

Principais atletas da nova geração brasileira, Gabriel Medina e Miguel Pupo são amigos de infância e revelam uma preparação desde cedo para este tipo de situação. Para eles, o exame antidoping não vai alterar em nada a rotina para o tour deste ano.

“Eu já tenho acompanhamento médico desde criança, tudo o que entra dentro de mim meu médico está ciente. Acredito que não há problema, esta nova geração é muito forte e vem sendo preparada desde cedo. A gente chega a uma certa idade já com experiência para saber o que é certo e errado”, diz Miguel Pupo, em discurso parecido com Medina.

“Para mim não muda nada, já venho trabalhando faz tempo com o Dr. Marcelo Baboghluian, do Instituto Marazul em São Paulo (SP). Acho que é mais uma coisa positiva no tour, vai deixar as coisas mais profissionais e justa para todos os surfistas”, resume Medina.

Mas Roberto Perdigão alerta que é necessário um acompanhamento médico, principalmente dos patrocinadores. ”Tem que haver todo um projeto de educação para orientar os surfistas do que eles podem e não podem tomar. E o mais importante é que os patrocinadores, principais responsáveis, sejam parte integrante deste processo. Eles tem que suprir os surfistas com orientações e estrutura médica. Principalmente porque todos os padrões de doping seguem as orientações olímpicas da Wada”, diz.

Neco também deixa seu recado para a nova geração. “Essa nova geração está bem preparada. A maioria deles tem alguém por trás, alguém para dar instrução de como se comportar. Então que sirva de incentivo para a molecada de hoje saber que eles têm que levar a sério o que estão fazendo. É um benefício que vai servir de bem para todos, porque não desejo para ninguém o que aconteceu comigo”, finaliza Neco.

A vigésima sexta edição do Hang Loose Pro Contest distribui 6.500 pontos no ranking unificado da ASP, além de US$ 250 mil de premiação total.

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