Netos, pais e avós

Um crowd de 40 anos

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Crowd é crowd porque reúne surfistas de todas as gerações. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Outro dia, sentado no line-up lotado do Arpoador, berço do surf e do crowd, refleti: os crowds não param de aumentar. Qual seria o motivo?

A primeira coisa que me veio à cabeça foi o fato de o surf estar em franco crescimento, com um número de novos praticantes a cada dia.

Mas, ao olhar bem aquela multidão, rapidamente percebi que esse não era o principal motivo, pois várias gerações de surfistas dividiam as boas da série.

Então, que me toquei que, hoje em dia, surfamos em um crowd com mais de 40 anos de diferença de idade.

No início do surf no Brasil, nos anos 60 e 70, o esporte era predominantemente praticado por jovens e, consequentemente, o pouco crowd que existia era formado basicamente por garotos que futuramente se tornariam verdadeiras lendas no esporte.

Já com a chegada dos anos 80 e 90, com a indústria e mídia especializada em plena ascensão, o número de novos surfistas disparou, com um aumento considerável de crowd em nossas praias.

Além da nova geração que inovava nas manobras e andava cada vez mais rápido nas paredes, os “coroas” da geração anterior – naquela época, era inimaginável que os caras ainda teriam uma vida inteira de surf pela frente –, com mais horas de vôo do que a molecada, dividiam o pico e continuavam pegando altas ondas.

Decorridos aproximadamente 20 anos, chegamos aos dias atuais, em que a quantidade de novos surfistas não para de crecer.

A geração 80 / 90, atualmente em torno dos 40 anos, continua como garotos – idade do atual campeão mundial Kelly Slater –, e a velha guarda dos anos 60 / 70, em verdadeira prova da longevidade do surf, continua se divertindo no meio do crowd, seja de pranchão, stand up ou pranchinha, com a leveza e gás de adolescentes.

Quem teve a oportunidade de ver, recentemente, Ricardo Bocão ou Cauli Rodrigues surfando com pranchas pequenas, sabe o que estou dizendo!

Embora seja sempre melhor surfar em um pico com pouca gente, é muito bom dar aquela caída no meio do crowd e dividir suas ondas com três gerações de surfistas, podendo presenciar, ao mesmo tempo, a evolução e a história do esporte a sua frente, com, literalmente, mais de 40 anos de diferença de idade entre a galera.

Para o futuro – os limites do corpo humano e a longevidade do surf ainda são desconhecidos –, a tendência é que os crowds continuem crescendo e as ondas, cada vez mais, serão disputadas por netos, pais e avós.