Presidente da CBS (Confederação Brasileira de Surf), o baiano Adalvo Argolo dirige a principal entidade do surf amador brasileiro desde 2010.
Adalvo é ex-atleta profissional, empresário, lojista e vem de uma tradicional família de surfistas de Ilhéus, Bahia.
De passagem pela capital paulista, o dirigente visitou a redação do Waves, falou das principais dificuldades para dirigir a CBS e revelou os novos projetos da entidade para o surf amador.
Quais eventos a CBS organizou neste ano?
Este ano foi atípico para o surf em geral, de dificuldades no Brasil e no mundo. Mas, graças à parceria com a Billabong conseguimos fazer o calendário completo do Brasileiro Amador desta temporada. Além disso, realizamos o Brasileiro Master com três etapas e também fizemos o Brasileiro de SUP Wave e SUP Race, classificatórios para o mundial em fevereiro no Peru. Foram etapas na Bahia, Petrolândia (PE), Olinda (PE) e Maracaípe (PE).
A maioria das etapas deste ano aconteceu no Nordeste. É onde a CBS tem mais facilidade para encontrar parceiros hoje em dia?
Temos bons parceiros pelo Brasil inteiro, como as federações, por exemplo. Mas o ano está sendo difícil. Acho que os lugares onde caçamos mais eventos foi no Sul e no Sudeste. Mas o Rio já concentrou muitos outros eventos por causa das Olimpíadas.
Na Bahia, temos o apoio do Governo do Estado e Pernambuco também tem feito muita coisa por meio do Geraldinho Cavalcanti. Mais para cima, temos o Amélio Jr e o Romero Jucah, que também fazem muitos eventos. Acho que há mais falta de interesse pelos nossos produtos no Sul e Sudeste. Mas temos trabalhado para isso e algumas negociações para o próximo ano já estão adiantadas. Há um grande interesse da CBS para que nossos eventos venham para o Sul e o Sudeste.
Qual é o foco da CBS hoje?
Nos mandatos passados, tínhamos apenas uma etapa do circuito mundial da ISA (International Surfing Association) de dois em dois anos. Depois passou para uma etapa por ano e neste ano já tivemos cinco eventos da ISA. Para 2012, já estão confirmados sete. Então, a CBS está se concentrando em fazer circuitos classificatórios para os mundiais.
E quais são as maiores dificuldades?
Precisamos arrecadar fundos para poder bancar a equipe toda na viagem ou pelo menos apoiar as equipes brasileiras no mundial. Como nosso projeto é ajudar a ISA a ir às Olimpíadas, então temos que arrecadar fundos não só pra manter a instituição, mas também para levar estas equipes ao Mundial.
Para você ter uma ideia, no ano que vem teremos os mundiais Júnior, Oakley, Longboard, SUP, Bodyboard, Master e ainda tem o evento da PASA (Pan-American Surf Association) e tem mais o evento do comitê do ODESURF, o evento onde a equipe brasileira será levada pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) na Venezuela.
Então nós cobramos uma taxa de filiação do evento em cada estado, que hoje são os eventos de menor investimento que temos no Brasil. Também não temos premiação em dinheiro, mas temos que arrecadar um valor para mandar essas equipes aos mundiais.
Como então levantar mais verbas?
Temos a parceira da Billabong, que patrocinava a equipe Júnior e provavelmente vai continuar no ano que vem. Também buscamos no Governo Federal, com o Ministério do Esporte na área de alto rendimento. Mas estamos com dificuldades por causa de tantos eventos grandes no Brasil como Copa do Mundo e Olimpíadas, para onde os recursos estão sendo mais direcionados.
Como a entidade sobrevive atualmente?
A CBS cobra uma taxa anual das federações, que é bem simbólica, e também arrecada fundos em todos eventos em que participa. A entidade sobrevive com suas dificuldades porque temos muitos eventos nacionais para cobrir. Mas a chegada dos eventos ISA é um processo novo, então estamos inaugurando posições e nos sobressaindo mesmo com estas dificuldades. Temos o Matheus Navarro campeão Mundial Júnior, além do vice em várias categorias. São atletas novos que damos oportunidade para que tenham o mesmo sucesso de Gabriel Medina e tantos outros.
O que você traz de experiência nestes três anos de mandato?
Acho que meu maior desejo seria discutir o surf no Brasil com o único interesse de engrandecer o esporte. A CBS é super favorável que exista a Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional), é super favorável que exista a ASP South America. Mas seria interessante se conseguíssemos nos juntar para fortalecer o esporte, porque hoje cada um está bem segmentado.
A CBS cuida das etapas classificatórias nacionais para o mundial da ISA, a Abrasp cuida dos atletas profissionais que passaram pela CBS nos campeonatos nacionais e a ASP cuida dos nossos atletas que vão competir lá fora. Então acho que cada uma está bem direcionada no seu segmento e acho que devemos parar para discutir ideias e formas de como facilitar as ações e o esporte crescer em harmonia no Brasil.
Como você vê a chegada de atletas cada vez mais novos no circuito mundial?
Acho que é uma tendência. Em todos os esportes isso acontece cada dia mais cedo. Mas, acho que com 16, 17 anos já é uma idade legal para estar nos campeonatos. A carreira de surfista é curta, são de dez a 15 anos competindo em alto nível para conseguir um bom pé de meia. Mas o sol é para todos, a gente não trabalha para os tops da elite. Há muitos outros que continuam no Brasil, então na verdade trabalhamos para a maioria dos atletas, e não só para as grandes estrelas.
Qual a importância da CBS para a formação de novos atletas?
Vemos na história do surf brasileiro que 100% dos atletas que estão correndo o WQS e o WCT passaram pela Abrasa (ex-CBS) e hoje pela CBS. Vai continuar sendo sempre assim, porque é uma cadeia natural. Primeiro eles aparecem em sua praia com as associações e depois federações até fazer um caminho nacional pelos campeonatos da CBS. Aí, vem a experiência de competir contra atletas de outros estados, que são muito bem representados hoje em dia. Então, o caminho para chegar à Abrasp e à ASP passa pela CBS.
Quais foram seus erros e acertos nestes três anos de mandato?
Acho que a melhor parte é que vivi no surf a vida inteira. Fui surfista amador, depois profissional, depois representei várias marcas na Bahia. Hoje, sou lojista de uma das marcas mais antigas do país, que é a Backdoor. Então, acho que fiz todas as passagens que poderia ter feito como empresário e agora como administrador. Ah, também fui presidente da federação baiana por 10 anos.
Assim, a gente acaba vendo que nosso papel é mais político. A grande forma de arrecadar recursos hoje é por meio da política. É torcer para que apareçam mais políticos surfistas para que tenhamos acesso aos orgãos públicos e buscar verbas para manter o esporte e pagar melhor para os surfistas.