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Head judge em julgamento

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Surf atrai milhões de simpatizantes pela rede e não pode gerar resultados injustos, lamenta Taiu. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

O surf é um esporte que nos fascina, independente de ser uma competição. Basta o mar subir e soprar um terral gerando condições perfeitas, que até mesmo os não-surfistas ficam hipnotizados com o espetáculo natural das ondas.

 

Uma onda quando é bem surfada chama a atenção dos que estão na praia.

 

A invenção do surf-competição ajudou o esporte evoluir e chegar ao nível que se encontra nos dias de hoje: ultra-radical-aerial-performance. 

 

O julgamento sempre será subjetivo. Nunca haverá um nocaute ou o vencedor irá cruzar uma linha de chegada. O surfista-competidor sempre vai estar exposto à opinião e à nota dos juízes. 

 

É neste ponto que eu quero chegar e expor uma alternativa, talvez mais justa, na questão da centralização do julgamento nos dias de hoje.

 

Muitas mudanças já aconteceram para a evolução do esporte e elas ajudaram muito: a contagem de apenas duas ondas na bateria e a ênfase às manobras no outside e de power/espetaculares mudaram o rumo do esporte.

 

Depois da polêmica final de Portugal e da repercussão que o resultado gerou, e que não agradou nem  mesmo alguns gringos, este seria um bom momento para mudar o estilo de julgamento, porque existiu sim um responsável pelo erro grotesco daquele resultado: o head judge.

 

Desde quando eu fazia locução em campeonatos, ficando ao lado dos juízes, muitas vezes fiquei surpreso ao ver a total influência do head judge na opinião dos juízes.

 

Da maneira como o julgamento funciona hoje, com o super-poder nas mãos do head judge, os juízes acabam se tornando “marionetes”  na mão do “manda chuva”,  o head judge. 

 

Pior se o head judge for parcial ou ser influenciado pela emoção do patriotismo ou afinidade com atleta X ou Y. Aí, o critério de julgamento vai ser totalmente influenciado por uma única opinião. Eu sou a favor de que os cinco juízes sejam autônomos em suas opiniões.  

 

As notas são divididas em cinco níveis: ruim (0 a 2); fraca (2 a 4); regular (4 a 6); boa (6 a 8) e excelente (8 a 10).

 

É o headjudge quem avalia em qual nível se enquadra a onda surfada e é aí que eu discordo

deste sistema de julgamento.

 

Tirando como exemplo a final de Portugal, a primeira onda do Julian Wilson, mesmo com 

o argumento de defesa de que no pico Supertubes é valorizado o tubo e a onda foi da série: é inaceitável um rápido tubo de 3 segundos e uma saída furando a cortina, e somente isso, para a onda ser quase de nível excelente.

 

Isso mostra com clareza a influência da opinião de um head judge no conceito da bateria, já que a primeira onda pontuada dita os valores das notas seguintes.

 

Mais influência ainda é a nota da onda intermediária do Medina ser julgada para baixo, em que ele extrapolou nas manobras. É claro que o head judge exigiu estes critérios!

 

Ora, se existem cinco juízes qualificados e experientes trabalhando nesta função, é desnecessário estarem sob influência de apenas um cérebro, uma opinião. É nítido que assim existe muita centralização de poder para uma responsabilidade tão grande como esta, o destino de muitos profissionais e da justiça de uma disputa.

 

Eu sou a favor da extinção do head judge. Desta maneira, os cinco juízes poderiam exercer as suas opiniões de maneira independente. 

 

Corta-se a maior a menor nota sempre e, mesmo que duas ou mais notas divirjam dos níveis do critério, no final a nota e a avaliação seria mais justa, pois a média prevaleceria vinda de três opiniões distintas.

 

Ainda sugiro aumentar a panela de juízes para um total de oito a dez, divididos por países que tenham atletas participantes no circuito.

 

Seria traçada então sempre uma grade, para que um juiz nunca possa participar de uma bateria com atleta de seu próprio país.

 

Não é e nunca séra fácil chegar a uma fórmula perfeita quando o julgamento é tão subjetivo como no surf. 

 

A idéia de descentralização do julgamento parece ser algo mais justo e democrático.

 

Esta é uma questão que deveria ir para a reunião anual da ASP para ser discutida. O surf, hoje com tantos torcedores espalhados pelo planeta acompanhando pela internet, merece ter um julgamento imparcial, que não estimule as pessoas a falarem mal do esporte ou da ASP. E que até mesmo parem de acompanhar os eventos, tamanha a indignação diante de resultados injustos.

 

Octaviano Bueno é legend do surf paulista e brasileiro.