Quando Kelly Slater remou em uma craca sincera, faltando seis minutos e precisando de 9.24 na bateria semifinal contra Mick Fanning, já dava para saber o que iria acontecer.
Porém, durante alguns segundos, pareceu que não ia dar.
Até o momento em que Slater saiu de dentro do tubo, que mais parecia um Backdoor, voando como uma gaivota que paira sobre o mar.
Nota 10, vaga na final e mais uma bateria dramática na carreira do 11 vezes campeão.
Drama é uma palavra que já não encaixa muito bem no surf de Joel Parkinson.
De forma fria e quase sem cometer erros durante todo o evento, o australiano era claramente o melhor surfista em todos os dias, em todas as condições.
E, como de costume, fazia o mínimo esforço para isso. Joel se apresenta no mar como um ginasta se apresenta nas olimpíadas. Não existe drama enquanto há ação. Em vez disso, o australiano investe em um estilo cada vez mais polido.
Como na ginástica olímpica, sua nota 10 consiste em uma sequência de movimentos perfeitos. E ele conseguiu mais de uma vez.
A pergunta antes da final era: o surf é um esporte de números precisos como a ginástica olímpica ou seria mais emotivo como uma partida de futebol?
Joel, o atleta frio e perfeito, provou do próprio veneno, após dois 10 em fases anteriores, ele não tinha, ou não sabia, mais o que mostrar para inovar além das linhas que já havia desenhado.
Kelly, por outro lado, tinha ainda sobre si todo o drama, não só da semifinal, mas que sempre o acompanha e, agora com 42 anos nas costas, é ainda mais intenso. Ele surfou contra a torcida e os números, mas sabe usar melhor do que ninguém a expectativa como arma.
Foi um ato longo, 40 minutos, mas no final mais uma vez a emoção do bom moço americano triunfou contra a frieza “soviética” do dono da casa, que chegou a pegar a melhor onda da bateria mas foi bloqueado por Kelly, que mesmo andando só metade do caminho que o Joel teria feito dentro do tubo, fez um 7 e tanto.
Epa, não seria ele então o vilão da história? Não importa, Kelly sabe que nessa história quando está no lugar mais alto do pódio, é sempre o mocinho.
Clique aqui para saber mais sobre o trabalho do fotógrafo carioca Luiz Blanco
