Em entrevista ao Waves, o shaper da MB Surfboards, Marcelo Barreira, conta como começou a desenhar e criar pranchas para Ricardo dos Santos, um dos mais talentosos surfistas profissionais brasileiros e exímio tube rider.
O catarinense da Guarda da Embaú está em alta. Com mais uma brilhante temporada havaiana, foi capa de muitas revistas especializadas, com destaque para a Surfing Magazine, e venceu importantes prêmios nacionais e internacionais, como o Wave of the Winter, do site Surfline.
Em 2012, ele venceu a triagem do WCT em Teahupoo, Tahiti, e derrubou nomes como Kelly Slater, Taj Burrow e Jordy Smith no evento principal. De quebra, Ricardinho foi homenageado com o prêmio em memória ao havaiano Andy Irons.
Orgulhoso com as performances do atleta, o shaper Marcelo Barreira comenta o trabalho com Ricardinho e a situação do mercado de prancha no Brasil.
Quando como começou esse trabalho com o Ricardinho?
Começamos em 2005, quando um amigo em comum me apresentou a ele. Fizemos duas pranchas e ele ganhou três campeonatos mirins seguidos com essas pranchas – praia Mole e praia Brava de Itajaí (estaduais amadores) e praia Brava de Floripa (Rip Curl Grom Search). Dali pra frente, percebemos nossa sintonia e trabalhamos com dedicação e seriedade para atingirmos nossos objetivos.
Você ainda acredita que Ricardinho possa entrar na elite mundial pelo WQS? O que faltou para que ele tivesse resultados melhores na divisão de acesso?
Claro que é possível!! Não é mais a prioridade dele, mas todos sabem que se ele entrar será difícil sair, pois o surf dele se encaixa melhor nas ondas do WCT. Faltou um pouco de sorte, fator primordial pra qualquer atleta, e também um WQS com ondas mais parecidas com as do WCT, pois tivemos exemplos de atletas que entraram bem rápido e não duraram nem um ano. Isso prova que não estavam preparados pra disputar a elite, enquanto outros acabaram mudando o foco e viraram free surfers. Mas são os critérios da ASP.
Quais os tipos de prancha Ricardinho costuma usar em picos como Pipe e Teahupoo? E em ondas menores?
Geralmente, para essas ondas pesadas ele sempre leva muitas pranchas entre 6’0” e 7’0”, todas round e round pin, sendo que em Pipe usa até 7’0” e Teahupoo a maior é 6’6, pois a prancha tem que ser muito rápida dentro do tubo e o drop acaba sendo no limite. Mas, como é a especialidade dele, deixamos o equipamento sempre no limite.
Para ondas pequenas, ele usa 5’10” round squash e round. Agora criei uma 5’8” bump squash e ela deve compor seu quiver pra ondas menores.
Qual a situação do mercado de pranchas na atualidade? Melhorou, piorou, continua a mesma coisa?
Sinceramente poderia estar melhor. Estamos atravessando a melhor fase da nossa economia, as pessoas estão conseguindo ter uma estabilidade financeira, permitindo adquirir novos bens. Infelizmente, muitos ainda valorizam e pagam para marcas gringas que são produzidas aqui com os mesmos materiais ou até inferiores aos utilizados pelos principais shapers brasileiros, mas quem paga essas pranchas está preocupado com a marca e não com o material e mão-de-obra. Isso acaba impedindo o crescimento do nosso mercado, pois temos menos recursos pra investir em novos atletas e formar futuros campeões.
A maioria esquece que todos os atletas brasileiros que entraram no WCT estavam usando pranchas nacionais, e se depois mudaram para outros shapers foi por propostas maiores. Mesmo assim, não percebi resultado diferente do que estavam obtendo. Mas cada um sabe o que é melhor pra si.
Tenho orgulho de isso nunca ter influenciado o Ricardinho e ele provou, pois alcança os melhores resultados nas ondas fora do Brasil, então acho que não preciso dizer muita coisa. É só parar pra pensar que hoje em dia os shapers brasileiros estão de igual pra igual com os gringos, assim como a nossa nova geração de surfistas.