Dois amigos, quarenta e poucos anos, sentam no bar. Trabalhadores que lutam pelo leite das crianças, adultos, eles deixam o tempo escorrer um pouco entre as geladas.
O papo circula, lisinho, nas searas do trabalho, política, mulheres e até na paixão pelo futebol. Mas esbarra, e esbarrou por toda a história daquela amizade, nos esportes preferidos.
Nas horas vagas, um é tenista; o outro, surfista.
– Eu não entendo por que você ainda surfa.
– Como assim?
– Surfe é coisa de moleque. Afasta você da postura certa, adulta.
– E tênis, é coisa de quê? Olha que coisa: eu surfo, minha filha joga tênis.
– Vai querer ficar com essa pinta pra sempre?
– Que pinta?
– Pinta de garotão. O que o seu chefe pensa?
– Ele me pergunta como estava o mar.
– Ele pega onda?
– Não, admira quem pega. Sei que dei sorte. No mundo corporativo, a regra ainda é esconder a prancha. Você joga tênis com o seu chefe?
– Jogo.
– Tá.
– Tá o quê?
– Nada, ué.
– Ele me convida, não vou recusar.
– Ganha ou perde?
– Às vezes ganho, às vezes perco.
– Você alivia o cara?
– Ele joga bem, mas eu alivio.
– Perde de propósito?
– Não é isso, só não bato tão forte na bola.
– Hum. Se batesse, ganharia todas?
– Eu aliviaria você também, se quisesse tentar jogar comigo. Se não, perde a graça.
– Eu não quero jogar, mas se eu quisesse, exigiria que jogasse à vera.
– Vera? Lembra a Verinha, aquela que saía com seus amigos surfistas?
– Aquela gata, que você tentou pegar várias vezes e não conseguiu?
– É. Vários tocos. Mas, agora, velho e rico, estou saindo com ela.
– Finalmente. Tenista pegador.
– E o Flamengo, hein? Que fase…
Tulio Brandão é jornalista.