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Uma festa justa

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Prêmio Fluir Waves 2013 lota o tradicional Teatro Oi Casa Grande no Rio de Janeiro (RJ). Foto: Fabio Minduim / Revista Fluir.

O histórico Teatro Casa Grande, palco dos maiores artistas do país, lotou nesta quarta-feira com uma cerimônia diferente, mais informal, de outra arte: o Prêmio Fluir / Waves.

 

Realizar a cerimônia num teatro foi escolha acertada, depois das festas de arromba dos anos anteriores. Surfistas são divertidos, mas o surfe merece liturgia para premiar seus atletas. E nada melhor que ver uma cerimônia em que prevaleceram prêmios justos.

 

A noite foi de Adriano de Souza, o surfista mais brasileiro que o mundo já conheceu, que a cada vitória na vida prova ao mundo que a combinação de talento com foco e comprometimento move todas as montanhas do mundo.

 

Adriano foi à festa e, na quinta-feira, estava concentrado o suficiente para vencer com folgas no round 1 do Billabong Rio Pro.

 

 

Adriano de Souza leva prêmio de melhor surfista e Fernanda Lima rouba a cena com seu charme, elegância e descontração. Foto: Fabio Minduim / Revista Fluir.

Adriano conquistou pela quarta vez um prêmio que, por enquanto, parece seu por direito. Ricardinho dos Santos mereceria a deferência pelo que vez em ondas pesadas em 2012, mas a vitória de Mineiro em Bells, embora tenha ocorrido em 2013, pesou muito na balança.

 

Na falta do título principal, Ricardinho levou, com sobras, o tubo do ano, que já lhe rendeu prêmios em tudo o que é canto do mundo. Ele ainda vai ganhar o prêmio principal.

 

Gabriel Medina ficou em segundo na corrida de melhor surfista do ano e ganhou nas categorias melhor manobra e melhor capa da Fluir, mas não compareceu à festa.

 

O garoto é extremamente talentoso, um fora de série marcado para ser campeão do mundo e favorito ao Billabong Rio Pro, onde já abriu com excelente performance nesta quinta-feira, passando direto ao round 3 com a maior média do dia. Mas sua ausência na festa foi, de meu ponto de vista, uma bola fora.

 

O prêmio é a celebração máxima do surfe, uma festa em homenagem ao esporte que ele tão bem representa. Ganhar ou perder, neste caso, tem importância relativa. O que importa mesmo é estar ali, prestigiar o meio de onde ele veio.

 

Como bem disse Fernanda Lima, que aliás arrebentou como apresentadora da noite, diante de um representante do Gabriel Medina subindo no palco: “Quando vejo o Fernando (que foi à festa para pegar os troféus do garoto) me dá uma decepção!” O tom era de brincadeira, mas ela falava por todo o público que estava no teatro.

 

A noite foi também de Raimundo Pena, empresário brasileiro que assombrou o mercado ao contratar Adriano de Souza. Pena levou o prêmio de melhor anúncio e viu seus dois principais patrocinados – Mineiro e Danilo Couto – levarem em suas categorias.

 

Danilo foi outro dono da noite. Ganhou o prêmio que faltou na noite do Billabong XXL, embora tenha surfado as maiores ondas do ano. Ano a ano, ele se mostra um surfista maduro, pronto para estar sempre entre os melhores do mundo nos maiores dias do inverno.

 

Silvana, a eterna melhor entre as mulheres, emocionou o público e os apresentadores da festa, Fernanda Lima e Ricardo Bocão. No discurso, falou de todas as dificuldades que enfrenta, entre contusões e falta de patrocínio, apesar de estar entre as melhores do mundo. Fernanda ficou tão tocada que, publicamente, disse que tentaria ajudá-la com algum patrocínio.

 

Isso, claro, sem falar da mais óbvia das parcerias, de cearense com cearense, entre Pena e Silvana. Quando a surfista estava no palco, o público gritou: “Vai, Pena!” Ele riu, mas prometeu nada. Quem sabe, após tantas homenagens e prêmios, ele não acorde com Silvana na cabeça?

 

Filipinho Toledo saiu com o título obrigatório de revelação do ano e, para o público, teria vencido também o de melhor manobra. Fica a impressão de que o garoto vai estar por muitos anos naquele palco.

 

A festa premiou ainda o histórico fotógrafo Sebastian Rojas, que levou o prêmio especial Pepê Lopes pela sua contribuição com o esporte. Sua obra é um rico resumo de uma parte importante da história do surfe brasileiro. Uma nota também para Clemente Coutinho, craque especializado em revelar o olhar do Nordeste, que levou a melhor foto.

 

Phil Rajzman subiu mais uma vez no palco para levar o troféu que daqui a pouco ganha o seu nome, de melhor longboarder. Mas, desta vez, em vez de pedir patrocínio, desceu do palco patrocinado por uma marca de açaí que deu apoio ao evento.

 

Ainda teve espaço para Felipe Cesarano, o Gordo, que leva pela terceira vez o título de vaca do ano e, prova, por um caminho contrário, que está apto a outros títulos. Algo me diz que ele sobe no palco novamente ano que vem, dessa vez para levantar o troféu de melhor big rider.


Tulio Brandão é jornalista

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".