No começo de abril, fiquei monitorando o swell no Pacífico Sul por meio de um site americano de navegação.
Com o reforço das palavras de Luisito – big rider da nova geração peruana -, me joguei de ultima hora.
Cheguei à Punta Hermosa a tempo de pegar o primeiro swell.
Hoje em dia, vou ao Peru para surfar em Pico Alto. Lugar onde encontro paz até nos caldos.
Na primeira queda, a formação era muito boa, com sol e ondas de até 4 metros.
Peguei a 9`6“e fui pra água. No momento que cai, havia só mais seis peruanos e a galera do jet-ski saindo.
Pude avistar uma série em minha direção e, como estava posicionado sozinho, remei para minha primeira onda.
Aos gritos, sai voando do lip ainda tentando completar o air drop. Tomei o caldo e o resto da série na cabeça.
Quando achei que estava tudo sob controle, a cordinha saiu. Tinha um cara do meu lado que saiu nadando também. Jaime Venegas, experiente local do pico, passou ao meu lado e ficou no apoio.
Depois de uma natação muito longa, sai pelas pedras e recebi a minha prancha intacta.
Agradeci e fui para casa consciente de que sem um jet-ski não tinha mais condição física para remar tanto.
Cheguei à pousada e encontrei Pedro Calado, que me chamou para cair à tarde, mas acabou indo sozinho.
Foi em Pico Alto que tive o prazer de assistir pela primeira vez o drop de Calado. O garoto mostrou que não foi à toa a revelação do big surf com apenas 17 anos.
Parabéns a iniciativa do Felipe “Gordo” Cesarano, que promoveu Pedro Calado por merecimento.
No dia seguinte, ganhei um presente: surfar em Punta Rocas, com ondas de até 3 metros. Meu colega Oscar Devittta registrou tudo.
Até gravei um vídeo sobre a condição clássica. No Brasil, com aquelas ondas, iria ficar bem complicado para o surf.
Na sexta, chegou o Gordo, acompanhado de Pedro Manga e Carlos Burle. Eles levaram na bagagem o big rider Pedro Scooby e uma equipe de produção de vídeo de um canal de TV. Fiz uma parceria com o pessoal, emprestei minha câmera e fui pegar onda.
A previsão acertou novamente e durante todo o dia de sábado rolaram altas ondas de 4, 5 a 6 metros. O sol ajudou bastante no visual e tivemos incríveis finais de tardes.
Domingo, o mar baixou com séries de no máximo 3,5 metros e parti no meio minha 9`6“ logo na última onda. Procurei, mas não achei a outra parte.
Às vezes, passamos por uma tempestade e nada acontece. E, quando estamos na sombra, cai um coco na cabeça. Acontece.
Agradeço a Deus e a todos que participaram da trip. O surf ao lado do Pedro Manga depois de tanto tempo, ao treinamento e palestra que fiz com Karoline Meyer – dona de oito quebras de recorde mundial em apnéia.
Estou desenhando um mapa de Pico Alto e aqui segue algumas dicas básicas depois de muitos caldos e alguns posicionamentos perigosos na bancada.
Se for surfar à tarde, saiba que mesmo não estando sozinho, a natação é longa (mais de 1 km) e o máximo que teu amigo pode fazer é te acompanhar e emprestar a prancha para descansar – no caso de não ter um jet pra resgate.
É recomendável que ao sair nadando você siga em direção às duas pedras “cabeçudas”. A ideia é sair no meio delas evitando o canal e a corrente de retorno.
Certeza de que está com o condicionamento físico e mental em perfeito estado. Um caldo neste lugar é bem pesado.
Busque um ponto em terra firme para ter um bom posicionamento no outside. Esse ponto pode variar conforme o tamanho e a direção do swell.
Respeite a galera local, eles são amigáveis. Em ondas grandes não existem grandes rivalidades, são grandes parcerias.
No mais, quando a série bater no horizonte reme com confiança e tranquilidade.
O freesurfer e fotógrafo David Nagamini é correspondente do Waves e tem apoio da Fluel Wetsuits em Garopaba (SC).