Espêice Fia

Evolução X Atividades de Risco

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Banzai Skate Park, North Shore de Oahu: opção e risco nos dias de flat. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Que o Sk8 é um esporte de risco ninguém discute e que também é uma excelente forma de manter a forma nos dias de flat e de evolução pro surf, também não se discute. Cada vez mais atletas que tem base no carrinho, tem uma vantagem.

 

Nos dias de hoje, principalmente com toda esta busca pela evolução acima do lip, andar de sk8 ajuda, instiga, inova, aflora a percepção. Mas é uma atividade esportiva de risco para deixar o camarada fora d’água se algo sair errado.

 

Afinal, ali não estamos na praia Mole, estamos na praia “Dura”. Outro dia, estava pensando em alguns contratos que já vi e assinei, e existiam cláusulas em que jogar bola e andar de Sk8, entre outras, caracterizava atividade de risco. E caso ocorresse algo e o atleta ficasse fora d’água devido a algum episódio, viiam represálias financeiras em forma de multa.

 

Há pouco li também uma matéria sobre Christian Fletcher e que relatava a importância do Sk8 em sua carreira. Vi isso ao vivo nos anos 90, quando em algumas provas ele esteve presente, principalmente em Huntington Beach e nas temporadas havaianas.

 

Eram muitos aéreos. E aéreos altos. A evolução veio e muitos outros que adotaram a esportividade dupla colheram seus frutos. Para aqueles que competem nos circuitos e têm a obrigação de segui-los em pelo menos 80 %, não vou dizer que não é arriscado, mas menos mal se machucar em reefs do que em uma pista, pois isso pode causar indecisões e culpa.

 

Não vou liderar um ato de “go skating”, mas digo que andar com cuidado e, com os devidos equipamentos, colhe-se frutos. Hoje o surf tá muito mais profissional e cada vez mais sobe a escada. Na época dos Z’boys era diferente, não havia compromisso, a não ser a evolução, a curtição de uma coisa que viria a bombar no futuro, tanto na linha do cimento quanto na água.

 

Leia-se Larry Bertleman, por exemplo. Lembro que no meio da vida útil do circuito Super Surf, o Sk8 andou lado a lado. Várias etapas tinham uma mini ramp na praia, atrás ou ao lado do palanque. Foi quando o Sk8 começou seu novo boom, em crescente até hoje. Ao ter suas histórias alinhadas, era prato cheio para as pautas de imprensa como também é claro, a própria motivação da galera.

 

Lembro-me de muitos andando. Marcelo Trekinho era um dos mais ativos, como Jano Belo e Binho Nunes, que vivia no centro do RTMF, polo do Sk8 em Floripa, quando Pedro Barros ainda engatinhava.

 

Era comum a presença de renomados skatistas nas etapas e lembro muito do time da Reef, com a presença de Otávio Neto e Biano Biachin. Pelas provas no mundo, passando por Durban, na África do Sul, o Gateway Shopping Center tinha um belo Sk8 park.

 

Ali a galera andava. Além dos citados, lembro de Jorge Spaner andando muito bem. Neste mesmo shopping, existia a Wave House, ou seja, piscinas de ondas artificiais, que não era a mais parecida com nossa praia.

 

Em superfície dura e de água corrente em profundidade a cerca de uma polegada onde as pranchas eram sem quilhas, nosso esporte andava diferente, mas propício para excelentes performances para praticantes de Snow Board ou Wake Board, por exemplo.

 

Mas ali, pelo que comprovei pessoalmente, o risco parecia ser maior que ao andar de Sk8 de forma contida. Durante anos vi amigos indo ao Wave Park e se machucarem, ficando de fora do evento ou competindo com alguma contusão.

 

No dia em que decidi ir à Wave House, ao vacar dei uma cabeçada que senti aquela sensação de televisão saindo do ar. Sabe aquela imagem chuviscada? Vi e tive esta sensação. Ali teve nego que quebrou clavícula, tornozelo, deslocou ombro e por aí vai…

 

Voltando ao Sk8, lembro de uma etapa onde rachei casa com o havaiano TJ Baron. O cara causou espanto ao chegar ao pico com uma tala de carbono no pulso. O que foi isso, TJ? Vaquei no Sk8 Park de Pipeline, disse.  

 

Park que hoje em dia tem Kalani David “pintando o sete”. Bom, nessa altura pensei em quando eu e Teco Padaratz fomos a Santa Cruz pela primeira vez em 1989. Cada um comprou um carrinho da marca de mesmo nome e nossos rolês a partir dali não foram tão dignos de boas memórias.

 

Na primeira semana, ao saltar em uma calçada, a rodinha travou e acabei caindo embaixo de um carro estacionado: me ralei inteiro. Mas pior foi o Teco, pois assim que chegamos a Bells Beach, foi tentar dropar o half em frente à loja da Rip Curl e, por não ter jogado o peso pra baixo, acabou caindo e batendo fortemente o pulso no chão.

 

Obteve uma rachadura e teve de surfar de tala, que o prejudicava bastante na remada. Foi o bastante para interrompermos nossas ideias de levar sk8s pelo resto de nossas carreiras.

 

Casos à parte, os rolês de Carve Board e os longs, sempre existiram, pois como disse só o fato de acelerar, também já dá uma boa base, dá um condicionamento. E se for a um bowl ou em um half, mesmo que não existam drops, melhor ainda.  

 

Então vai, esqueçam o que disse, go skating!

 

 

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.