Na Fluir de julho, li uma entrevista feita por Alceu Toledo Junior com Paul Speaker, CEO da ASP e um dos proprietários da empresa de marketing esportivo ZoSea, que vem assumindo o controle da ASP e promete fortalecer de vez o trabalho da entidade em 2014.
Fiquei com a impressão de que agora realmente as coisas irão mudar. Saí do circuito em 2003, parei de competir profissionalmente em 2009. Não tenho acompanhado as etapas ao vivo nos picos, apenas pela internet, mas acho que de uns três anos pra cá o surfista vem sendo bem valorizado.
As estrelas dos eventos têm sido bem mais valorizadas. Ufa, demorou, não sentia isso quando estava no tour. Sempre ficávamos questionando o quanto nós, surfistas, tantas vezes ficávamos em segundo plano – exceto quando estava na ponta -, seja em uma área para estacionar o carro, uma boa área vip no evento, um lugar onde não passássemos frio ou calor e outras coisas mais simples.
Não frequentava muito as reuniões, mas, sempre que ia, escutava a busca de um tal de “umbrella sponsor” (patrocinador guarda-chuva), ou seja, um grande patrocinador que abraçasse tudo. Não conheço mais a cúpula, pois, como disse, estou afastado, mas o tal do “Paulo Alto-Falante” (Paul Speaker) parece ter voz firme. Já foi diretor de marketing no futebol americano e transparece muitas intenções, ou pelo menos foi isso que li na entrevista feita por Alceu.
Gostei da afirmativa na qua Paul relata que será contratado um pessoal da melhor qualidade, ou seja, profissionais para cada ramo. E isso somando-se ao pessoal do staff original, pessoas que há anos vêm junto com o surf e jamais merecem ficar de fora. Isso também porque o surf é um esporte diferente, precisa ser diferente e acho que isso é o que a turma vai explorar.
Um dos pontos positivos é a preocupação com a aposentadoria, assunto do qual falamos e reclamamos no passado. Algumas vezes cheguei a comentar isso com Renato Hickel (ex-head-judge e hoje tour manager). No mínimo poderíamos ter travado parte da premiação de cada surfista para um fundo próprio, visando o momento em que esse ou aquele atleta parasse de competir.
E isso estende-se também aos eventos menores do WQS e outras competições, pois nem todos permaneciam no circuito principal por muito tempo e talvez vieram a entrar por uma única temporada, mas permaneceram brigando e também dando espetáculo durante parte de suas vidas na divisão de acesso.
Em épocas árduas, durante um certo ano emprestamos parte de nossa premiação recebida em eventos para a própria entidade, e quando recebemos de volta, tempos depois (há dois anos), foi um “extra” que veio em boa hora. Lembro que nas antigas, em alguns eventos do circuito americano no qual surfistas amadores participavam, caso alguém ganhasse grana, o valor seria depositado em uma conta para ser resgastado quando o cara virasse profissional.
Por mais que o tempo passe, sempre dissemos que o esporte é novo. As coisas estão sendo criadas e até que enfim escutei alguém falar no lance da aposentadoria para os surfistas.
Vivi e vivo do esporte desde o ano de 1987. Já entrei em uma época bem melhor que as nossas gerações anteriores. Pra se ter uma ideia, quando perdíamos de “prima” no round do dinheiro, recebíamos US$ 500, mesmo valor do prêmio de primeiro lugar no início das competições de surf.
Hoje deve estar bem melhor. Quando parei, quem perdia na primeira participação recebia de US$ 4 a US$ 5 mil. Hoje este valor chegou aos US$ 8 mil no WCT, mas os custos também aumentaram. Quem não tem um patrocinador fica apertado para correr atrás nos circuitos.
Ainda presenciamos isso: atletas do WCT que estão sem patrocínio e, mesmo com a premiação recebida, não conseguem pagar suas contas e seguir o tour. E é esse um dos tópicos que penso que a cúpula deva também estar se preocupando.
O surf é um esporte “novo”, “diferente”. Espero que o futuro seja bem mais promissor.