A vida de um adulto que pretende seguir a vida de surfista amador é dura. A frase parece absurda para quem não sabe como as remadas exigem do corpo ou desconhece o drama da imprevisibilidade das ondas, especialmente as brasileiras.
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Tenho poucos amigos que conseguem combinar os dois mundos – o da difícil vida de um surfista amador dedicado e de um profissional ativo no mundo real das horas extras, salário no fim do mês, contas a pagar e prestações de um Corcel 73.
Um deles, Bezinho Otero, 33, foi muito além. Resolveu subverter o tempo, brincar com as aparentes limitações da vida. Decidiu que seria profissional em dois mundos: no SUP e numa grande entidade esportiva, onde trabalha no horário comercial como gerente de projetos.
Não tem mistério. O que tem, e muita, é vontade. Ele acorda, religiosamente, todos os dias, às 6h. Sem despertador, sem nada. Tem uma regra militar: sempre sai de casa, seja lá para o que for. Se tiver onda, ele surfa com o SUP. Flat, vai dar uma remada. Quando tudo está ruim, ele corre na praia.
Para facilitar a vida, mudou-se com a mulher para a Barra, bairro de waterman, onde tem mais constância de onda e área para remada nas lagoas.
Às 8h30min, ele já está de calça e camisa sociais, pronto para o dia de batente. Chega energizado no trampo. Rala o dia inteiro, na pressão corporativa da entrega de resultados, mas sempre de olho nos mapas meteorológicos de previsão de ondas.
Disciplinado, planeja minuciosamente a carreira. Produz seus próprios vídeos com equipamento de qualidade, faz viagens constantes para os melhores picos do mundo e treina o suficiente para brigar contra os melhores de igual para igual.
Assim, sem pressão por resultados, Bezinho foi campeão carioca de SUP Wave em 2012, ganhou a categoria surfboard amadora (12 pés) no Battle of the Paddle (Califórnia), ficou em terceiro no Rei de Búzios 2013 (categoria 14 pés) e corre o circuito mundial wave.
Nem precisaria. Os patrocinadores – Wollner, Bibi Sucos, SUP Flex e Hotstick – identificam nele exatamente o valor que me fez escrever o texto: a capacidade de circular entre dois mundos e formar opinião através da exposição de mídia.
Bezinho domina a editoria de comportamento de jornais e revistas. Além de web séries, clipes e outros vídeos, ele produz eventos como o carnasup, já remou em Veneza, nas corredeiras de Foz do Iguaçu e em uma pá de outros cenários interessantes para ele, como atleta, e para a mídia.
Agora, vai encarar o que talvez seja a maior e melhor onda da vida: o primeiro filho. Ele sabe que é hora de treinar para se dividir não mais em dois, e sim em três mundos.